Harry Potter faz sonho virar realidade
Sexta-feira, 23 de novembro de 2001
Na medida em que aquilo que se vê na tela é um reflexo espantosamente preciso do que se lê na página impressa, o superaguardado Harry Potter e a Pedra Filosofal é quase perfeito.
Para as dezenas de milhões de fãs em todo o mundo, a transposição da história da escritora J.K. Rowling ao cinema -- bem produzida pela Warner Bros. ao custo de mais de US$ 125 milhões -- vai, basicamente, fazer os sonhos virarem realidade.
O roteiro é fiel ao livro, os atores são ideais para os papéis, os cenários, figurinos, maquiagens e efeitos especiais se unem e se combinam para satisfazer -- às vezes até superar -- a imaginação.
O fato de que o filme em nenhum momento ganha alma própria terá pouca ou nenhuma influência sobre o número de vezes que crianças e adultos voltarão aos cinemas para assistir à produção, que parece estar a caminho de se tornar a maior bilheteria de todos os tempos.
Somos obrigados a admitir que a Warner e o produtor David Heyman tomaram as decisões certas ao fazer manter a produção "britânica" e ao compreender que a escolha de um diretor muito pessoal, como Steven Spielberg ou Terry Gilliam (ambos chegaram a ser cogitados), teria sido não apenas desnecessária, mas indesejável, dado que a platéia teria reagido mal a alterações textuais ou fantasias de autor.
O roteiro cuidadosamente redigido de Steve Kloves começa com uma versão condensada da abertura do primeiro volume da série: numa rua tranquila de um subúrbio de Londres, um mágico apaga as luminárias, um gato se transforma numa mulher com jeito de bruxa, aparecem várias corujas e um gigante barbudo entrega um pacote numa casa.
O garoto da história é Harry Potter (Daniel Radcliffe), órfão que consegue se manter de bom ânimo apesar dos intermináveis maus-tratos que sofre por parte dos tios mesquinhos com os quais foi deixado.
Ele é posto num armário debaixo da escada, é torturado por seu primo valentão e não tem permissão para abrir as misteriosas cartas que começam a chegar endereçadas formalmente a ele.
Seus tios, os Dursley, ficam chocados quando o mesmo gigante, Hagrid (Robbie Coltrane), aparece no 11o aniversário de Harry Potter para informar o garoto de que, na realidade, ele é filho de um casal de magos assassinados e que foi convidado para estudar na Escola Hogwarts de Magia e Bruxaria.
Basta esse trecho introdutório para deixar claro que o diretor Chris Columbus posiciona sua câmera de maneira arbitrária, e não tem idéia de como construir um clímax dramático, preferindo, em lugar disso, depender dos efeitos especiais e da trilha sonora de John Williams para injetar pique nos momentos-chaves.
Mesmo assim, somos transportados para o mundo mágico, concretizado de maneira extraordinariamente atraente graças ao trabalho do designer de produção Stuart Craig e de sua enorme equipe, sem falar, é claro, nas locações, nos efeitos especiais e nos atores.
O mais importante de todo o elenco Radcliffe, que não leva muito tempo para convencer na pele de Harry Potter. Sua atuação alcança exatamente o equilíbrio correto entre a inteligência boa, mas não excepcional, e a lenta e gradual compreensão dos poderes extraordinários que ele possui.
Um dos interlúdios mais divertidos do filme acontece quando Harry acompanha Hagrid na compra de seu material escolar no colorido Beco Diagonal, onde os funcionários do banco são duendes mal-humorados do tipo que Charles Dickens teria apreciado.
Harry Potter compra sua varinha mágica de um velho enrugado (John Hurt) que conhecia seu pai, e Hagrid saca do banco a pedra filosofal do título, que vai levar de volta a Hogwarts para guardá-la em segurança.
A sensação de que o livro está tomando forma diante de nossos olhos continua quando Harry é orientado para ir até a plataforma 9 1/4 para pegar o trem expresso que o levará à escola, juntamente com seus colegas do primeiro ano Ron Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson).
A bruxa do prólogo reaparece e revela ser a professora McGonagall (Maggie Smith), que organiza o importantíssimo processo pelo qual os alunos são distribuídos entre as quatro casas nas quais se divide a escola.
Harry, Rony e Hermione terminam juntos em Grifinória, enquanto seu inimigo, Draco Malfoy (Tom Felton), é enviado a Sonserina, comandada pelo assustador professor Severo Snape (Alan Rickman).
Magicamente, um banquete aparece sobre as mesas compridas, fantasmas andam para cá e para lá, quadros ganham vida e escadarias trocam de posição sem aviso prévio.
Em sua primeira aula de vôo, os presentes descobrem que Harry leva tanto jeito para manobrar uma vassoura que o indicam para uma das posições mais importantes do time de Grifinória no jogo de quadribol, um esporte fabulosamente perigoso no qual os jogadores perseguem bolas montados em suas vassouras voadoras.
Ao longo do ano escolar, repleto de emoções, um tema central acaba vindo à tona: parece que alguma figura malévola, que pode ser o professor Snape, está tramando roubar a pedra filosofal para entregá-la ao maldoso lorde Valdemort, um mago supremo que se bandeou para o Lado Escuro, mas ao qual falta um pouco de poder, já que conseguiu matar os pais de Harry mas não o menino.
Harry e seus amigos acabam percebendo que a pedra está embaixo de um alçapão guardado por um monstruoso cão com três cabeças.
Numa sucessão de acontecimentos repleta de suspense, Harry, Rony e Hermione são obrigados a provar sua coragem, garra e engenhosidade, numa batalha aberta do bem contra o mal.
Por Todd McCarthy / Reuters
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