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Irlandês Roddy Doyle livra-se do rótulo pop com novo romance


Sexta, 21 de setembro de 2001, 18h05

Livro: Uma Estrela Chamada Henry, de Roddy Doyle (Editora Estação Liberdade)

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    O mercado literário internacional registrou um fenômeno perceptível nos anos 90, que promete render boas vendas por muitos anos ainda. São os romances produzidos pelos escritores ditos pop, autores na faixa dos 35 aos 45 anos que nasceram nos Estados Unidos ou em algum país do Reino Unido e viveram intensamente tudo de bom e de ruim que essa cultura produziu entre 1970 e 1980. Tanto que não conseguiram se libertar dessas influências e, de forma obsessiva e com certa nostalgia, escrevem livros 'bacanas', quase irresistíveis para leitores de sua geração e da subseqüente. São obras que falam de música - principalmente rock -, filmes, livros, revistas, etc., dentro de um contexto cultural, social e, às vezes, político. A lista de estrelas é significativa: Nick Hornby (Alta Fidelidade), Irvine Welsh (Trainspotting), Rick Moody (Tempestade de Gelo), Alex Garland (A Praia) e Hanif Kureishi (Minha Adorável Lavanderia).

    O escritor irlandês Roddy Doyle faz parte desse time. Três romances seus foram sucessos no cinema e agradaram à crítica: Loucos pela Fama (The Commitments), de Alan Parker; A Grande Família e O Furgão, ambos de Stephen Frears. Apesar da identificação, Doyle escreveu obras que foram além da superficialidade muitas vezes apontada em seus colegas pop, como nos ótimos Paddy Clarke Ha, Ha, Ha e A Mulher que Ia Contra as Portas - talvez o melhor dos seus seis primeiros romances e que só circulou no Brasil em edição portuguesa da Relógio D’Água. Doyle, no entanto, acaba de dar um passo - bem largo, diga-se — para se livrar em definitivo do rótulo pop com Uma Estrela Chamada Henry, que a Estação Liberdade acaba de lançar.

    Conhecido como um autor que domina bem o universo infantil - vide Paddy Clarke Ha, Ha, Ha e Os Risadinhas-, por mostrar crianças como protagonistas num mundo de adultos, desta vez Doyle recorreu à infância apenas para contar um momento marcante e fundamental para chegar à fase adulta de seu personagem, Henry Smart. O romance faz parte de um projeto arrojado do escritor, que pretende contar em três volumes a história do século XX em seu país a partir de um guerrilheiro urbano ficcional.

    Não significa, porém, que ele tenha rompido com uma série de características que mapeiam sua obra, como o universo de pobreza urbana, vivido por marginais, onde o álcool permite fuga constante para um povo em busca de identidade. Doyle retoma o formato outrora bastante popular de contar a vida inteira de um personagem, do nascimento à morte, como meio para romancear um período histórico. Pode-se considerar essa parte como de formação do personagem.

    No primeiro volume, a história se passa nas três primeiras décadas de 1900, quando a Irlanda viveu uma série de insurreições para se tornar independente do Reino Unido. Henry teve a pouca sorte de nascer numa das áreas mais miseráveis de Dublin, em 1901. Sua mãe, Melody Nash, parece um zumbi, consumida pelo álcool, por causa da vida miserável e o drama de os filhos terem nascidos mortos. "Não tinha mais que 20 anos quando olhou para Henry piscando no céu, mas já era velha, já estava apodrecendo, destruída, sem esperança de reparo, útil apenas para mais alguns bebês e só."

    Com o desaparecimento do pai — foragido da polícia -, e com apenas 6 anos, Henry passa a perambular pela ruas da cidade com seu irmão menor, Vítor. Sobrevivem da caça e venda de ratos a criadores de cães, de esmolas e pequenos furtos. E assim a vida leva Henry até que consegue um emprego no Correio Central de Dublin. Sem querer, acha que assumiu as rédeas de seu destino, quando entra para o Exército Irlandês de Cidadãos, aos 14 anos. Junto com personagens reais — os revolucionários Michael Collins e James Connoly, que o ensina a ler e a escrever - teve sua primeira experiência na sangrenta Páscoa de 1916. No ano seguinte, engaja-se no Exército Republicano Irlandês (IRA) e passa a matar policiais e agentes secretos. A causa de Henry parece atingir seu objetivo em 1922, quando é criado o Estado Livre da Irlanda. Mas ele não demoraria para descobrir que, mais uma vez, teria de viver à margem de seu próprio país.

    Ao passar a limpo a vida intensa e trágica de Henry Smart, Doyle conta uma saga densa em ritmo cinematográfico, mas sem abrir mão da sensibilidade poética que marcou todos os seus livros. Uma Estrela Chamada Henry hipnotiza o leitor desde o primeiro parágrafo. Seu texto começa com a justificativa do título. Diz uma velha lenda irlandesa que, quando morre uma criança, ela se transforma numa estrela. É o que pensa a mãe de Henry, que passa as noites a olhar para o céu.

    Doyle não romantiza a tragédia de seu país. Identificado com o universo das classes menos favorecidas, condenadas pelo desemprego a uma vida miserável, seu anti-herói desconhece valores morais e éticos e a convivência sem questionamentos ao lado de um pai matador torna a morte algo presente e indissociável. Henry é um selvagem num mundo de selvagens e acaba por desenvolver seus instintos nesse sentido. Nem por isso escapa de um segundo aprendizado, o da política, que despreza inicialmente diante da sua falta de compromisso e desejo de vingança contra tudo o que lhe foi negado.

    Henry lembra, nas duas primeiras partes do livro, os romances autobiográficos do escritor americano John Fante — autor de clássicos da literatura marginal americana como Pergunte ao Pó, 1933 Foi um Ano Ruim e os contos memorialísticos de Vinho da Juventude. A vida sofrida e amarga de uma criança num bairro proletário, as relações conflituosas entre os próprios pais e entre estes e seus filhos, tão presentes nas histórias de Fante - filho de imigrantes italianos -, foram transpostos por Doyle para o mesmo período, a primeira metade do século XX, e para um mundo bem mais cruel que a América, a Irlanda.

    O livro de Doyle traz uma história triste de um tipo inesquecível que incorpora em sua personalidade e dramas a perseverança do povo irlandês. Uma obra daquelas que marcam seus leitores para sempre. E a trilogia está apenas começando.

    Gonçalo Júnior - InvestNews/ Gazeta Mercantil

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