Carmem Lundy QuartetUma breve sutileza separa a genialidade do comum. E o trompetista Dave Douglas tem por que se orgulhar dos vários prêmios que recebeu no ano passado - jazzista do ano, melhor trompetista e melhor disco pela revista Downbeat. Essa foi a grata e significativa apresentação da segunda noite do Chivas Jazz Festival, versão São Paulo. O outro artista da noite foi o guitarrista Bill Frisell e seu quarteto.
Depois de uma primeira noite conservadora, o Chivas abriu as cortinas para um jazz mais livre (cuidado Free Jazz, concorrência flertando com o nicho). Isto por que a guitarra de Frisell não segue os moldes de um Joe Pass, por exemplo. No início, soou como um Jeff Beck "torto". Então se ouviu uma rara segunda guitarra slide (a não ser que você ouça muita música country), também conhecida como dobro ou mandolin, tocada por Greg Leisz. Todos os inícios de música pareciam um processo de afinação de instrumentos.
Então surgia a música, quase como uma viagem pelo interior dos Estados Unidos, tendo como pano de fundo um filme de Wim Wenders. Quem diria que o primeiro show do segundo dia do festival fossse ter um romantismo de beira de estrada do Texas? A platéia ficou relaxadamente envolvida.
Quebrando convenções
Mas a estrela do jazz atual era aguardada com ansiedade pelo público conhecedor - pouco numeroso, diga-se de passagem, graças à enorme quantidade de "festeiros" passeando pelo Directv Music Hall.
O jazz é um estilo musical que, apesar de sua liberdade, traz um conservadorismo grudado às suas convenções. Poucos desrespeitam ou brincam com elas. Douglas brinca. Se apresentou na noite desta quinta-feira com excelentes músicos, que incluia um naipe de metais com um saxofonista tenor/clarinetista, Greg Tardy, e um trombonista, Joshua Roseman.
Impossível descrever o que o torna peculiar no jazz atual, mas, em uma singela tentativa, basta dizer que seu fraseado tem características sinfônicas, com reflexos de tonalidades do jazz dos anos 40 em belos glissandos - algo que seus músicos compreenderam muito bem em seus próprios solos.
É o nome maior do sopro atual do jazz. Quer ouvir o que o jazz ainda tem para oferecer de novo de dentro de um túmulo que alguns críticos já o colocaram, compre um dos recentes CDs do trompetista: Soul on Soul, homenagem a jazzísta Mary Lou Williams (duas composições do disco foram tocadas brilhantemente no Chivas), A Thousand Evenings ou Leap of Faith. Todos foram lançados em 2000 e provavelmente o alçaram ao titulo de melhor do jazz a Dave Douglas.
Confira AO VIVO nesta sexta-feira, a partir das 21h, transmissão ao vivo de trechos das apresentações de Mauro Senise, Ann Dyer e Dave Holland no Showlivre
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