Quinta, 22 de dezembro de 2003, 11h33
Você já viu uma cobra de duas cabeças?
Texto de Flavio de Barros Molina
Chefe do Setor de Répteis do Zoológico de São Paulo
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Foto: Zoo SP |
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Que bicho estranho! É a cobra de duas cabeças! |
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A imaginação popular é repleta de mitos e lendas e quando o assunto é serpente os produtos da imaginação tornam-se ainda mais férteis. Existem lendas sobre a Medusa e sua cabeça adornada por inúmeras víboras ou a Hidra de Lerna que tinha várias cabeças de serpente!
Há quem jure já ter visto uma cobra de duas cabeças. Será possível? Podemos dizer tratar-se de uma meia verdade. Explicando melhor, existem duas possibilidades.
Vez por outra, jornais sensacionalistas noticiam a existência de uma cobra com duas cabeças, uma do lado direito e outra do lado esquerdo. São casos raros de espécimes teratogênicos, isto é, aberrações do mundo animal, produtos de algum erro geneticamente determinado.
A outra possibilidade é na verdade um fato natural que diz respeito aos anfisbenídeos, répteis serpentiformes (que têm o corpo em forma de serpente), sem patas, que são popularmente conhecidos como cobras de duas cabeças.
Neste caso, que não representa qualquer aberração genética, o animal teria uma cabeça anterior e outra posterior. Claro que isso não é verdade. O fato é que a natureza dotou esses répteis de uma cauda curta, arredondada e muito parecida com uma segunda cabeça.
Assim como muitas pessoas, outros animais, incluindo os predadores em potencial, podem confundir a cauda com a cabeça. Quando molestados, os anfisbenídeos movimentam a cauda como se fosse uma cabeça, chamando ainda mais a atenção do predador. Se tiver de ser atacado, é melhor que isso ocorra na cauda e não na cabeça.
Na verdade, os anfisbenídeos são incluídos no grupo dos lagartos. Como as serpentes, evoluíram a partir de lagartos que viveram há milhões de anos e se adaptaram a uma vida subterrânea. Por isso, têm o corpo roliço, alongado e sem patas.
Ao contrário da maioria das serpentes, que voltaram a viver sobre a terra, as cobras de duas cabeças continuaram apresentando hábitos subterrâneos. São escavadores eficientes, cujo crânio fortemente ossificado é extremamente resistente para forçar a terra quando estão abrindo galerias subterrâneas.
São répteis ovíparos cuja biologia reprodutiva ainda é muito pouco conhecida. Carnívoros, em cativeiro alimentam-se de insetos e recém-nascidos de camundongo. Podem viver por vários anos. No Zoológico de São Paulo é possível conhecer dois exemplares da espécie Amphisbaena alba que lá encontram-se há 15 anos.
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