Como fã, Rampazzo defende que a carreira solo de Harrison que, por muitas vezes, é considerada inferior às de Paul McCartney e John Lennon. "George não era o tipo de cara que fazia as coisas para agradar a mídia, ele fazia o que sentia. Não era como Paul que, para isso, chegou até a gravar com Michael Jackson".

Confira entrevista exclusiva com Rampazzo, concedida poucos dias antes do falecimento de George:

Como e quando ocorreu sua ligação com George Harrison enquanto fã? Ele foi importante para você decidir ser um guitarrista?
Minha primeira ligação com George Harrison foi quando eu era
adolescente, por volta de 1963-1964. Um amigo levou para a escola um álbum de figurinhas sobre os Beatles. Naquela época eu já me ligava em guitarras e notei que George sempre estava com uma variedade de instrumentos. Com certeza, isso pesou muito na hora de decidir me tornar guitarrista.

Acha que o talento dele como compositor nos Beatles era abafado por Lennon e McCartney?
De certo modo sim. Não deveria ser nada fácil ter dois gênios competindo com ele o tempo todo. Acredito que, no início da carreira dos Beatles, George não desenvolvia sua criatividade como compositor porque se ocupava em fazer os arranjos das músicas dos seus colegas. Mas, a partir de 1967, George começou a compor com mais freqüência e sentiu que o produtor dos Beatles não lhe dava a devida atenção.

O que acha da carreira solo dele? Inferior às dos demais Beatles?
Maravilhosa e única. Não deixa nada a desejar às de John ou Paul. George não era o tipo de cara que fazia as coisas para agradar a mídia, ele fazia o que sentia. Não era como Paul que, para isso, chegou até a gravar com Michael Jackson.

Como você vê o talento de George como guitarrista, tecnicamente falando? Outros músicos da mesma geração, como Eric Clapton e Jimmy Page, viraram "guitar heroes". Por que ele não virou?
O talento de George é único. No cenário da música pop mundial não há ninguém com o feeling de George, principalmente quando ele toca no estilo slide guitar. Quanto a ser considerado um guitar hero, ele mesmo fazia questão de não ser titulado assim. Embora, para muitos,
querendo ou não ele o é.

O que você acha da conhecida "ranzinzice" de George,
principalmente no que se refere a falar dos Beatles? Se sabe que ele sempre falou mal da banda, ainda mais depois da separação...
Não é bem assim. Acontece que, quando George lançava
um trabalho novo, as pessoas ficavam fazendo as mesmas velhas perguntas sobre as músicas dos Beatles ao invés de perguntarem sobre as canções recém-lançadas, o que de certo modo o incomodava.

Você teve um contato direto com George, não? Ele chegou a ouvir o seu trabalho? Vocês se encontraram pessoalmente?
Foi quando ele esteve em 1979 para o Grande Prêmio de
Fórmula 1. Depois de uma longa espera na porta do Hilton Hotel, em São Paulo, ele chegou e pude tirar duas fotos suas descendo de uma Limusine. Infelizmente, apareceram duas fãs histéricas que puxaram sua camisa e ele saiu correndo escada acima. O meu segundo contato foi
através de um grande amigo, Marco Antonio Malagolli, presidente do fã-clube Revolution. Impressionado com a minha habilidade de reproduzir a sonoridade de Harrison, ele me convenceu a gravar uma fita contendo uma pequena coletânea de canções da carreira solo de George. Iss me custou 3 meses de trabalho, pois gravei todos os instrumentos em um gravador semi-profissional. Ao ouvir, George acabou confundindo as músicas com os seus próprios play-backs e perguntou a Malagolli onde ele tinha obtido aquele material pirata. Bem, esta historia é um pouco longa, mas, no final, recebi uma foto autografada e uma gravação dele dizendo que eu tocava muito bem e que nem ele mesmo mais lembrava daquelas músicas.

Como você acha que fica o mundo com somente dois Beatles restantes?
No momento, prefiro orar por George Harrison.

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