Idioma e gastronomia, será que combinam?
Voltou a ser assunto de discussões e debates o antigo problema da utilização de palavras e expressões em outros idiomas que não o falado por estas terras. Apesar do fato de nosso vocabulário haver sido enriquecido com palavras em outro idioma, se não fosse o britânico "for all", nosso folclórico "forró" não passaria de um "arrasta pé" ou, pior ainda, um "rala coxas".
Nossas panquecas, o que seriam sem os "pancakes", acho que se chamariam "enrolados de carne" ou qualquer coisa que o valha, e as tão populares "omeletes" talvez fossem chamadas de "ovos coagulados na frigideira". Quase ia me esquecendo do "cocktail" que talvez fosse batizado com o nome de "misturadinho". O fato é que o país tem necessidades maiores do que simplesmente uma proibição lingüística. Não seria mais interessante proibirem a venda de armas, o tráfego de veículos mal conservados, a pornografia explicita nas televisões e bancas de jornal...?
Bom, o que eu gostaria mesmo é de que nunca proibissem os nomes das receitas originais utilizados na gastronomia. Acho importante que restaurantes e lanchonetes coloque a tradução ou descrição dos pratos em nosso idioma, mas, por favor, não vamos transformar "hamburger" em "bolinho de carne moída, achatado e frito", "creme brulée" em "pudim de leite com açúcar queimado", e assim por diante.
Acredito realmente que a culinária pode e deve utilizar-se dos nomes originais das receitas e respeitar a tradição do povo que a prepara pois, certamente, a culinária estará contribuindo para o enriquecimento cultural de nosso povo, e possibilitando uma espécie de turismo imaginário através dos aromas e sabores de cada receita. É assim que deve ser. Fim a esse patriotismo ditatorial, ser patriota é outra coisa a meu modo vê ver. É pendurar a bandeira do meu país na porta de casa diariamente.
Por aqui, nos costumamos pendurar a bandeira em dias de jogo de futebol, isto se nossa seleção ganhar. Patriotismo é respeitar a contribuição cultural dada pelos imigrantes que ajudaram a construir este país, é votar corretamente, sem bairrismos egoístas, e votar pensando na nação como um todo, distribuindo a riqueza.
Epa, mudei de assunto, por que será? O que eu queria dizer na verdade é que espero sinceramente que os senhores da lingüística deixem a gastronomia do jeito que está. Dito isso, vou preparar um "Dry Martini" para acompanhar meus "Canapés".
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