Ricardo Ivanov/Redação TerraPela foto ao lado já dá para perceber que o cantor e compositor Cláudio Zoli continua em sua praia musical calma, serena. E foi há quase um mês que a reportagem do Terra conversou com Zoli sobre seu novo CD, Na Pista, que acaba de sair no mercado, em busca de seu público fiel. O músico ainda estava finalizando o trabalho, em um estúdio no Rio, e deu uma paradinha para bater um papo por telefone.
Com a renovada no cenário soul brasileiro, essa pode ser a hora de Zoli, que sempre esteve neste nicho, só que com uma leve sofisticação de discurso. E o caminho escolhido por ele é bem apropriado, pois está regravando seus hits de acabamento acariocado em versões remoçadas e dançantes.
"Tem músicas como Noite de Prazer, da época do Brylho, que só tinha saído em vinil. O público que me acompanha vivia cobrando uma reedição, então estou relançando essas músicas para que a moçada que curte r&b possa ter elas em casa", diz, apontando para o tempo em que pertencia à antiga banda soul. Outras no repertório são À Francesa e Cada Um Cada Um (A Namoradeira). Mesmo pertencendo a uma faixa de músicos brasileiros com carimbo sofisticado, Zoli espera que o mercado abra seus ouvidos para a diversidade musical do País.
Confira a entrevista com Cláudio Zoli:
O que o novo CD tem de diferente do último, Férias?
Bom, estamos na fase de mixagem, mas já está praticamente tudo pronto. Há dois meses estamos gravando aqui em Itaipava, no estúdio Jardim Magnético. O disco é diferente de todos de minha carreira. Tem músicos que tocaram comigo esses anos todos na estrada, em shows, e o CD é feito basicamente de regravações com baladas como Amor Demais ou Noite de Prazer.
Como foram essas regravações?
As músicas têm uma roupagem dance, r&b, que é a minha praia. Essas músicas na verdade eu já vinha tocando há muito tempo. Noite de Prazer, por exemplo, tem 18 anos, e foi gravada originalmente em 1983. Desse tempo para cá ela veio tomando uma forma diferente nos shows, com arranjos novos.
Como é a sonoridade do disco? Tem coisas eletrônicas, samplers, um lance mais acústico ou versões "danceteria"?
Pois é, conseguimos essa mistura, com samplers e programação. Tem coisas "disparadas" (n.e.: programadas) e músicos ao vivo tocando junto. É o primeiro disco que gravo com essa banda que venho tocando pelos shows. Fizemos uma pré-produção antes, com samplers, acoplamos a banda e equilibramos tudo. Ficou superlegal.
Qual a diferença básica de trabalhar com produtores como o Max de Castro, que trabalhou junto com você no Férias, e o Fábio Fonseca?
Foi uma ótima experiência. Trabalhei com o Fábio no disco Fetiche, da banda Brylho. Isso tem 10 anos. Ele trabalhou com a Marina, o Gabriel O Pensador, ganhou Discos de Platina e Ouro com eles. Juntamos a bagagem do Fábio como produtor e músico com a minha, que é de shows, de estrada. O resultado foi fantástico, inesperado, pois ficou com uma incrível cara "brazuca". Não pensamos em "samba soul", nem nada, veio tudo naturalmente, dentro do meu estilo. E não é um disco totalmente eletrônico, não tem conotação "dance", mas está dentro de soul music e r&b. Vão ter remixes também, posteriormente, quando escolhermos os Djs, etc.
Tem algum em mente já? E como faz o remix? Acompanha a produção?
Gosto muito do Tuta Aquino, do Felipe Venâncio. Normalmente não participo. Envio o material e quando está pronto eles me chamam.
O Ed Motta disse algo interessante dias desses. Ele odeia algumas roupagens de suas músicas atuais, sugeridas por gravadora e produtores. Bateria eletrônica, por exemplo, ele quer jogar pela janela. Mas ele aceita essas sugestões para se encaixar no gosto popular - e para voltar para a mídia, pois sumiu quando estava muito "cult". Como funciona isso no seu caso?
No meu caso eu estou fazendo um disco que é a cara de meu trabalho. Se eu fugir disso, fujo muito do que sei fazer. Tem uma coisa acústica também e é superdançante. Fizemos uma mistura legal com o Fábio Fonseca, mostrando que essa é a linguagem do meu trabalho. Quem ouvir meu disco vai perceber que é a cara do Zoli. Não acho legal fazer um disco e no show ser totalmente diferente. O Na Pista é a cara de meu show, que sempre me falam que é demais, que é pauleira. Então por que fazer diferente dessa coisa visceral que é o ao vivo.
O que acha de seus companheiros de gravadora, o Max, o Pedro mariano, Simoninha, Jairzinho?
Acho essa moçada superlegal. Acho interessante ver essas novas gravadoras aparecendo. Eu estava ficando preocupado com o mercado, o nível musical estava muito baixo e estávamos precisando melhorar um pouco. O Brasil é um pais tão rico, com uma diversidade histórica tão rica. E tem essa coisa imposta pela mídia, essa ditadura musical, o "jabá" em rádios. A coisa toda fica meio sem identidade. Se você pegar essas bandas internacionais de soul da moda como Jamiroquai ou Icognito, eles estão ouvindo é Black Rio, banda brasileira. Queremos ouvir um Tom Jobim, Djavan e a partir daí evoluir. Hoje não tem mais espaço para isso. Vivemos um estilo de música único. O próprio público sentiu a necessidade de uma mudança o que forçou o surgimento de rádios alternativas e gravadoras como a Regata, a Trama, que estão trazendo pessoas novas, com identidade.
Você acha que vocês carregam algum estigma de músicos muito sofisticados para o gosto popular? Aliás, você acha que se encaixa naturalmente no nicho por exemplo do ED e do Jota Quest? O que falta?
Isso tudo acontece exatamente por causa do que é imposto pela mídia. Não tem espaço para a evolução de nossa música. Agora está tendo um boom de soul. Mas o Tim Maia já fazia samba soul no início da carreira. Aí vieram com essa influência também. A minha foi Tim Maia, Cassiano. Mas a coisa parece que está mudando, com Ana Carolina, Cássia Eller, Lenine, ou seja, músicas com poesia na concepção. Música comercial existe no mundo inteiro. Quatro garotos bonitinhos, essas coisas. Tem de ter espaço para outros segmentos como a música folclórica, a regional, um mercado para todos.
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