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Socielas: podcast aborda empreendedorismo feminino na zona sul de SP

Tainá Ferreira e Fábio Cardoso comandam o projeto desde 2022 no distrito da Pedreira; entrevistas são exibidas no YouTube

7 abr 2023 - 05h00
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Produzir podcast já tinha sido uma experiência para Tainá Ferreira, 26, durante o curso de rádio e TV do Senac. Ela só não imaginava que pouco tempo depois fosse continuar no ramo e ainda como apresentadora. O novo desafio na carreira só foi possível pela parceria que teve com o produtor audiovisual Fábio Cardoso, 28.

Residentes do Jardim Apurá, no distrito da Pedreira, zona sul de São Paulo, eles se conheceram após o convite de Tainá para Fábio participar como entrevistado de um trabalho do curso. Desde então, ao perceberem que partilhavam dos mesmos ideais, não pararam mais de se falar.

Tainá e Fábio se conheceram quando a apresentadora estava no curso de rádio e TV
Tainá e Fábio se conheceram quando a apresentadora estava no curso de rádio e TV
Foto: Wellington Nascimento/Agência Mural

Fábio já comandava o Social Podcast, voltado a empreendedores, artistas e atletas da região, desde janeiro de 2021. Dentre alguns curtas-metragens e quadros que produziram juntos, no ano passado ele teve a ideia de lançar um novo projeto, dessa vez só com mulheres.

“A gente tinha resistência por parte das mulheres em trocar ideia. Não sei se elas ficavam inseguras em conversar com dois homens”, explica o produtor. O outro rapaz mencionado é o fotógrafo Eduardo Cruz, 28, co-fundador do Social Podcast.

Assim surgiu o Socielas, podcast voltado para o público feminino e que ajuda a divulgar o trabalho de mulheres empreendedoras das periferias. O nicho de empreendedorismo foi escolhido por Tainá, que diz sempre procurar profissões diferentes para abordar nas entrevistas. O primeiro episódio foi gravado em outubro de 2022.

Todo esforço para fazer o Socielas acontecer fica nas mãos do casal, que também estão em um relacionamento de um ano e três meses. Enquanto Fábio cuida da parte técnica, operando as câmeras e checando o áudio dos microfones, ela seleciona as entrevistadas, prepara o roteiro do bate-papo e apresenta o programa. 

O incentivo para Tainá apresentar o podcast veio do namorado e parceiro no projeto
O incentivo para Tainá apresentar o podcast veio do namorado e parceiro no projeto
Foto: Wellington Nascimento/Agência Mural

Duas vezes por semana, empreendedoras são convidadas para contar a própria história e a do negócio. Boa parte delas é de Diadema, na Grande São Paulo, da Cidade Ademar, na zona sul, e também da Pedreira, onde fica o estúdio de gravação.

Incentivada pelo namorado a ser apresentadora, Tainá relata que teve dificuldades no início da nova função, principalmente na parte do roteiro e de lidar com convidadas mais tímidas ao vivo. “No gravado você tem o controle, mas em tempo real tem que ter jogo de cintura”, diz.

Mesmo com poucos episódios até o momento, o Socielas tem tido impacto positivo em alguns empreendimentos que foram divulgados no programa. Um exemplo deles é o da Patrícia Nascimento, 32, dona da Matburger, hamburgueria artesanal do Jardim Apurá.

Após a participação, ela comenta sobre o alcance que ganhou com o seu comércio. “Além de surgirem novos clientes, teve hamburgueria que virou nossa parceira comercial. Também me fez conhecer outros comércios da região e ajudou a fortalecer a marca para pessoas que já compravam com a gente”, conta Patrícia.

Para a fotógrafa Soana Beatriz, 28, falar sobre o trabalho no podcast é uma forma de aproximação do público, que muitas vezes não é possível pelas redes sociais, como o Instagram. “Aqui a pessoa conhece a sua essência, como você se porta e dá risada”, exemplifica.

Tainá Ferreira (à esq.) e Soana Beatriz (à dir.) em uma entrevista do Socielas
Tainá Ferreira (à esq.) e Soana Beatriz (à dir.) em uma entrevista do Socielas
Foto: Wellington Nascimento/Agência Mural

Fazer podcast de periferia para periferia tem alguns desafios, ainda mais quando está no começo. Uma das principais dificuldades relatadas por Fábio é justamente convencer as pessoas a participarem do projeto. “Tem que fazer com que as pessoas daqui se interessem por algo que é feito aqui. É trazer o sentimento de pertencer ao bairro.”

Outro ponto importante é a parte financeira, seja para obter melhores equipamentos de gravação ou para cobrir despesas. Hoje o Socielas e o Social Podcast contam com sete patrocinadores que bancam os custos da internet, água e luz, do aluguel do estúdio e de lanches para os convidados.

Mesmo com as ajudas, Tainá comenta que não há retorno financeiro dos podcasts para o casal no momento. “Quando sobra, é para investir mais.”

Tendo que conciliar a rotina entre o trabalho, a faculdade de produção audiovisual e o Socielas, há duas inspirações que não a deixam parar: a família e sentir a felicidade das empreendedoras ao serem entrevistadas.

“Minha mãe, Delmira Ferreira, 43, é minha fã número um. Quando estou desanimada, lembro da minha família e do incentivo que eles me dão, e aí penso que não posso parar”, diz.

As entrevistas do Socielas acontecem nas sextas e sábados, ao vivo, no canal do YouTube do Social Podcast, que tem o bate-papo às terças e quartas. De acordo com Fábio, em 2022, o canal chegou a 100 mil visualizações com os dois projetos.

Social Podcast

A estrutura utilizada pelo Socielas é a mesma do Social Podcast, que também atua nos distritos de Cidade Ademar e Pedreira. A ideia dos amigos Fábio e Eduardo em fazer um podcast surgiu despretensiosamente, após ficarem sem trabalho e observarem o crescimento do ramo no mercado durante a pandemia de Covid-19.

Fábio Cardoso, fundador e apresentador do Social Podcast
Fábio Cardoso, fundador e apresentador do Social Podcast
Foto: Wellington Nascimento/Agência Mural

No início, a câmera utilizada era de celular e o estúdio era o quarto da casa de Eduardo. Após gravarem alguns episódios, perceberam que as pessoas tinham boas histórias para contar.

“Eram pessoas anônimas da quebrada que nunca tinham sido ouvidas com histórias nem mais e nem menos importantes de quem tá no mainstream. Então fomos criando esse senso de missão que é dar voz à periferia”, conta Fábio.

Com o passar do tempo, a dupla começou a investir em melhores equipamentos que são utilizados até hoje. Em fevereiro do ano passado, ganharam a companhia de Jhonathan Marinho, 28, que ficou responsável pela parte da produção. Em outubro, se mudaram para o atual estúdio de gravação, onde dividem o aluguel com o jornal local Alvarenga TV.

O Social também cobre eventos da região e realiza ações sociais. Neste ano, participou da Expo Favela e está com um projeto chamado “Social Educa” que ensina 10 jovens periféricos a produzirem o próprio podcast. A ação veio através do fomento do governo estadual após o projeto ser um dos selecionados da competição de quebrada chamada “Realiza, Perifa!”.

Agência Mural
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