Nada lembra mais a infância do que a ceia de Natal. Não era a ceia em si, mas a ansiedade de que a mesma fosse servida pois, os presentes somente poderiam ser abertos após a refeição e a criançada queria se ver livre da ceia o mais rápido possível para poder, com um brilho nos olhos, descobrir o que Papai Noel deixou sob a árvore. Os adultos entretanto, ficavam em volta da mesa jantando tranqüilamente e eu, criança, não entendia porque um jantar era mais importante do que os presentes.
Em nossa família se prepara um cuscuz à moda paulista, que é servido com salada de folhas verdes e molho de camarões, seguido de um tender preparado com melado de cana e com as frutas em calda (aí meu fígado), e o tradicional peru assado com farofa de frutas secas acompanhado de purê de castanhas ou maçãs e decorado com fios de ovos. O melhor de tudo é a torta de nozes com recheio de ovos moles, coberta com marshmellow (aí minha taxa de glicose), opa, quase me esqueço dos capeletes "in brodo", enfim, uma ceia quase que tradicional. Cada grupo da família leva um prato e o mais interessante é que a responsabilidade do preparo das receitas é sempre da mesma pessoa. Na falta desta, a responsabilidade do preparo passa para os filhos e, assim, vamos mantendo nossas tradições.
Acredito que tradições são importantes para a manutenção das famílias, mesmo que se reúnam por um só dia ao ano, mesmo que uns falem mal dos outros. O fato é que a família ainda é o que impulsiona a evolução humana. Não importa o que será servido na ceia deste ano, também não existe mais a ansiedade de abrir os presentes. O que conta verdadeiramente são os pequenos encontros de pessoas que se reúnem para lembrar que amor não é só uma palavra, mas uma proposta de vida.