Religiosos dos EUA poupam ataques a novo Harry Potter
Quinta, 19 de junho de 2003
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Capa
do quinto livro. Foto: Divulgação
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Harry Potter pode respirar mais aliviado - apesar
do malvado lorde Voldemort continuar atazanando
sua vida, advogados, predadores e grupos de família
parecem dispostos a lhe dar uma folga.
Com a chegada do quinto volume da escritora britânica
JK Rowling, Harry Potter e a Ordem da Phoenix,
marcada para sexta-feira, a oposição
ao órfão bruxinho resolveu se calar.
No lançamento anterior de um livro de
Rowling, Harry Potter e o Cálice de
Fogo, o menino-mago tornou-se alvo de muitos
cristãos evangélicos que execravam
a série por seu apetite pela bruxaria e
ocultismo.
Mathew Staver, advogado cristão de Orlando,
abriu um processo contra uma biblioteca pública
por encorajar as crianças a ler os quatro
livros de Potter, argumentando que isso era o
mesmo que pregar a bruxaria, em violação
ao artigo da Constituição norte-americana
que estabelece que o Estado não pode promover
a religião. As escolas e bibliotecas de
todo o país foram criticadas.
"Até um certo ponto, a situação
de Harry Potter morreu", disse Staver, que
não tem planos de abrir processos por enquanto.
O livro do escritor evangélico Richard
Abanes Harry Potter and the Bible (Harry
Potter e a Bíblia) vendeu mais de 100 mil
cópias e estabeleceu sua reputação
como um dos maiores críticos do personagem.
Dois anos depois, ele acredita que o ímpeto
das críticas diminuiu.
"Eu passei da fase. Tenho mais o que fazer",
disse Abanes.
FIM DA QUEIMA DE LIVROS
"Na mídia cristã e na comunidade
cristã há muito menos reações
explícitas ao novo livro. Eu particularmente
não acho que veremos grandes queimas de
livros e manifestações ou processos.
Acho que todo mundo sabe o que pensar sobre Harry
Potter", disse ele.
Os protestos tiveram algum impacto na época,
especialmente no currículo de escolas,
mas não afetaram muito a opinião
pública em geral. Os livros e filmes continuaram
batendo recordes.
A editora de Potter nos Estados Unidos, a Scholastic
Corp., vai publicar 8,5 milhões de cópias
de Phoenix para distribuição
doméstica.
Muitos cristãos conservadores na verdade
gostam do livro, em parte por causa das descrições
das forças do mal, que foram gradualmente
ficando mais fortes - e quase bíblicas
- a cada livro.
Richard Burke, diretor do departamento de língua
inglesa da Faculdade Lynchburg, no Estado de Virgínia,
está entre os acadêmicos que começaram
a acompanhar a ascensão do mal nos livros
de Potter como tema dominante.
Ele diz que as crianças estão sendo
expostas a um conceito de mal bem mais sofisticado
do que o apresentado em videogames, desenhos animados
e filmes, em que o mundo é dividido em
mocinhos e bandidos em constante batalha.
Nos livros de Potter, o mal, personificado por
um mago cruel, lorde Voldemort, é muito
mais misterioso, disse Burke.
Voldemort não aparece muito nas histórias
e o mal é mostrado como uma influência
que corrompe o mundo de Harry.
Steven Vander Ark é bibliotecário
em uma escola cristã no Michigan e webmaster
de um dos maiores sites de Harry Potter na Internet,
o Harry Potter Lexicon. Ele enxerga temas
bíblicos e símbolos clássicos
cristãos na obra de Rowling.
"Não sei se Rowling está tentando
escrever uma fábula cristã, mas
ela não escreve com uma postura atéia
ou neutra", disse Vander Ark. "Ela escreve
livros extremamente morais que mostram que o mal
é real e que temos que nos colocar contra
ele, mesmo a nossas próprias custas."
Reuters
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