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Conhecido como The Hook ou The Boogie Man, ele viveu mais do que outros nomes lendários do blues, como Muddy Waters, Howlin' Wolf, Elmore James, Lightnin' Hopkins, homens que aprenderam seu ofício no sul rural dos Estados Unidos.
Esses artistas mudaram-se para o norte -- para Chicago -- onde a emoção da música nascida nas fazendas de algodão se transformou num dos pilares do jazz e do rock -- especialmente quando o som acústico foi eletrificado.
Mas ao contrário de B.B. King e outros bluseiros lendários, Hooker nunca fez concessões ao gosto popular e sempre fez uma música sem compromisso, com uma guitarra em staccato marcante e uma voz profunda.
Elogio da crítica
Seu estilo o tornou uma pessoa cultuada no final da década de 80, quando ele foi "redescoberto" e seu álbum de 1989, The Healer, onde tocava ao lado de vários roqueiros, foi muito elogiado pela crítica.
I'm in the Mood estourou pela primeira vez em 1951 e 40 anos mais tarde ela regravou a música ao lado de Bonnie Raitt e ganhou um Grammy. Em 1991, ele foi aceito no Rock 'n Roll Hall of Fame.
Ele teve vários sucessos nos Estados Unidos e na Inglaterra nos anos 60, como Boom Boom e Dimples e sua gravação original de I'm in the Mood foi usada pela cidade de Chicago em uma grande campanha publicitária para atrair turistas no final da década de 80.
"Man, it's all blues to me -- tudo é blues para mim, o som vem do passado, do Spirituals", disse ele uma vez, com sua modéstia característica, sobre o estilo que fez com que Waters o apelidasse de "matador" e "campeão".
Ponta nos Irmãos Cara-de-Pau
"O blues está na base de toda a nossa música", disse Hooker. "Ele conhece todo o blues que existe", disse seu empresário e produtor Al Smith, durante o American Folk Blues Festival que rodou a Europa em 1968.
"Eu posso pedir a ele para cantar o blues gingado, ou o R&B. 'Deep Chicago' blues é como se fosse sua segunda pele, mas se eu pedir para ele cantar como se estivesse no Mississippi, ele faz isso naturalmente".
O estudioso da história da música Larry Cohn escreveu sobre Hooker: "Ele grita, geme e espreme tudo o que é possível de cada nuance. Além disso, Hooker murmura melhor que muitos bluesmen cantando".
Sua figura era tão cultuada que em 1980 ele ganhou um pequeno appel no filme The Blues Brothers (Os Irmãos Cara-de-Pau), com Dan Aykroyd e John Belushi. Depois, ele apareceu em A Cor Púrpura.
Dylan abriu para Hooker
Depois de gravar Boogie Chillin' em 1948, ele teve vários períodos de sucesso ao longo de mais de 50 anos de carreira.
Nos anos 50 ele gravou muito com o selo VeeJay, depois passou por um período dormente até que o revival do blues nos anos 60 o trouxe de novo para os palcos, com uma grande tour na Europa. Em 1961, Bob Dylan fez seu primeiro show abrindo para Hooker em um clube do Greenwich Village em Nova York.
Ele gravou álbuns para a Bluesway e para o lendário selo Chess antes de desaparecer nos anos 70 e boa parte dos 80. Em 1989 ele foi "redescoberto" e o produtor Roy Rogers gravou Hooker tocando ao lado de Carlos Santana, Raitt, Robert Cray e George Thorogood.
Thorogood sempre se inspirou nas levadas de guitarra do mestre e também em seu vocal estilo narrativo, adaptando a música Rent Money Boogie, de Hooker, em um de seus grandes sucessos -- One Bourbon, One Scotch and One Beer.
O ex-guitarrista do The Who, Pete Townshend, usou a guitarra e a voz de Hooker em várias faixas de seu álbum solo Iron Man e em 1990 Hooker gravou com Miles Davis a trilha sonora do filme The Hot Spot.
Em 1992, Boom Boom foi relançada e se tornou um sucesso ainda maior do que nos anos 60. Nascido em uma residência humilde perto de Clarksdale, Mississipi, em 22 de agosto de 1917, seu pai -- que era pastor de uma igreja -- fugiu de casa durante sua infância e seu padrastro o ensinou a tocar guitarra.
Ele saiu de casa aos 14 anos e trabalhou como lanterninha de um teatro em Memphis, antes de se mudar para Detroit onde fez todo tipo de trabalho para se sustentar, enquanto tocava nos clubes durante a noite.
Reuters
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