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Casa da América em Madri sedia encontro de escritores brasileiros

Terça, 17 de junho de 2003, 16h51

A madrilenha Casa da América acolhe a partir desta terça-feira, o primeiro encontro de escritores brasileiros, uma oportunidade para fomentar a relação de editores e autores espanhóis com os escritores de prestígio do país.

O encontro é aberto pelo diretor geral do Livro, Fernando de Lanzas e as atividades vão até a próxima quinta-feira, 26.

No dia 19, será projetado na Casa da América o filme Netto perde sua alma (Netto pierde su alma), de Beto Souza e Tabajara Ruas.

Este encontro servirá para encurtar a distância que separa o Brasil e a Espanha no mundo editorial, uma circunstância que hoje alguns destes escritores atribuíram à singularidade de sua língua e à obrigatoriedade da tradução.

Para João Silvério Trevisan (Ribeirão Bonito, 1994), escritor, roteirista de cinema, tradutor e coordenador de oficinas literárias, o problema que o Brasil tem para divulgar seus escritores "é uma mistura de situações complicadas".

Reconheceu que "a necessidade de ter de traduzir o texto é algo que não acontece em outros países".

O "Brasil é quase um continente perdido na América Latina, o isolamento é uma característica nossa com relação à Espanha e à Europa e, por exemplo, a nós não chegou o chamado 'boom latino-americano' pela Europa", comentou Trevisan.

Outro dos escritores, Carlos Leão de Andrade, afirmou que a Espanha e a América Latina têm hoje um papel muito importante com o Brasil.

Afirmou que "se fossem reunidos os 250 milhões de falantes portugueses com os hispano-falantes se formaria uma força comum cultural e política capaz de competir com os países mais desenvolvidos. Poderia ser o plano maior da cultura para o século XXI", previu.

Junto a este escritor estão em Madri nomes como Luiz Antônio de Assis Brasil, Affonso Romano de Sant'Anna, Tabajara Ruas, Leticia Wierzchowski, Alberto Helena, Milton Hatoum e Marina Colasanti, entre outros, que debaterão com os autores espanhóis Almudena Grandes e Fernando Marías.

Nomes que representam a diversidade de opiniões e de correntes que possui este país de 175 milhões de habitantes e que atualmente está experimentando as mudanças do novo Governo do presidente Lula.

Para o poeta e ensaísta Affonso Romano de Sant'Anna (Belo Horizonte, 1937), o "Brasil é um mercado muito importante, mas um mercado complexo porque, embora haja 170 milhões de habitantes, só 10 ou 20 (milhões) deles são consumidores".

"É necessário uma mudança radical na sociedade para que o resto da população possa ter acesso à sociedade de consumo", acrescentou.

Por outro lado, Tabajara Ruas (Rio Grande do Sul, 1942) acha que as mudanças que o Brasil precisa vão mais devagar do que se esperava.

"No Brasil há tanto frenesi e tanta necessidade de que algumas coisas mudem, que parece que o Governo está mais parado e mais conservador nos assuntos econômicos que os senhores, mas há muitos desejos de mudanças profundas", comentou.

Segundo todos os conferentes, os livros têm maior dificuldade para ultrapassar as fronteiras brasileiras que a música e o cinema. Na opinião de Milton Hatoum, "ver cinema ou escutar música é mais fácil que ler. Além disso, as gravadoras multinacionais viajam, os livros, não".
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EFE

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