Os produtos ultraprocessados são péssimos para a periferia
O povo está adoecendo e se alimentando muito mal, e os ultraprocessados são protagonistas.
A população periférica está exposta a pântanos e desertos alimentares. Isso significa que a quebrada, ou está cercada de produtos ultraprocessados e com fácil acesso a redes de fast foods, ou distante de locais que fornecem alimentos realmente de qualidade (longe de feiras, varejões e até mesmo mercadinhos com uma sessão de hortifruti).
O consumo de alimentos totalmente alterados pela grande indústria já é um grande problema para as populações periféricas. As doenças crônicas (câncer, diabete e problemas cardiovasculares) são as principais responsáveis pelo adoecimento da população mundial e, sem dúvida, preocupam a saúde pública.
É vendido pela indústria que os produtos ultraprocessados são carregados de vitaminas, e que são essenciais para a nossa alimentação, mas isso já caiu por terra há muito tempo, isso é o que a publicidade vende. Até mesmo o arroz e feijão está perdendo protagonismo na alimentação do povo brasileiro, por conta do aumento e disponibilidade de produtos ultraprocessados.
Não basta apenas dizer para as pessoas mudarem, buscarem informação. É mais do que urgente políticas públicas, que incentivam iniciativas positivas e crie meios para que as populações periféricas sejam estimuladas a consumir comida de verdade, e não esse pseudo alimento da indústria alimentícia. Os ultraprocessados deveriam ser tratados como o cigarro, as embalagens deveriam vir com informações sobre o que esses produtos causam.
Uma alimentação baseada em vegetais fortalece nosso sistema imunológico e nos previne de doenças crônicas. Em contrapartida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), carnes ultraprocessadas, como mortadela, salsicha, linguiça, calabresa, hambúrguer, presunto, bacon, são responsáveis por favorecer o surgimento de tumores e doenças crônicas.
Afinal, o que seria um alimento ultraprocessado? Existem os alimentos In natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados.
In natura são alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes.
Os minimamente processados são alimentos submetidos a pequenas alterações, como embalagem, limpeza, secagem, como mamão picado no isopor, pacote de arroz, feijão, entre outros alimentos.
Os processados são produtos fabricados a partir do alimento natural, mas com a adição de açúcar e/ou sal.
Produtos ultraprocessados são produzidos pela indústria, com pouquíssimo ou nenhum ingrediente natural, com adição de várias substâncias químicas, como aditivos alimentares.
O consumo de ultraprocessados não tem apenas um motivo, ele é multifatorial, inclui desde a falta de políticas públicas até questões amplas como carga horária de trabalho (falta de tempo para cozinhar), falta de recurso financeiro, falta de informação
As questões socioeconômica favorecem de maneira estrutural o acesso a alimentos de baixíssima qualidade e altamente atrativos (propagandas, embalagens coloridas) e dificultam o acesso a alimentos de verdade, oriundos da agricultura familiar.
A falta de tempo, o sabor viciante, o preço acessível, a acessibilidade e a praticidade em comprar e preparar produtos ultraprocessados é o que faz com que as pessoas mais vulneráveis financeiramente optem por esses produtos. Sem a menor capacidade de reflexão ou questionamento, acabam ingerindo produtos ultra-calóricos, com zero nutrientes e muito sal, açúcar, gordura e aditivos químicos. E o responsável, é a estrutura, e não o indivíduo.
Um estudo realizado em 2017 na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, mostrou que, em regiões de média e baixa renda, 87% dos estabelecimentos vendem ultraprocessados. O estudo concluiu que há 22 vezes mais estabelecimentos vendendo produtos ultraprocessados do que alimentos in natura. Por outro lado, a agricultura familiar tem dificuldades em escoar a produção, e a periferia tem dificuldade em encontrar alimentos de qualidade, acessíveis num preço bom para a realidade brasileira.
Quando comparados em estudos, as regiões periféricas apresentam uma menor disponibilidade de produtos in natura (legumes, verduras e frutas), os bairros ricos além de contar com uma população com condições financeiras, conta também com maior disponibilidade de alimentos frescos, diversidade e em abundância.
Isso reforça a desigualdade alimentar que, em suma, é provocada pela desigualdade social e regional.
A luta por uma alimentação mais saudável, por um consumo de alimentos nutritivos e realmente importantes para a saúde do povo (na contramão dos ultraprocessados), passa por diversas frentes. É preciso repensarmos as publicidades, os subsídios do governo, toda a nossa educação alimentar, o acesso à comida de verdade (o fim dos pântanos e desertos alimentares) e a valorização da agricultura familiar por meio de políticas públicas efetivas.
Além da péssima educação, da opressão policial, da dificuldade em ter um acompanhamento médico de qualidade, o que a periferia come, também é responsável pela sua violência cotidiana. A fita é que a população periférica é refém do Estado e, sobretudo, dos magnatas e multibilionários das grandes indústrias.
Fonte: Urban Food Sources and the Challenges of Food Availability According to the Brazilian Dietary Guidelines Recommendations