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De grupo de rap à grife: D.R.R Posse difunde o hip hop na ZL

União de rappers de São Mateus e Iguatemi nos anos 1990, 'Defensores Ritmo Rua' voltaram à ativa após Mano Brown usar um boné da marca na TV

2 mar 2023 - 05h00
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D.R.R Posse é composta por diversos artistas e oferece oficinas na sede do grupo, no bairro 3ª Divisão
D.R.R Posse é composta por diversos artistas e oferece oficinas na sede do grupo, no bairro 3ª Divisão
Foto: Matheus Oliveira/Agência Mural

Em 1992, no Largo São Mateus, zona leste de São Paulo, nascia o que hoje ficaria conhecido como “bonde” ou “firma”. O coletivo D.R.R Posse (sigla para “Defensores Ritmo Rua”) foi formado pelos grupos de hip hop Consciência Humana, De Menos Crime, U.Negro, Fim do Silêncio e Apocalipse Negro, que juntos faziam apresentações nos anos de 1990. 

“A genética do D.R.R é São Mateus. Todos os rappers são da região”, conta Alessandro Almeida Souza, 46, conhecido como Mister Grande-E, um dos fundadores do grupo. Ele é morador do bairro 3ª Divisão, pertencente à subprefeitura de São Mateus e localizado no “fundão do Iguatemi”, também na zona leste. 

“Aqui [no distrito do Iguatemi] a pobreza era imensa. A gente brigava pelo coletivo, pelo saneamento básico, asfalto e condições melhores de vida. Denunciava a violência policial. A gente lutava mesmo”, relata. 

Em 2001, o D.R.R lançou a coletânea “Invadindo o Sistema”. Integrantes da Posse, como o grupo De Menos Crime, chegaram a se apresentar com o Charlie Brown Jr., e o vocalista Mikimba participou do álbum “Nadando com os Tubarões” da banda de Chorão e cia. 

A D.R.R durou até meados dos anos 2000, quando o coletivo saiu de cena devido à prisão de Grande-E, em 1999, a morte do amigo e companheiro de Posse, Pancho, e os caminhos individuais dos integrantes. Era preciso um novo choque para trazer a D.R.R de volta aos holofotes. 

Mister Grande-E segura o boné responsável por reativar as atividades da D.R.R Posse
Mister Grande-E segura o boné responsável por reativar as atividades da D.R.R Posse
Foto: Matheus Oliveira/Agência Mural

“Empurrão” do Mano Brown 

Após quatro anos, Grande-E estava livre novamente. O rapper era b-boy, grafiteiro e trabalhava com serigrafia (impressão de estampas em tecidos). Em 2007, ele fez bonés com o logo da D.R.R Posse e ficou dias na Galeria do Rock, centro comercial localizado na região central da capital, tentando vendê-los – porém, sem sucesso. 

A chave virou quando André Black Blue, antigo produtor dos Racionais MC’s, chamou o vocalista Mano Brown para conhecer o produto. “Ele [o Brown] me disse: ‘loko esse boné, mano. Vê uns quatro desse aí’”, lembra Grande-E, que vendia os acessórios a R$ 35 cada um. 

A mercadoria continuou encalhada. Até que, um mês depois, Black Blue ligou para ele e disse: “põe na TV Cultura que você vai se surpreender”. O rapper colocou na emissora bem na hora que o programa Roda Viva voltava do intervalo comercial. 

“O programa rodou e, quando parou, estava o Mano Brown com o boné da D.R.R. Comecei a gritar: ‘é meu boné’”, relembra Grande-E. 

No dia seguinte, os frequentadores da galeria já perguntavam sobre o item que o rapper tinha usado no programa. Grande-E vendeu todos, dessa vez pelo valor de R$ 50 cada. “Brown maçaricou [alavancou, incentivou] a D.R.R novamente. Ele abriu portas para mim”, conta. 

Referência para novos MCs 

Atualmente, Mister Grande-E está à frente da grife D.R.R Posse, que produz roupas e bonés com estampas do grupo. Quanto à parte musical, o coletivo se mantém na ativa com sete artistas na produção, além de 18 artistas embaixadores espalhados pelo Brasil e Estados Unidos. 

“A D.R.R contribui passando o caminho. É isso que a gente quer fortalecer, porque os moleques estão começando a vida agora e a gente já está há um tempo”, explica Grande-E. Em 2021, ele lançou o single “Digno” pela produtora Crime Family Entertainment, do rapper estadunidense Mr. Criminal. 

A marca também serve de referência para a nova geração de artistas do Iguatemi e de São Mateus. O MC Draks, 25, nome artístico de João Victor Conceição, é um deles. Morador do bairro Recanto Verde do Sol, ele frequentava shows de rap quando criança junto ao padrasto e, aos 10 anos de idade, cantou com Mister Grande-E. 

“Desde sempre foi muito grande a importância da parada [D.R.R Posse], porque o Grande é um cara que pula na bala pelo bagulho [a cultura hip hop]”, conta MC Draks. 

Além da produção musical e da grife, a D.R.R Posse oferece oficinas de serigrafia, MC, DJ, b-boy e corte de cabelo. As aulas são realizadas na sede da posse no bairro 3ª Divisão. Em 2022, foram dois turnos com 20 jovens cada. Para acompanhar quando abrem as novas turmas, acompanhe o grupo no Instagram e no site

Agência Mural
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