Poucas vezes é possível encontrar em um livro de arte uma reunião de artistas dedicados e estilos muito diferentes. O que não deixa de ser estranho, ainda mais quando se trata de arte produzida sobretudo a partir dos anos 60, quando diversas tendências passaram a ser adotadas. Assim é uma agradável surpresa o lançamento de Brazilianart II, obra que reúne 40 importantes artistas, entre os quais Aldemir Martins, Evandro Carlos Jardim e Tuneu e Eduardo Sued. É também um livro democrático, como prova a maneira pela qual foi idealizado. A convite da Jardim Contemporâneo Editora, o crítico de arte Olívio Tavares de Araújo reuniu uma equipe composta por ele mesmo, a curadora Nair Barbosa Lima e os artistas Arcangelo Ianelli, Ivald Granato e Rubens Gerchman. Cada membro da comissão foi encarregado de elaborar uma lista com artistas reconhecidos, cuja obra tenha sido construída a partir dos anos 60. Estes nomes foram submetidos a uma votação e, por este método, os mais votados foram os escolhidos. "Assim pudemos fazer uma obra representativa, sem depender de escolhas pessoais", diz Olívio Tavares de Araújo.
A edição, impressa em papel couché fosco, traz os textos em português e inglês. O primeiro é de Olívio Tavares de Araújo, que faz um breve ensaio, "Brasilidade na Arte Brasileira (à luz de um pouco de história)". Há ainda dois textos de Geraldo Mayrink, com o histórico de nove museus de São Paulo e do Rio, além de um outro sobre preservação e promoção da cultura brasileira. "Para mim, o livro tem duas qualidades importantes: além de bem-feito visualmente, não está ligado a nenhum viés de arte, os artistas não foram escolhidos por uma ideologia estética", diz Olívio Tavares de Araújo.
Os capítulos seguintes, um para cada artista, revelam a liberdade proposta pelo projeto. Todos tiveram total independência tanto para a escolha das obras que ilustram o livro quanto para os textos que abrem as seções, cuja função é explicar a essência da obra de cada um. O resultado é curioso e variado.
Um dos primeiros artistas do livro - estão ordenados em ordem alfabética -, Aldemir Martins optou por colocar frases de personalidades como Antonio Callado, Antonio Cândido, Di Cavalcanti, Ferreira Gullar e Jorge Amado, além de uma breve crítica de Pietro Maria Bardi. Outros optaram por textos críticos publicados em catálogos ou na imprensa, como Aldir Mendes de Souza, Flavio-Shiró e Ana Bela Geiger. Em outros casos, há textos do próprio artista. Luiz Paulo Baravelli reproduziu trechos de uma entrevista. Rubens Gerchman preferiu usar um poema seu. Há textos bem-sucedidos como apresentação, outros nem tanto, mas como a escolha reflete o artista, não deixa de ser reveladora. Além disso, esta apresentação é complementada ao final do livro com um breve texto biográfico sobre cada um deles, que inclui dados como exposições e bienais de que participaram, museus que possuem suas obras e nomes de alguns críticos que escreveram sobre eles.
Cada artista tem sua obra exemplificada em dez páginas. Um trabalho democrático e igualitário. Nenhum artista foi colocado como mais importante que outro. Neste espaço, além do texto de apresentação, que geralmente não ocupa mais de duas páginas, há reproduções de trabalhos, uma seleção que também foi feita pelos próprios artistas. A obra que abre cada seção poderá ser vista em uma rápida exposição organizada para comemorar o lançamento do livro. A mostra Arte Brasileira 60-90 - Brazilianart II ficará aberta por uma semana, no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE). A maior parte dos artistas optou pela inclusão de obras recentes, em vez de mais conhecidas.
É o caso de Amelia Toledo. Os trabalhos escolhidos por ela são um bom exemplo da sua produção atual. Há alguns anos ela tem se dedicado a realizar obras com pedras. Também Hércules Barsotti optou por colocar quadros recentes, que mostram como ele tem usado novamente a areia, agora opaca, em contraste com o brilho do quartzo que se via nos trabalhos do início de sua carreira. Um exemplo de que Barsotti, aos 82 anos, ainda produz uma obra instigante.
Mas não só artistas com uma trajetória longa foram selecionados. Aguilar, Antonio Henrique Amaral, Marcos Benjamim, Luiz Cazarré, Wanda Pimentel, Carlos Eduardo Zimmermann e Gregório Gruber são alguns exemplos de artistas mais jovens que construíram uma carreira sólida e por isso foram incluídos no livro.
Mas é claro que ficaram de fora alguns nomes. Por isso a editora transformou o Brazilianart em um projeto que pretende publicar livros anualmente. Os critérios para as próxima edições ainda estão sendo definidos, mas provavelmente haverá uma divisão por técnicas. Assim, o próximo tem boas chances de ser sobre escultura e objetos. Há planos também para gravuras e desenhos.
InvestNews/ Gazeta Mercantil
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