Confira, na íntegra, a entrevista com J.K. Rowling
Quarta, 2 de julho de 2003
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Capa do quinto Harry Potter |
J.K. Rowling, autora da série do bruxinho, deu uma entrevista on-line, para a alegria de 4 mil crianças no dia 26, na Inglaterra. Fernando Medina, nosso colunista, participou e traduziu, com comentários, para os internautas.
Muitas crianças estavam ansiosas pelo momento. Uma repórter fazia algumas perguntas para as crianças sobre os personagens favoritos. Houve quem falasse que os personagens preferidos eram o Prof. Snape e o Lord Voldemort. Mas isso era uma exceção: do lado de fora do grande teatro, só se ouviam os gritos "HARRY, HARRY, HARRY". O fato é que a pronúncia deles é diferente do que a nossa. O [A] do "Harry" é pronunciado, enquanto por aqui, no lugar do [A] colocamos um [É], achando erroneamente que assim é o certo.
Entre as aulas preferidas de Hogwarts estão a do quadribol, a de transformação e de criaturas mágicas. Uma menina respondeu que, se pudesse fazer uma única pergunta para o Harry Potter seria como ele faz mágica. "Você acredita em mágica?", pergunta a entrevistadora, ela responde "Eu não sei...". Então chega a escritora Joanne K. Howling e já começa dando autógrafos do lado de fora.
Já dentro do salão gigantesco, com bandeiras da grifinória na parte de cima, o evento começa. Um comediante abre a apresentação, e diz "Estão ouvindo este barulho? Significa que um portal mágico está se abrindo", acende uma grande lareira e um jogo de luzes colore o cenário. Ele então chama pelo apresentador Stephen Fry . Uma fumaça toma o palco escuro e então um estalo e eis que ele surge de dentro da lareira, através da técnica do pó-de-flu, e diz "Oh, aqui estou eu, (...) aqui é o Royal Albert Hall?"
Ele diz: "Vocês já devem saber para que estamos aqui... Estamos aqui para conhecer a escritora mais popular e famosa no mundo inteiro. Vocês estão prontos?" Então, de uma forma menos discreta que o do Stephen, ela entra por uma porta que se abre na vertical. Percebia-se que ela estava surpresa com tanta gente, além de mostrar um jeito humilde. Em meio aos aplausos, eles se sentaram cada uma em uma poltrona, em frente à lareira.
Dentre algumas observações do Stephen, ele pergunta: "Como eu deveria lhe chamar?" Ela responde: "Jo". Em seguida, aproveitando o assunto, ele fez uma pergunta sobre como se pronuncia corretamente o último nome dela e a resposta é que, enquanto todo mundo fala com o [O] aberto, na verdade ele é fechado, quase com um som de [U]. "Agora, vocês terão que dizer depois de mim a palavra R[ou]ling, meninos e meninas...um, dois, três..." E a platéia: "R[OU]LING!". Então Stephen continua: "Se você ouvir alguém, no futuro, dizendo "J.K. R[ó]wling", vocês têm a minha permissão para bater no atrapalhado..., mas não com a 5ª cópia do livro porque isso seria muita maldade. Alguma coisa menor do que o último livro, assim como uma frigideira..." (Jo e a platéia riram)
A seguir, o diálogo que consta no site mugglenet.com do evento no Royal Albert Hall. Tudo o que estiver entre parentes são minhas observações. Tentei fazer exatamente igual ao do site, mas percebi que ele está bem "enxugado".
Stephen Fry -
Nós temos muitas perguntas para fazer. Então vamos a primeira pergunta, de um jovem garoto de não muito longe daqui, ele é de Stevenage, Hertfordshire, e seu nome é James Willians.
James Willians -
Que tipos de livro você leu quando criança e eles inspiraram você a se tornar uma escritora?
J.K. Rowling -
Eu lia absolutamente qualquer coisa. Meus escritores preferidos eram E. Nesbit, C.S. Lewis e eu lia livros adultos também. Eu lia absolutamente qualquer coisa, até o rótulo de caixas de cereais.
Stephen Fry -
Uma das coisas que eu suponho que muitas pessoas gostariam de saber sobre escritores de livros é a pergunta muito básica de como é, mais ou menos, seu dia de trabalho. Eu tenho certeza de que todos os dias não são iguais, isto pode parecer até uma pergunta muito estúpida, mas existem aquelas pessoas que gostariam de perguntar, como "Você usa um computador, ou você escreve com uma caneta?", "Você bebe café ou chá?", "Você ouve música enquanto você escreve?". Nos dê um exemplo como é seu dia.
J.K. Rowling -
Certo. Bem, a minha maneira predileta para escrever era ir para os Cafés. Eu gosto de fazer assim porque eu descobri que estar cercado por pessoas, mesmo que eu não possa conversar com elas enquanto eu escrevo, é muito bom para mim, porque ser uma escritora é ter um trabalho muito, muito só, obviamente. Mas nos dias de hoje eu não posso escrever mais nos Cafés, porque muitas pessoas vêm para mim e ... "Você é aquela mulher, que escreve Harry Potter...", então eu estou escrevendo em casa atualmente, e eu uso muito mais o comutador do que eu usava.
Stephen Fry -
E você ouve música?
J.K. Rowling -
Eu nunca ouço música . Eu acho que a música distrai bastante.
Stephen Fry -
E você bebe chá ou café?
J.K. Rowling -
Eu bebo os dois, em quantidade excessiva.
Stephen Fry -
E só para eu ser um pouco mais chato, e ficarmos sabendo de todos os detalhes... Você começa escrevendo muito cedo e só termina muito tarde? Isso é sua rotina?
J.K. Rowling -
Bem, eu começo o dia levando minha filha para a escola e então eu escrevo até eu ficar com tanta fome que eu não consiga mais me concentrar no computador e eu vou comer um sanduíche, e então eu continuo escrevendo até a Jessica voltar da escola e, algumas vezes, eu escrevo durante a noite.
Stephen Fry -
E depois de um ano ou por volta disso...
J.K. Rowling -
E depois de um ano ou por volta disso eu finalmente penso: "Ooh. Eu finalmente acabei o livro!"
Stephen Fry -
Você vai imprindo enquanto você escreve e lê cada uma dessas páginas impressas?
J.K. Rowling -
Sim, eu imprimo tudo. Eu gasto muito papel.
Stephen Fry -
Agora nós temos uma pergunta da Srta. Anna Beatrice... (Não seria Ana Beatriz...?) Ela é do Rio de Janeiro, no Brasil.
(Por que o fantástico não falou nada disso?)
Anna Beatrice -
Você achou mais difícil para escrever agora que o mundo inteiro estava esperando elo último livro da série Harry Potter?
J.K. Rowling -
Eu não penso que eu achei mais difícil para escrever, mas pode tornar-se um pouco assustador publicar algo atualmente. Olhe onde nós estamos (ela olha pelo Royal Albert Hall). Na primeira leitura que eu tinha feito, havia duas pessoas que pegaram o caminho para o "porão" da Waterstones (livraria famosa por lá) por engano e eram muito educadas para saírem quando viram que alguém estava fazendo uma leitura e eles tinham que colocar todo o Staff (equipe da loja) lá no andar de baixo para "elevar o padrão da loja." Eu estava apavorada. Eu estava tremendo tanto..., eu pulava linhas.
Stephen Fry -
E agora quando você vai a uma livraria fazer uma seção de autógrafos, as pessoas se vestem bem, não?
J.K. Rowling -
Elas se vestem bem sim. A melhor que eu já vi foi uma mulher nos Estados Unidos, vestida como a mulher gorda, num vestido rosa e segurando uma moldura na sua frente. Ela estava fabulosa.
Stephen Fry -
Oh...Pelo visto, nos Estados Unidos eles são mais teatrais do que nós (britânicos), você encontra meninos vestidos de Harry Potter e meninas vestidas de Hermione...
J.K. Rowling -
Muitos garotos se vestiram como Harry... E ultimamente eu percebi que está aumentando o número daqueles que gostam de se vestir igual ao Draco, o que eu estou achando um pouco preocupante...
Stephen Fry -
Agora nós vamos à Manchester, na Inglaterra, onde nós temos uma de Jess Wild.
Jess Wild -
Que conselhos você daria para qualquer criança que pretende se tornar um autor?
J.K. Rowling -
Eu sempre digo a mesma coisa, que é ler o mais que você puder. Nada vai ajudar você tanto como ler e então você entra numa fase que você imitará seus escritores favoritos e isso é bom, pois isso também é uma experiência de leitura e você irá também ter que aceitar que você vai odiar um monte de coisas que você vai escrever antes de você descobrir que você gosta de algo.
Stephen Fry -
Parece que há muitas outras crianças escritoras populares no momento... Você é uma fã de Phillip Pullman?
J.K. Rowling -
Pillip Pullman é fantástico" David Almond, Jacqueline Wilson.
Stephen Fry -
Lemony Snicket… É melhor chamá-lo assim do que mundungus.
J.K. Rowling -
Mundungus, para aqueles que não sabem, significa "tabaco". É uma velha palavra para isso e Mundungus está sempre cheirando seu cachimbo e outras coisas ruins e por isso ele é chamado de mundungus.
Stephen Fry -
Agora vamos a 6 mil milhas daqui, a alguém chamado Lily que mora em Seattle, Washington, Estados Unidos.
Lily -
Que personagem você mais sentiu falta quando você terminou de escrever seu livro?
J.K. Rowling -
Eu, de verdade, senti falta de todos eles, mas eu acho que eu escolho o Harry, porque ele é meu herói, além de haver muito dele em mim.
Stephen Fry -
As pessoas me perguntam qual é meu personagem favorito na leitura dos livros e a resposta é sempre Harry, porque você não escolheu fazer um Fulano de tal e a Ordem de Fênix. È a história de Harry e o crescimento de Harry...
J.K. Rowling -
Exatamente! É a jornada de Harry e os olhos pelos quais você vê o mundo e, por isso, ele é crucial para a história.
Stephen Fry -
Você pode nos relembrar como toda a coisa veio na sua cabeça? Foi somente um passeio de trem?
J.K. Rowling -
Eu estava num trem, indo de Manchester para Londres e eu estava olhando para umas vacas pelas janelas, eu acreditei e eu só pensei: "Menino que não sabe que é bruxo - vai para a escola de bruxos." Eu não tenho a menor idéia de onde veio essa idéia. Eu acho que a idéia estava flutuando lá pelo trem e procurando por alguém... e minha mente estava livre o suficiente, e então eu decidi dar um "zoom" na idéia.
Stephen Fry -
E você mexeu com a idéia na sua cabeça...
J.K. Rowling -
Exatamente! Daquele momento eu pensei: "Bem, porque ele não percebe que é um bruxo?" Estava ali como uma história que estava lá para eu descobrir e eu pensei: " Bem, seus parentes estão mortos e ele precisa descobrir que eles eram bruxos" e então nós começamos daí.
Stephen Fry -
E os nomes. Eu preciso mencioná-los. Você mencionou mundungus sendo sobre o tabaco. Eu não sei quantos dos meninos e meninas estão sabendo, mas um monte de nomes tem um significado muito particular. "Albus Dumbledore" todos sabem que significa "branco"...
J.K. Rowling -
E "bruxo" também.
Stephen Fry -
E "Albion" é um velho nome para "Bretanha" (Grã Bretanha - Reino Unido)
J.K. Rowling -
Isso mesmo.
Stephen Fry -
E "Malfoy" o que significa?
J.K. Rowling -
Bem, "Malfoy" é um nome inventado. Mas nós podemos dizer que vem do velho Francês que significa "má fé".
Stephen Fry -
Mais uma coisa, que os meninos e as meninas perceberam. Há um provérbio para Hogwarts que é em latim, e qual é ele?
J.K. Rowling -
Bem, você foi uma das poucas pessoas que eu conheci que sabiam qual era o significado. Significa: "Nunca faça cócegas num dragão dormindo".
Stephen Fry -
É o equivalente mágico de "let sleeping dogs lie" (Esse provérbio inglês significa não provocar tumultos)
J.K. Rowling -
Exatamente.
Stephen Fry -
E agora nós temos uma pergunta de Neil, que é provavelmente do lugar mais longe daqui: Sidney, Austrália, onde é o meio inverno.
Neil -
Você alguma vez considerou a possibilidade de escrever um livro sobre Harry, cinco ou dez anos depois que ele deixar Hogwarts?
J.K. Rowling -
Eu já peguei essa pergunta sobre eu escrever um livro em que o Harry tiver crescido muitas vezes e eu sempre direi a vocês que terão que esperar e ver se ele sobreviverá para chegar a ser adulto.
Stephen Fry -
Isto é assustador, não é?
J.K. Rowling -
Desculpe por eu não dizer que ele não vai morrer, mas eu não quero dar nenhuma pista nesse momento.
Stephen Fry -
Eu estava imaginando... O que você acha que para o Harry seria mais difícil: lutar com Voldemort ou beijar a Cho?
J.K. Rowling -
Quem leu a Ordem da Fênix terá uma boa idéia de qual deverá ser a resposta.
Stephen Fry -
Nós não vamos contar tanto assim sobre o novo livro porque nem todo mundo consegue ler tão rápido assim. Outra coisa que eu percebi sobre as idades. Em A Pedra Filosofal e na Câmara Secreta, eles pareciam mais inocentes se for comparar. Agora tudo está mais complicado.
J.K. Rowling -
Quando ele (Harry) logo entrou nesse mundo (de magia), ele claro que ficou esperando, depois de ter passado um tempo com os Dursley's, que aquilo fosse o mágico país das maravilhas e quase imediatamente se depara com Draco Malfoy na loja de túnicas e descobre que os Bruxos são racistas e, devagar, mas certamente, vai descobrindo que muitas pessoas com poder no Mundo dos Bruxos são tão corruptos e indecentes quanto no nosso mundo.
Stephen Fry -
As pessoas geralmente falam no mundo real: "Eu não tenho uma varinha mágica para curar todas as doenças do mundo," mas o que você mostra é que as pessoas com uma varinha mágica ainda não conseguem "curar todas as doenças."
J.K. Rowling -
Não mesmo, isso acontece porque isso é sobre a natureza humana e sobre todas as pessoas com motivos menos puros terem também varinhas mágicas, e então você gasta um monte de tempo tentando fazer leis.
Stephen Fry -
Agora nós temos uma pergunta interessante de Daniel Joseph from Croydon, Inglaterra.
Daniel Joseph -
Minha pergunta é: Como você decide o jeito que serão os vilões?
J.K. Rowling -
Isso vai parecer estranho, mas... (risos) Eu conheci muitas pessoas durante a minha vida para ter uma boa e correta idéia de como eu queria que os vilões fossem. Eu acho que de todas as cartas do pessoal de suas idades (ela aponta para a platéia) ... Eu acho que eles conhecerão um Draco Malfoy e eu acho que as meninas conhecerão uma Pansy Parkinson. Nós todos convivemos com pessoas desse tipo e certamente, como adultos, nós conhecemos um Lucius Malfoy e outros desses personagens.
Stephen Fry -
Malfoy, Goyle e Crabbe são quase irremediavelmente maus. Há quase nada sobre Goyle e Crabbe além de serem realmente repulsivos. Já, Malfoy, eu creio que ele tem muito estilo na sua maldade.
J.K. Rowling -
Ele tem muito estilo no filme.
Stephen Fry -
Assim como nos livros também, eu acho...
J.K. Rowling -
Sim, ele tem um certo fogo...
Stephen Fry -
E há tipos como o Snape, que são maus, embora exista uma certa ambigüidade nele. Você não pode se decidir porque há uma certa tristeza nele. Uma coisa muito só. Nós vamos, devagar, depois de 5 livros, tendo uma idéia de que talvez ele não seja tão mau depois de tudo.
J.K. Rowling -
Sim, mas você não deveria pensar que ele é tão bom. Vou dizer somente isso. Vale a pena manter um olho no velho Severus Snape, com certeza.
Stephen Fry -
Uma das coisas mais terríveis no nosso mundo, especialmente quando somos novatos em injustiça, é quando alguma coisa injusta nos deixa tão bravos. Uma das coisas que me deixa muito triste com o comportamento de Harry é como as pessoas falam mentiras sobre ele (...)e o Dumbledore sabe disso.
J.K. Rowling -
Eu não quero dizer muito, mas Dumbledore é muito sábio que mais sabe que Harry vai ter que aprender umas lições muito difíceis para prepará-lo para o que pode vir a ocorrer em sua vida, por isse ele sempre permite que Harry faça um monte de coisas que ele normalmente não autorizaria nenhum aluno a fazer, também, sem vontade, permite que Harry se confronte com um monte de coisas que ele preferia protegê-lo, mas as pessoas que terminarem a Ordem de Fênix saberão, Dumbledore teve que voltar um pouco atrás com o Harry, a fim de que ensine a ele algumas duras lições da vida.
Stephen Fry -
Agora vamos atravessar até Hong Kong, China, onde nós temos uma pergunta da Escola Internacional da Coréia.
Crianças (todas juntas) -
Você acredita em mágica?
J.K. Rowling - (risos)
Desculpe-me por dizer isso, porque quando eu respondo a essa pergunta hesito, mas eu não acredito em mágica. Eu não acredito naquilo que aparece nos livros. Eu poderia estar um pouco fora de moda e dizer que acredito em mágica e em todas as outras coisas como, por exemplo, a magia da imaginação, do amor, mas magia como agitando uma varinha mágica e fazer as coisas acontecerem... não, eu não acredito. Eu amaria se eu pudesse acreditar, mas eu estou receosa por não acreditar.
Stephen Fry -
Isso pode parecer meio estranho também, mas é muito importante esclarecer que o Harry esclarece seus problemas até com sua coragem, com sua disposição, com sua lealdade e, decisivamente, com seu coração.
J.K. Rowling -
Harry não é um bruxo tão bom ainda, para encarar Valdemort de bruxo para bruxo. Entretanto ele escapou dele 3 vezes, quatro se você for contar o encontro com Tom Riddle na Câmara Secreta e ele continua assim porque isso é uma coisa que Voldemort não entende, que é o poder que mantém Harry vivo e todos nós sabemos qual o poder que é.
Stephen Fry -
Com certeza. Agora Natasha Wry de Sulfolk, Inglaterra, tem outra pergunta
Natasha Wry -
Se você pudesse ter qualquer poder mágico por um dia, qual você teria e como você iria usá-lo?
J.K. Rowling -
Se eu tivesse um poder, eu iria ter o da invisibilidade e isso é um pouquinho mau, mas eu iria provavelmente me cobrir (com a capa), ir para um café e escrever o dia inteiro. Já me perguntaram, no caminho para cá, quando o sexto livro vai estar pronto, então eu acho que você vai concordar comigo que eu preciso começar a trabalhar logo.
Stephen Fry -
Nós vamos agora a Paris, na França, falar com Antoine.
Antoine -
Se você se olhasse no Espelho de Erised, o que você veria?
J.K. Rowling -
Eu me veria muito parecida do jeito que eu sou. Uma das coisas mais maravilhosas que poderiam ter acontecido comigo aconteceu, que foi ter outra criança. Então vejo eu e minha família, mas teria espaço atrás para um monte de coisas. Eu sempre digo que eu veria o que Harry vê, que é minha mãe viva de novo, e um cientista apoiado em meus ombros inventando um cigarro que seria saudável. E eu posso pensar eu um certo jornalista que eu gostaria de vê-lo fervendo em óleo em cima dos meus ombros.
(risos)
Stephen Fry -
Se o seu primeiro livro tivesse sido um sucesso razoável para que você escrevesse o segundo e você estivesse sem problemas para escrever o terceiro e o quarto, então poucas pessoas teriam ouvido seu nome. Você acha que a história teria se desenvolvido em um caminho diferente? A grande fama e o sucesso inigualável deu a você uma visão diferente da história?
J.K. Rowling -
Eu acho que eu sempre planejei que Harry sempre sentiria a pressão de sua posição. Você percebeu que no primeiro livro, em que ele entra no Caldeirão Furado pela primeira vez todo mundo corre para ele e ele está chocado, porque ele não percebeu que eles estavam conversando sobre ele por 11 anos sem seu conhecimento e eu sempre previ que ele conheceria alguém do Profeta Diário. Eu penso que eu seria muito idiota fingir que eu não escrevo Rita Sketter com um pouco mais de entusiasmo dos nossos dias.
Stephen Fry -
Você não lê o que as pessoas escrevem sobre você?
J.K. Rowling -
Eu tento e ignoro isso o mais que puder.
Stephen Fry -
Agora nós temos uma pergunta de Ahmet, Israel
Ahmet -
Que música que Harry Potter ouve?
J.K. Rowling -
Eh...recentemente ele tem ouvido o super grupo de bruxos: As Irmãs Estranhas, que vieram para o Yule Ball, e que possuem uns bizarros instrumentos, gaitas, cello e uma guitarra elétrico, claro. Então eu teria que dizer que este é seu favorito grupo.
Stephen Fry -
Então não há uma gravadora para bruxos que gostem de rap ou hip-hop?
J.K. Rowling -
Isto seria muito complicado, então eu escolho pelas Irmãs Estranhas e você pode fazer com os outros o que você quiser.
Stephen Fry -
Qual é seu gosto musical? Muitas coisas diferentes?
J.K. Rowling -
Muitas e muitas coisas diferentes. Os Beatles eram meu grupo preferido eu acabei de dizer para alguém que quando eu vim aqui que isto é o mais próximo que eu cheguei de ser um Beatle, ouvindo vocês (apontando para a platéia) gritando. Foi muito bom. Eu me vi como o George Harrison.
Stephen Fry -
Nós temos uma outra pergunta agora, de um lugar que você conhece muito bem, sem dúvida. Edimburgh, na Escócia (Scotland) e é de Janine Kerr.
Janine Kerr -
Se você fosse uma professora de Hogwarts, que matéria você iria ensinar?
J.K. Rowling -
Eu acho que eu provavelmente ensinaria Encantamentos. Eu vejo encantamentos como um pouco mais fácil do que Transfiguração, que é um trabalho duro. Encantamentos têm um pouco mais espaço e de segurança pra uma criatividade mais pessoal. Em transfiguração você tem que ser extremamente certo, por isso é uma matéria muito mais científica. Minha filha seria melhor nisso, já que ela tem um lado muito mais científico.
Stephen Fry -
O quê você ensinava quando você era uma professora?
J.K. Rowling -
Eu ensinava Francês, mas hoje eu raramente falo. Eu não tenho muito tempo para ler e falar em Francês nesses dias, porque eu sou mãe, e quando se é mãe o seu pouco tempo livre é normalmente gasto fazendo coisas de mais importância, escrever e ler muito em inglês.
Stephen Fry -
Onde era essa escola?
J.K. Rowling -
Era em Forest of Dean (município de Gloucestershire, Sul da Inglaterra). É claro que é por isso que o Hagrid tem aquele sotaque, é um sotaque de Forest of Dean.
Stephen Fry -
Agora nós temos uma pergunta que vem de Natasha Morison. Agora, Natasha é uma vencedora da competição [no site da MSN], ela está na platéia hoje e aqui está sua pergunta.
Natasha Morisson -
Como você pensou no Quadribol, já que ele é diferente de todos os esportes que eu conheço?
J.K. Rowling -
Se você quer criar um jogo igual ao Quadribol, o que você precisa fazer é ter uma boa de uma discussão com o seu namorado. Você sai de casa, você senta numa lanchonete e você inventa o Quadribol (em inglês, Quidditch). Eu realmente não sei qual a conexão entre a briga e o quadribol, a não ser que é um esporte um tanto violento e talvez na minha mais profunda e escura alma eu iria gostar um tanto de vê-lo (quem ?) atingido por um balaço.
Stephen Fry - (rindo)
Você alguma vez joga no computador?
J.K. Rowling -
Eu não. Minha filha é muito boa, mas eu não consigo me dar bem com Playstations. Eu não sou boa nessas coisas.
Stephen Fry -
Eu não vou mais longe do que arremessar gnomos nas cercas.
Stephen Fry -
Nós temos uma outra pergunta de um outro vencedor da competição, que se chama Jackson Long. Deixe-nos dar uma olhada na pergunta.
Jackson Long -
O professor Snape sempre quis ser o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. No 5o livro ele não pega o cargo. Por que o professor Dumbledore não o deixa?
J.K. Rowling -
É uma pergunta excelente e a razão é... Eu tenho que ser cuidadosa... não dizer muito. Entretanto, quando o professor Dumbledore põe o professor Snape no corpo docente, e o professor Snape diz que ele gostaria de ser o professor de Defesa contra as artes das trevas e o Professor Dumbledore que isso pode trazer o de pior no Professor Snape, então Dumbledore diz: "Eu acho que nós vamos deixa-lo ensinar poções como você se sai nisso."
Stephen Fry -
Um ofidioglota (em inglês, Parselmouth) (aquele que consegue falar com as cobras) existe ou você inventou?
J.K. Rowling -
Parselmouth é uma palavra antiga para alguém que tem um problema com sua boca.
Stephen Fry -
Agora Ordem da Fênix. São 766 páginas. É um livro grande para qualquer padrão e como eu vou ter que sentar em frente ao microfone lê-lo por horas e horas, eu estou muito zangado com vocês [Ele estava brincando com a platéia...]. Mas, por outro lado, tem um valor extraordinário, já que você planejou sete livros da série e já que você pode ter escrito até um oitavo, somente com as palavras que você colocou nos quinto primeiros. Você sabia que isso seria tão longo assim?
J.K. Rowling -
Não sabia. Eu vou te contar. Eu tive que colocar algumas coisas para o que vai vir no 6º livro e no 7º, e eu não quero que ninguém venha me dizer: "Que golpe. Você nunca nos deu uma pista", porque se eu não mencionasse certas coisas na Ordem da Fênix, você poderia ter-me dito: "Pois é, você meteu tudo isso na gente", enquanto que eu quero que você esteja apto para adivinhar se você usar suas habilidades agora. Há algumas surpresas vindo.
Stephen Fry -
A deixou muito triste ter que escrever todas esses julgamentos injustos e traições que Harry tem que encarar?
J.K. Rowling -
Fiquei triste. Eu vou dizer que eu acho que ele tem o momento mais difícil neste livro. Isso porque, além de haver algumas coisas assustadoras vindo para Harry neste livro, ninguém acredita nele, e também, por ser apenas um adolescente. Então, ter esses dois pesos na vida é totalmente horrível. Entretanto, de agora em diante, pelo menos todo mundo sabe que ele vem contando a verdade, então, qualquer que seja aquilo com que ele vai se deparar, ele não terá que se dar com todo sendo tão desconfiado dele.
Stephen Fry -
Nós vamos conhecer os pais da Hermione?
J.K. Rowling -
Nós vamos vê-los muito brevemente , mas eles são dentistas, não são daquele interesse. (risos)
Stephen Fry -
Uma das invenções mais horríveis e brilhantes neste livro é a idéia de vaidade, dos sangues-puros e dos sangues-ruins misturados na criação, o que é um reflexo de algumas coisas como o racismo e a intolerância, coisas que nós temos no nosso mundo. Isto foi pensado ou lhe veio de repente?
J.K. Rowling -
Foi pensado. Na primeira vez em que Harry conhece Draco, ele [Draco] é muito arrogante com os trouxas (em inglês, muggles). Eu estava também jogando com isso [intolerância] quando eu criei o Professor Lupin, que tinha uma "doença" (ele era lobisomem), que claro que é contagiosa e então muitas pessoas têm medo dele. Eu realmente gosto do professor Lupin como pessoa porque ele é alguém que também tem um defeito e porque, apesar disso, ele é um professor maravilhoso e um homem maravilhoso, ele gosta de ser querido, e é aonde ele erra. Ele é ignorado tantas vezes que ele está sempre implorando para ter amigos, que ele os corrompe com uma horrível passividade.
Stephen Fry -
Agora nós não vamos ao assunto de quem é morto, porque nem todo mundo já leu o livro, mas isto causou um bom agito quando você disse que isto lhe havia causado muita agonia. Você sente muito dessas coisas emocionais com boa parte dos personagens que você escreve?
J.K. Rowling -
Sinto. Eu acho que aquilo que estava tentando fazer com a morte neste livro era mostrar como é ao acaso e de repente que a morte é. Esta é a morte em que você não tem uma grande cena na cama. Ela aconteceu quase acidentalmente e esta é uma das coisas mais cruéis sobre a morte. E eles agora estão numa situação de guerra em que realmente ela acontece, em que num minuto você está conversando com seu amigo e no próximo minuto ele se foi. É tão chocante e inexplicável... "Aonde eles foram?" Eu encontrei tristeza ao escrever, porque eu sabia o que significaria para Harry.
[Aqui começa um trecho cortado da produção original]
Stephen Fry -
Continuando... Luna Lovegood: de onde ela veio?
[Rowling inclui na ação duas novas personagens: a professora Umbridge, para ensinar Magia Negra, mas logo assume Hogwarts na ausência de Dumbledore; e Luna Lovegood, uma aluna bobinha, mas potencialmente sinistra , que Harry conhece no trem.]
J.K. Rowling - (tentando não rir)
Eu não sei de onde ela veio, mas de novo que muitas pessoas já conheceram uma Luna que é fora do passo, mas realmente eu gosto de Luna. Ela é fã em escrever, e em muitas coisas Luna é anti-Hermione, porque Hermione é tão lógica e inflexível, enquanto que a Luna é preparada para acreditar num monte num monte de coisas malucas antes de tomar o café da manhã.
Stephen Fry -
Agora, para ir a um dos mais horripilantes personagens, Umbridge.
J.K. Rowling -
Ela é horrível, não?
Stephen Fry -
(Para a platéia) Vocês já se depararam com uma Umbridge? Ela os deixa arrepiados?
J.K. Rowling -
Estou contente que você tenha odiado ela porque eu realmente sou contra Umbridge.
Stephen Fry - (segurando um e-mail)
Este é de Jéssica Wells, da Austrália, agora vivendo em Londres e esta é a sua pergunta: Thestrals" antes?
[Thestral, ainda sem tradução, é um ser que aparece no quinto livro, que é visto por pessoas que passaram perto da morte]
(...)
J.K. Rowling -
No fim do Cálice de Fogo, nós enviamos Harry para casa mais deprimido do que qualquer vez que saiu de Hogwarts. Agora eu sabia que os Thestrals estão vindo e eu posso provar isto porque eles estão no livro que eu produzi para uma ajudinha financeira, "Animais Fantásticos e Onde Habitam"... Estes azarentos cavalos de asas. Entretanto, se Harry tivesse os visto e nós não os explicamos , eu diria que isso seria uma enganação ao leitor, ao passo de que Harry de repente vê esses monstros, mas nós não vamos a nenhum lugar com eles. Então, para me explicar, eu diria que você teria que ter visto a morte e a permitido penetrá-lo um pouco mais antes destas criaturas se tornarem sólidas diante de você, então aí está a resposta.
Stephen Fry -
Você pode explicar em palavras (...) com menos de duas sílabas o que é a Aritmancia?
J.K. Rowling -
Bem, sua resposta seria tão boa quanto a minha, Stephen... Bem, realmente é predizer o futuro usando os números, mas eu também decidi que há um pouco de numerologia nisso também.
(...)
Stephen Fry -
Agora parece que deu o tempo para as perguntas, mas daqui a pouco, J.K. Rowling - estará fazendo a leitura do livro.
[Depois de um tempo um carro voador vem buzinando, aquele do segundo livro, descendo no palco invadido por fumaças. J.K. Rowling começa a leitura na página 583. Terminando alguns minutos depois, com aplausos pela excelente interpretação.]
Fernando Medina/Especial para o Terra
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