Os artistas do Circus Oz, que se apresentam no Teatro Alfa, em São Paulo, até o dia 1 de junho, formam um espetáculo imperdível. Esta trupe australiana, que carrega uma influência marcante do canadense Cirque du Soleil, foi criada há 24 anos e volta ao Brasil depois de apresentar-se no Ginásio do Pacaembu, em 1993, também na capital paulista.Os artistas se propõem, antes de qualquer coisa, a fazer um espetáculo que traga a marca registrada do seu país. "Não somos nacionalistas, e já trabalhamos com artistas de diferentes nacionalidades", afirma o diretor do circo, Mike Finch. "Porém, em tempos de globalização, fazemos questão de criar um espetáculo que seja inconfundivelmente australiano."
Todos nós temos uma memória e uma imagem do que seja um espetáculo de circo: grotesco ou fantástico, admirável ou patético, alegre ou melancólico, o circo de que todos nos lembramos tem um pouco de tudo isso.
Finch e sua trupe conseguem trazer todas essas emoções contraditórias para dentro de seu espetáculo, e o fazem de maneira inconfundível: é notória a irreverência dos artistas, que não param de brincar com a platéia e transformam espectadores em atores involuntários.
Outra característica do grupo é senso de humor seco e direto que se manifesta, por exemplo, em números como o da corda-bamba de fogo - um dos primeiros do espetáculo, que fez a platéia retorcer-se de tanto rir -, que, ao mesmo tempo em que admiram pela sua proeza técnica, fazem pensar na informalidade, na ironia e na alegria dos artistas.
Trata-se de um espetáculo de teatro que é, ao mesmo tempo, um circo e uma reinterpretação de uma estética, de um conjunto de emoções pertinentes ao mundo do circo. A compenetrada solenidade dos números mais espantosos do "Grande Circo" aqui dá lugar a versões bem-humoradas desse mesmo repertório, como no caso dos acrobatas-equilibristas que precedem o seu número com um hilariante "sketch", em que arrasam com os delírios de virtualidade dos tempos modernos.
Elementos tradicionais também entram em cena: trapezistas que deixam o público de boca aberta e as crianças com o coração na mão; malabaristas capazes de equilibrar dez pratos girando na ponta de varas; equilibristas que desafiam o fogo no alto da corda bamba.
Só que em vez de pompa e circunstância, tudo isso é acompanhado de comentários sarcásticos: ao mesmo tempo, Circus Oz é um circo e também uma paródia do espetáculo circense.
De qualquer forma, é impossível conter a admiração diante de artistas que sustentam o peso de outros atados às suas cabeleiras, ou atravessam o palco de ponta a ponta em rodas de fogo.
A música ao vivo acrescenta enorme vitalidade ao espetáculo, e é também o tema de um dos números apresentados, no qual uma pequena orquestra aos poucos vai se desfazendo, terminando com o hilariante vôo do contrabaixista e seu instrumento.
Os artistas, deliberadamente andróginos, excessivamente grandes ou excessivamente pequenos, criam um universo humano em que se diluem as fronteiras. Sexualizados e irônicos tanto quanto ágeis e surpreendentes, os australianos do Circus Oz criam o mais fantástico e esquisito circo mambembe da Terra.
Reuters
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