Catorze criações do estilista italiano Giorgio Armani, que faziam parte do acervo do Museu Guggenheim de Nova York e da coleção pessoal do designer, serão exibidas no Brasil a partir do dia 26 em um cenário inédito para uma mostra deste tipo: o ambiente "atelier do estilista" criado pelo arquiteto Leo Shetman para a Casa Cor 2002. "Esta é uma homenagem a um criador extraordinário que influenciou padrões estéticos em escala global e que gerou impacto para além das fronteiras da moda", diz o arquiteto brasileiro. "Muitos designers contemporâneos têm sido influenciados pelas artes visuais, enquanto muitos artistas contemporâneos se apropriaram da moda como meio de expressão", diz Thomas Krens na abertura do livro lançado sobre a exposição Giorgio Armani inaugurada em Nova York há dois anos. A mostra abordava a contribuição do estilista italiano para o mundo do design por meio das roupas que criou ao longo de 25 anos de carreira. Atualmente a mostra está aberta na "filial" do Guggenheim em Bilbao, na Espanha, que por ser menor que a sede não comportou todas as roupas selecionadas pelo curador Harold Koda para a exposição de 2000.
Houve mais coincidências felizes que permitiram a vinda desta fração da exposição ao Brasil. Dentre elas, a decisiva foi a boa vontade do diretor de estilos de Giorgio Armani, Nicola Maimoni, em levar ao chefe o projeto concebido por Shetman.
Armani tem mais afinidade com o mundo da arquitetura do que se supõe. Em 1975, depois de uma breve passagem pela faculdade de medicina, começou sua aventura no mundo do design ao lado do arquiteto Sergio Galeotti. Dos estudos, o estilista absorveu a relação entre anatomia e design e da convivência com o sócio desenvolveu a capacidade de reconhecer as raízes da transformação estrutural em formas e volumes. A partir destas noções, Armani percebeu que o conceito tradicional de moda era inadequado para as profundas mudanças sociais e intelectuais que haviam ocorrido na década anterior. Graças a essa compreensão, revolucionou o modo de vestir na década posterior.
Nos anos 80, suas roupas ao mesmo tempo confortáveis e elegantes conquistaram tanto os tubarões do capitalismo financeiro e da economia globalizada como também as mulheres que, à custa dos sutiãs queimados na década de 1960, podiam torrar fortunas em seus costumes Armani para mostrar no trabalho o quanto eram poderosas. Alguns tailleurs e ternos deste período serão mostrados no Brasil. Sugestões para a noite, como a túnica bordada em fios de ouro e cristal Swarovski da coleção de 1991, demonstram o luxo elegantemente comedido que orienta a obra do estilista e sua obsessão pela qualidade das matérias-primas.
Aparentemente uma peça simples, o conjunto de blazer com bermuda da coleção primavera/verão de 1992 é, na verdade, um exemplo de ousadia porque representa o momento a partir do qual a mulher já se sentia suficientemente segura da sua capacidade profissional para não mais esconder sua feminilidade (nem suas pernas). "Mas não vai faltar glamour à exposição", garante Shetman.
Da coleção particular de Giorgio Armani serão mostrados no Brasil os vestidos usados pelas atrizes italianas Sophia Loren, Claudia Cardinale, Ornella Mutti e pela primeira-dama da Itália, Franca Ciampi.
Outro fato inédito é a forma pela qual as peças serão apresentadas. "Em vez de manequins estáticos, teremos uma espécie de móbile, em que os bonecos sobem e descem", diz Shetman, que para fazer esta exposição dinâmica funcionar precisou pedir auxílio tecnológico ao produtor teatral argentino Billy Bont, que montou o musical Os Miseráveis em São Paulo. "O sistema é típico do teatro", completa Shetman.
"Está cada vez mais claro para as pessoas que a moda, a arquitetura e as artes decorativas compartilham dos padrões comuns", aponta Shetman. "Meu desafio neste trabalho era convergir as tendências destas três áreas em um espaço destinado a inspirar um criador", completa.
A partir constatação de que convenções estéticas influenciam profundamente o estilo de vida das pessoas, o artista italiano Giacomo Balla (1871-1958) - futurista dos primeiros tempos do Modernismo - defendia a idéia de um ambiente em que a harmonia estética fosse total, incluindo arte, arquitetura, design de objetos e a moda. Ao que parece o futuro já chegou.
InvestNews/ Gazeta Mercantil
volta