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Especial “Humor Negro” ressignifica expressão racista

Gravado em Salvador, projeto inédito reúne grandes nomes da comédia brasileira, como Tia Má e Jhordan Matheus

28 dez 2022 - 05h00
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Gravação do Especial Humor Negro no Teatro Vila Velha, em Salvador
Gravação do Especial Humor Negro no Teatro Vila Velha, em Salvador
Foto: Magali Moraes

A expressão “humor negro” é definida como piada de mal gosto, mórbida e com tom politicamente incorreto. Mas o especial Humor Negro, idealizado por Val Benvindo, propõe ressignificar o termo.

O projeto reuniu seis humoristas negros no Teatro Vila Velha, em Salvador. O programa chegou às telas do Multishow no dia 19 de dezembro e está disponível no Globoplay. 

O show de stand-up é comandado por Tia Má, Sulivã Bispo, João Pimenta, Jhordan Mateus, Niny Magalhães, com participação especial de Evaldo Macarrão. São comediantes que transcrevem nos textos, de forma bem-humorada, suas realidades enquanto pessoas de origem periférica, mulheres e homens negros.  

Reinventar através do riso

“Humor Negro é a nossa resiliência, a nossa capacidade de se reinventar através do riso”, definiu a jornalista e humorista Tia Má.

O espetáculo mescla apresentações de stand-up para plateia e esquetes de situações vividas por esses artistas ao criarem e apresentarem um especial de humor.

Segundo Val Benvindo, idealizadora do festival que deu origem ao projeto, o programa busca ressignificar a expressão “humor negro”. Ela pretende ser entendida como humor feito por pessoas pretas. 

Para João Pimenta, o povo preto sempre precisou ressignificar expressões e comportamentos de violência. “É muito fácil nos chamar de exagerados quando fazemos isso, o que acontece demais, vindo de pessoas que não sofrem as violências que sofremos”.

Para Pimenta, “estamos numa guerra constante contra a opressão e com o humor não é diferente. Tirar a normalização dessa expressão, como algo pejorativo é de extrema importância”, justifica o comediante.

Identificação

A idealizadora, Val Benvindo, considera que as pessoas pretas devem se sentir representadas em diversos espaços. “Ao se ver, uma menina preta pode olhar e pensar: ‘eu posso ser uma mulher preta humorista’. Também pode acreditar e botar o seu projeto em prática”, acredita Val. 

“Para quem sempre é representado, isso pode parecer uma bobagem, mas para quem se acostumou com as ausências, quando tem a presença, acontece um significado muito especial”, complementa Tia Má.

Histórias reais, ao invés de piada

“Eu acredito que o desafio é grande, mas a nossa missão não nos deixa esmorecer. Não é à toa que, agora, a gente está na telona. Esse humor é um humor que conta as nossas verdadeiras histórias. É revolucionário porque fala bem da gente, na contramão do racismo recreativo, que sempre colocou o preto no lugar da piada”, considera Sulivã Bispo.

Ele acrescenta que “humor negro é esse humor com pessoas pretas humoristas bem-vestidas, elegantes com suas tranças, cabelo black power, de terno, paletó, gravata, de guia no pescoço com orixá na cabeça”.

Sobre a cena de stand-up baiana, João Pimenta diz que se caracteriza pela resistência. “Temos gente que veio do movimento estudantil, das periferias, professor de História, gente realmente comprometida em ser geradora de mudança”. Segundo Tia Má, existem talentos para mais 500 edições do Especial Humor Negro. 

Protagonizado por pessoas negras na frente e atrás das telas, o projeto é criado e produzido pela Conspiração. Teve a direção de Rodrigo França, roteiro de Renata Sofia e Jhonatan Marques, direção de fotografia por Luciano Xavier. A direção de arte é de Marcelo Magalhães, figurino de Marie Silva e maquiagem de Beberes.

ANF
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