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Comida também é moda?

Muito antes de se falar em globalização, nossos hábitos alimentares já apreciavam os sabores de várias culturas. O Brasil foi colonizado por um sem fim de povos, que trouxeram suas receitas e ingredientes junto com suas famílias e memórias, criando a base de nossa alimentação com uma diversidade fascinante. São receitas portuguesas, italianas, alemãs, espanholas, japonesas e outras tantas com não menos importância.

Alimentação também é um produto de moda e, assim, sendo o que é "chique" hoje, pode ser o "brega" de amanhã. Não que seja essa a minha opinião, mas assim é vista a culinária por um grande número de pessoas, pelos idos dos anos 60 o Stroganoff foi um "must" apesar de do nome ter sido alterado para Strogonoff e a receita original completamente modificada. A Crepe Suzette também, tão elegante em uma época e, tão desvalorizada hoje em dia, e por aí vai, são centenas de receitas que assim como nossas roupas "não estão mais na moda".

Tento entender todo este movimento "food fashion" e tenho convicção de que é um movimento comercial como outros tantos. Acho que na verdade tudo começa com uma boa receita, algo criado por algum chef competente e esta receita passa a receber elogios por suas qualidades. Certamente, tal receita passa a ser copiada por outros chefs e aí começa a massificação do produto. Pegamos o exemplo do Stroganoff. Antigamente, era preparado em um réchaud e o cliente assistia passo a passo a execução da receita maravilhado com a habilidade do Maitre, porém, a receita começa a ser preparada em vários estabelecimentos.

Certamente inicia a concorrência e conseqüentemente a queda dos preços e a popularização do produto. O mesmo passa a ser rotulado de popular. Daí, o chef é obrigado a criar uma nova receita e começa tudo de novo. Porém, algumas receitas permanecem "in" e seus preços continuam altos em relação ao produto oferecido. Um bom exemplo disso, é o Carpaccio. Fatias finas de carne crua (cerca de 50 gr por porção) com um pouco de queijo parmesão (15 gr) e um pouco de molho (30 ml), preço médio da porção nos restaurantes R$ 9,00, mas verifico que não é pelo custo dos ingredientes e sim pelo nome da receita, quanto mais sofisticado o nome, mais valorizado o produto, portanto, fique atento.

Um Paillard com fettuccini não deixa de ser um bifinho com macarrão, a Crepe Suzette é uma panqueca com calda de laranja e assim por diante, e o Sushi então? É um bolinho de arroz com uma fatia de peixe. Perdoem-me meus colegas chefs, não tenho a intenção de desvalorizar nosso trabalho nem nossas receitas, quero apenas mostrar ao consumidor que se pode comer bem independentemente do idioma que dá o nome à receita. É só trocar seis por meia dúzia.

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