Desigualdade: crise climática afeta principalmente a periferia
São os mais empobrecidos que vão sofrer com as consequências da produção insustentável de origem animal
As consequências dos impactos ambientais afetarão, principalmente, as populações socialmente vulneráveis vivendo em regiões com escassez de recursos. Por isso, o cuidado com o meio ambiente é uma questão de altíssima relevância.
Diversos fatores, como a degradação do solo, o desmatamento, a produção excessiva de gases de efeito estufa – como metano (CH4) e gás carbônico (CO2) – e o consumo excessivo de água contribuem para o aquecimento global, para queimadas, poluição, enchentes e secas. E, sem dúvida, a produção de ‘’alimentos’’ de origem animal é uma das principais responsáveis por esses fatores.
Todos os processos envolvidos na produção de carne, leite e ovos, estão relacionados a uma forte pegada de destruição ambiental, desde o desmatamento para a formação de pasto, até a produção de grãos e cereais para alimentar esses animais, sobretudo quando o assunto é carne bovina. Segundo estimativas do Observatório do Clima, a agropecuária é responsável por 17% de todos os gases do efeito-estufa do Brasil.
Recentemente foi realizada uma pesquisa na Universidade de Oxford que mostrou que a produção de carne bovina, dentre todos os alimentos, é a que emite mais gases de efeito estufa.
No Brasil, milhões de hectares de vegetação nativa, em ecossistemas como a Amazônia e o Cerrado, foram perdidos para o cultivo de grãos e cereais usados predominantemente como ração para animais – no mundo, cerca de 83% de toda produção agrícola é destinada para alimentar animais de criação.
A preocupação com o meio ambiente tem relação com o impacto que essas mudanças exercem em nossas vidas e, essencialmente, na vida de populações com dificuldades socioeconômicas. Um estudo realizado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, mostrou que o abismo entre as nações mais pobres e as mais ricas do mundo é 25% maior do que seria sem o aquecimento global, entre 1961 e 2010.
Portanto, quando falamos em catástrofes ambientais, não estamos pensando em uma classe abastada e financeiramente estável que tem como se proteger e se eximir das consequências mais severas que podem ocorrer e já estão ocorrendo.
Precisamos dialogar, refletir e entender que a pauta ambiental é extremamente importante, e embora as causas de degradação ambiental sejam multifacetadas, o consumo e produção de ‘’alimentos’’ de origem animal é completamente nocivo ao Planeta Terra. E essa causa não tem nenhuma relação com status ecologicamente correto de pessoas de classe média.
Considerar a produção capitalista de alimentos e os hábitos modernos como sendo responsáveis por parte dos desastres ambientais é se preocupar de forma direta com os problemas sociais. Aliás, não existe nenhum problema que esteja isolado e não esteja em relação e integrado.
É importante compreender que o sistema econômico, a formação dos Estados e o desenvolvimento da forma que está estabelecido atualmente precisa mudar. O intuito com esse texto é trazer uma reflexão e apontamentos do quão prejudicial é o consumo e a criação de animais, tanto no âmbito individual quanto no âmbito estrutural e coletivo.
Não existe uma imposição de mudança de hábito ou uma obrigação, mas é preciso refletir, falar e levar em consideração que a forma que estamos nos alimentando e a forma que se produz alimentos hoje é nociva e degradante, e pode nos levar ao um desastre irreversível sem precedentes, tornando os problemas sociais ainda mais graves.
Se liga:
Não podemos culpabilizar indivíduos (consumo individual) em situação de pobreza e miséria pela destruição ambiental. Temos consciência de que o sistema da forma como ele está estruturado, impacta completamente nas nossas decisões, escolhas e ações. Justamente por conta disso, é necessário abordar tal assunto de forma contextualizada, com responsabilidade e compreendendo que não são atitudes individuais tomadas de forma isolada que irão resolver nossos problemas ambientais. Ao nosso ver, é justo alinhar ações individuais práticas que sejam entendidas dentro de uma coletividade e a busca por uma mudança no sistema político, econômico e social.
FONTES:
https://www.svb.org.br/livros/impactos-alimentacao.pdf
Carne produzida localmente: Poore & Nemecek, 2018
Produção agrícola 83% e 26% de toda terra firme: Poore & Nemecek, 2018