Jorge Amado, que morreu nesta segunda-feira, quatro dias antes de completar 89 anos, era o protótipo do escritor brasileiro bem-sucedido, ao juntar qualidade e apelo popular, e uma recorrente esperança de um prêmio Nobel de literatura para o país. Ele foi o escritor brasileiro mais traduzido - mais de 30 línguas - e premiado no exterior, e o único cotado para o Nobel. Sua vida, porém, não se resumiu apenas à literatura: Amado teve um atuação política marcante, como membro do Partido Comunista, o que o obrigou a se exilar diversas vezes.
Em um país em que poucos lêem, o romancista baiano conseguiu sucesso nos livros e nas adaptações de sua obra para a televisão e para o cinema, que o transformaram em celebridade nacional, como o pai de personagens tão populares, como Gabriela e Dona Flor.
Amado era casado desde 1945 com a escritora Zélia Gattai, com quem teve dois filhos, Paloma e João Jorge. O casal morava em Salvador, no bairro do Rio Vermelho, e costumava passar longas temporadas em seu apartamento de Paris, onde ele produziu boa parte de sua obra.
Militância e Literatura
Nascido em 10 de agosto de 1912 na Fazenda Auricídia, filho de um comerciante e fazendeiro de cacau, Jorge Leal Amado de Faria iniciou seus estudos em Ilhéus, Bahia.
Mudou-se para Salvador nos anos 1920, onde iniciou o secundário e, ainda adolescente, começou a frequentar rodas literárias e a colaborar como jornalista para revistas locais.
Na década de 1930, Jorge Amado mudou-se para o Rio de Janeiro, formando-se em Direito e iniciando sua militância política por influência da escritora Rachel de Queiroz. Seu primeiro romance, O País do Carnaval, foi publicado em 1931.
Nas décadas seguintes, Amado não parou de escrever e atuar na política. Sua militância de esquerda lhe valeu uma consistente perseguição política, levando-o a exílios na Argentina e Uruguai (1941-42), em Paris (1948-50) e em Praga (1951-52).
Em 1945, elegeu-se deputado federal do Partido Comunista Brasileiro (PCB), por São Paulo, sendo cassado depois de o partido ter sido colocado na ilegalidade em 1947.
No fim dos anos 50 e durante os anos 60, o romancista publicou alguns de seus livros mais célebres, como ``Gabriela, Cravo e Canela'', ''A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água'' e ``Dona Flor e Seus Dois Maridos''.
Amado passou a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1961. Um dos mais prolíficos escritores brasileiros --dos poucos que podiam viver exclusivamente de literatura. Sua obra retrata o povo baiano, em um misto de crônica de costumes e elogio das figuras marginais.
Com uma carga ideológica marcante no início de sua carreira, passa cada vez mais a abordar o pitoresco do regionalismo de sua terra. De um lirismo e sensualidade ímpares, seus romances inauguram um estilo literário pessoal, sem imitadores.
Desde 1987, a Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador, dedica-se a preservar e documentar a obra do escritor.
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Reuters
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