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“Preconceito do homem branco é o maior desafio”, diz jogadora indígena

Atacante da etnia Bororo disputa Favelão pela seleção de Mato Grosso e tem em Marta e Neymar suas maiores referências no futebol

15 nov 2022 - 05h00
(atualizado em 7/12/2022 às 17h45)
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Foto: Dario Vasconcelos/Visão do Corre

Em um Brasil de dimensões continentais, não é exagerado dizer que o futebol alcança homens e mulheres do Oiapoque ao Chuí, isto é, do Amapá ao Rio Grande do Sul. Entretanto, para quem tem um olhar de cidade grande com estruturas feitas de cimento e aço, se surpreende ao imaginar que uma jogadora de 18 anos, representante da etnia Bororo, povos originários do Mato Grosso, tenha viajado mais de 1500 quilômetros e esteja em São Paulo para disputar o Favelão.  

Jamyle Kimberrlis Kuwogoreudo, atacante da seleção feminina do estado de Mato Grosso viajou, pela primeira vez, com o filho de apenas um ano de idade em busca do sonho de ser campeã de um torneio tão importante. Aliás, de acordo com a jogadora, estar na capital paulistana disputando a segunda etapa do maior torneio de futebol entre favelas do mundo, idealizado pela Central Única das Favelas (Cufa), é sinônimo de superação e quebra de alguns preconceitos.  

Ao chegar em São Paulo a delegação de Mato Grosso fez uma parada na praia. Jogadoras como Jamyle, que nunca havia ido à praia, tiveram a oportunidade de ficar diante da imensidão do mar. O fato de os indígenas não ter o costume de sair com frequência das aldeias, seja pra jogar futebol ou realizar outras atividades, sempre que Jamyle saiu foi vítima de preconceito por parte das adversárias e, de acordo com a Bororo, “pelo povo da cidade grande”.  

“O principal desafio para mim, com certeza, foi o preconceito do homem branco. Era muito difícil sair da aldeia para jogar na cidade, porque os indígenas não têm esse costume e ainda tinha que enfrentar o preconceito. Somente em 2017, quando as crianças começaram a estudar fora [da aldeia], é que esta vivência começou a ser experimentada pelo meu povo e eu pude sair um pouco mais para jogar”, revelou a atacante.  

Jamyle começou a jogar bola na aldeia Bororo aos seis anos. A indígena revela que na época jogar com os meninos era quase uma regra por ser a única menina amante do futebol, e foi assim que aprendeu o esporte. Com o passar dos anos, a atacante de Mato Grosso se tornou fã de Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo. Da mesma maneira, o meia atacante Neymar da seleção brasileira foi outra referência que Jamyle se inspirou para continuar no futebol.     

“A Marta e o Neymar são as minhas maiores referências no futebol, mas espero que, assim como eu, outras meninas nunca desistam dos seus sonhos e coloquem a fé e o pensamento positivo na frente dos obstáculos, porque um dia vamos chegar aonde queremos”, finalizou Kuwogoreudo. 

Fonte: Visão do Corre
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