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Obras no Rio Pinheiros criam esgoto a céu aberto na zona sul

Comunidade Morro da Lua sofre com o mau cheiro e temem desabamentos, após ação da Sabesp

17 mai 2022 - 15h41
(atualizado em 18/5/2022 às 16h45)
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Mau cheiro, buracos nas ruas e abalos nas estruturas das casas estão entre os problemas deixados pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) após uma obra do programa Novo Rio Pinheiros no Morro da Lua, na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.

"Foram chegando aqui e quebrando tudo. Aqui nós tínhamos um asfalto, era ruim, mas tínhamos. Fizeram a obra e ficaram aqui os buracos, nós, os moradores, é que estamos tapando", denuncia Olga Próspero, 62, líder comunitária da Associação do Morro da Lua há mais de dez anos.

Olga e os vizinhos vêm usando as redes sociais para denunciar a falta de saneamento básico e assistência social na região. Antes de receber a Agência Mural, ela conseguiu contato com o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) Guilherme Boulos, que visitou a área e prometeu cobrar ações da administração pública.

Vazamento em rua do Morro da Lua, após intervenção feita pela Sabesp @Guilherme Zacarias/Agência Mural
Vazamento em rua do Morro da Lua, após intervenção feita pela Sabesp @Guilherme Zacarias/Agência Mural
Foto: Agência Mural

Segundo relatos dos moradores, no final de janeiro uma equipe da Sabesp chegou no bairro com os equipamentos dizendo que foram autorizados a começar uma obra de canalização de esgoto para o programa Novo Rio Pinheiros, ação do Governo do Estado de São Paulo para revitalizar o rio.

Na prática, o plano prevê conectar mais de 500 mil domicílios à rede de tratamento esgoto da capital até o final de 2022.

Três meses depois, o bairro viveu justamente o oposto: a Sabesp quebrou as ruas para conectar as tubulações da área, mal tapou os buracos e retirou as equipes deixando pra trás um esgoto a céu aberto. Um cano despeja esgoto num barranco próximo às casas dia e noite.

O Rio Pinheiros atravessa a Marginal, que fica a pouco mais de 5 km de distância do Morro da Lua. Apesar da distância, um dos objetivos da obra é conectar a comunidade à rede de saneamento básico da cidade.

"Esse é o rio Pinheiros deles, esse é o rio Pinheiros que a Sabesp veio jogar aqui", diz a líder comunitária apontando para o local em que o esgoto é despejado.

Líder comunitária, Olga tem questionado as ações feitas na região @Guilherme Zacarias/Agência Mural
Líder comunitária, Olga tem questionado as ações feitas na região @Guilherme Zacarias/Agência Mural
Foto: Agência Mural

Outra moradora, Alice*, reclama que além do esgoto à céu aberto, a empresa deixou buracos nas escadas das vielas e rachaduras nas paredes e vigas de sustentação das casas.

"Na escada eles não fizeram nada, foram os moradores que arrumaram", aponta Alice para os buracos e rachaduras na viela.

Em vídeo gravado por um morador, é possível assistir a um dos momentos em que os vizinhos se revezam para tapar buracos que apresentam vazamento de água encanada na rua principal da comunidade. Relatos apontam que os vazamentos começaram após a chegada da equipe da Sabesp.

Segundo dados da própria empresa, Sabesp, em 2021 São Paulo tinha 450 mil imóveis sem saneamento. A zona sul da capital fica em primeiro lugar tendo 138 mil residências sem saneamento.

O Morro da Lua é um bairro entre o Campo Limpo e a Giovanni Gronchi, duas grandes regiões da zona sul. Oficialmente, é parte da Vila Andrade, território com 33,56% dos domicílios em favelas, dentre elas Paraisópolis, de acordo com o Mapa da Desigualdade 2021.

 

As casas começaram a ser construídas nos anos 1990, após a ocupação de famílias que fugiam dos altos custos de aluguéis no período de recessão econômica. O bairro resistiu a pedidos de reintegração de posse e atualmente abriga mais de 5.000 famílias, de acordo com um censo desenvolvido pela própria comunidade.

O terreno abriga torres de transmissão de energia elétrica e dutos de gás.

Sabesp

Após deixar a comunidade sem respostas por meses, a Sabesp respondeu em nota à Agência Mural que as obras foram paralisadas porque dependiam de autorização da empresa que administra os gasodutos instalados na região.

Dias depois do contato da reportagem, a companhia enviou uma equipe para arrumar o asfalto esburacado, mas de acordo com os moradores ouvidos, apenas a entrada da rua principal foi consertada e os estragos maiores permanecem.

A nota da empresa também informa que enviou em abril um projeto à Transpetro, atual gestora dos gasodutos da região, para sanar o lançamento do esgoto na faixa de dutos e que a previsão para o término do projeto é até o final de maio. "A Companhia agora aguarda a autorização para início das obras", alega a empresa.

Dificuldades de acesso

As dificuldades no saneamento básico e estrutura não são os únicos problemas para os moradores. Faltam vagas em escolas e reurbanização do bairro para que o transporte coletivo suba ao morro.

A Orientadora Sócio Educativa da ASES (Associação Semear Esperança Social), Ingrid Mendes de Oliveira França, 25, trabalha na igreja que se encontra no centro do Morro e comenta que algumas crianças assistidas pelas aulas de reforço que são dadas pela instituição, até o momento não conseguiram se matricular na escola.

"Era algo que já estava complicado antes da pandemia, o acesso à creche é bem difícil, então nem todas as crianças têm esse acesso à pré-escola", lembra Ingrid. Um dos critérios para participar do projeto é que a criança esteja matriculada na escola, o que teve que ser repensado pela equipe da associação por causa da falta de vagas.

Falta de asfalto, saneamento básico e vagas em escolas estão entre os problemas no Morro da Lua Falta de asfalto, saneamento básico e vagas em escolas estão entre os problemas no Morro da Lua Falta de asfalto, saneamento básico e vagas em escolas estão entre os problemas no Morro da Lua Falta de asfalto, saneamento básico e vagas em escolas estão entre os problemas no Morro da Lua Falta de asfalto, saneamento básico e vagas em escolas estão entre os problemas no Morro da Lua

A orientadora também comenta que com a volta às aulas presenciais, a superlotação das escolas da região tem se mostrado um obstáculo. "De umas 10 crianças que a gente tinha (sem escola), quatro conseguiram vagas, mas as outras ainda permanecem sem. Uma vez a gente foi conversar com as crianças e elas falaram que as turmas delas têm mais de 30 alunos", diz.

Para resolver esse problema de acesso, uma das soluções propostas pela própria comunidade foi criar uma estrada que liga o bairro às avenidas e escolas, facilitando assim o acesso a carros, motos e vans escolares.

Apesar do esforço, a rua está aberta há cerca de seis anos e precisa ser asfaltada, mas os pedidos dos moradores foram ignorados. Olga comenta que ao entrar em contato com a subprefeitura, pedindo a pavimentação da estrada, ficou sem resposta. "Já fui na prefeitura, já fiz pedido de asfalto, fiz de tudo já e nada. E está aqui desse jeito, nessa situação", aponta.

A educadora social, Renata Silva, 41, também da ASES, observa que essa dificuldade de transporte tem afetado a quase todos os grupos da região. As peruas escolares e outros transportes com fins sociais não sobem o morro, obrigando as famílias a fazer um percurso difícil com as crianças.

"Tem a dificuldade de locomoção. Mulheres grávidas, idosas, pessoas obesas têm que percorrer uma bela subida. E daria para ter um ponto mais em cima"

Em nota, a Prefeitura de São Paulo alega ter solicitado uma vistoria no local. "Estando em conformidade com as leis, os dados serão enviados ao setor competente para elaboração de custo estimado e contratação do projeto de drenagem e pavimentação. Após a elaboração será solicitado o recurso para execução da obra de pavimentação."

Foto: Agência Mural
Agência Mural
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