Coreano dança pagodão baiano e faz sucesso nas redes sociais
Grande alcance dos vídeos e participação do estrangeiro no gênero divide opinião e dançarinos e produtores do do estilo em Salvador
“Samba do Polly, samba Polemiquinho”, esse é sem dúvidas um refrão famoso em Salvador, presente na caixa de som das casas e dos eventos. Mas, é no mínimo surpreendente, encontrar um sul-coreano dançando este e outros hits do pagode baiano, literalmente, do outro lado do mundo. Pois, foi assim que o dançarino Kwon Min-sung, conhecido como Dropmeoff se tornou um fenômeno nas redes sociais.
O pagode baiano é um gênero musical popular nas periferias de Salvador, mas ainda regionalizado e criminalizado. Destes territórios surgiram os grandes nomes do pagodão como Léo Santana, Xandy do Harmonia do Samba e Marcio Vitor do Psirico. Deivison Nascimento, líder da banda Oh Polêmico, autor do “Samba do Polly”, música que viralizou em vídeo do Drop dançando, também vem diretamente de uma periferia, Beiru/Tancredo Neves.
Dançarinas, dançarinos e produtores da cena cultural baiana se dividem na avaliação sobre o sucesso do coreano. Enquanto alguns se manifestam positivamente sobre o conteúdo feito pelo dançarino, sendo importante para o alcance do gênero, outras acreditam que essa é uma forma de importar a cultura baiana mesmo tendo na Bahia tem talentos em abundância.
“Existem diversos dançarinos e dançarinas de pagode na periferia, que muitas vezes não tem nem lugar para ensaiar e dançar, fazendo tudo na rua, mas continuam fazendo. Estão em busca dessa visibilidade e patrocínio para sua arte ter a proporção que poderia. Nada pessoal contra o coreano, acho super engraçado também, mas enquanto valorização da nossa cultura e de quem realmente faz e fez por ela, é bem complicado”, comentou o coletivo de dança Bote Fé nas redes.
A especialista em marketing Nina Rodriguez se posicionou nos comentários do vídeo da campanha do Salvador Shopping, estrelado pelo Drop, chamando atenção para a quantidade de influenciadores, criadores e produtores da cidade que estão precisando de apoio financeiro.
“O cara é massa, mas a cultura é nossa, tem dentro de casa, ao alcance de um direct. Em tempos eleitorais, sabemos o efeito nocivo da conformação, do seguir com a massa ou ficar em cima do muro. Quem tem lugar de fala que use e a gente sabe do que a gente tá falando”, comentou Nina.
Convidado pelo Polêmico, o coreano deve participar do clipe do cantor e tem trazido para o artista uma visibilidade ainda não alcançada, mesmo com o sucesso das suas músicas. Diante disso, Tertuliana Lustosa, cantora da banda de pagodão A Travestis, problematiza o lugar da validação social, sempre vindo de fora, e chama atenção para o apagamento das mulheres nesta cena musical.
“Ainda temos síndrome de estrangeirismo, o que valida a cultura local é sempre o que vem de fora, infelizmente, e também precisamos discutir sobre o atual cenário de apagamento e subalternização dos corpos das mulheres, o binarismo presente na nova geração e a quase total ausência de mulheres se destacando atualmente nos novos hits do paredão”, comentou Tertuliana.
O dançarino Deko Alves complementou: “essa história ela vem de muitos anos atrás, sabe aquela história de sequestro dos nossos ancestrais? Isso aí, "ficamos" com a síndrome do vira- lata e acabamos valorizando tudo que vem de fora e deixamos de potencializar o que de fato nos fortalece! Triste realidade.”