Escritor Paul Auster gostaria de acreditar em milagres
Terça, 17 de junho de 2003, 17h24
Por Marta Ruíz-Castillo e Blanca Rodríguez MADRI (Reuters) - O escritor norte-americano Paul Auster, criador de um universo literário próprio e repleto de acasos e coincidências extraordinárias, garante que não acredita em milagres. Não obstante, ele reconhece que gostaria de acreditar e sugere que existem momentos felizes ou inesperados que poderiam merecer essa definição. ``Coisas estranhas acontecem a todo momento, algumas delas más -- a maioria, aliás --, mas algumas boas também. Acho importante recordar que os milagres são um misto de coisas terríveis e, por outro lado, de coisas extraordinariamente maravilhosas'', disse o escritor à Reuters em entrevista concedida na tarde de segunda-feira. De passagem por Madri antes de um encontro marcado com seu editor, Jorge Herralde, diante de um auditório lotado de fãs, Auster parecia decidido a conservar seu jeito natural e humilde. Apesar disso, sua presença no Círculo de Belas Artes da Espanha lembrou a de qualquer astro ou estrela de cinema. ``Não vejo a mim mesmo como celebridade'', disse o escritor de 56 anos, quase alarmado. Sem dar importância ao fato, afirmou que a meia dúzia de leitores que se aproximaram dele para pedir autógrafos, assim que ele pôs os pés na cafeteria, o fizeram simplesmente porque sabiam que ele estaria ali. Falando da diferença que pode existir entre escrever como desconhecido ou escrever quando se é alvo de veneração por parte de seguidores que aguardam, ansiosos, por qualquer coisa que ele publique, Auster continuou a minimizar os efeitos de sua popularidade. "Me sinto o mesmo de sempre... Escrever continua a ser tão difícil quanto sempre foi, talvez ainda mais difícil. Você continua a aprender, continua a sentir-se sempre como um principiante", afirmou. "Cada vez que você escreve um livro é uma aventura nova, afinal, você nunca escreveu aquele livro antes e precisa ensinar a você mesmo a escrevê-lo à medida que o vai fazendo", assegurou. X guisa de explicação, acrescentou que "se existe alguma coisa que nos ensina a sermos escritores é nossa própria estupidez - e isso aprendemos a cada dia que passa -, o quão mal escrevemos e o quão pobres são nossas idéias..." Autor de poemas, ensaios, roteiros cinematográficos e até obras de teatro, Auster teve seu primeiro sucesso com A Trilogia de Nova York e desde então já publicou vários outros títulos, como A Música do Acaso e Leviatã. Na Espanha, acaba de chegar às livrarias seu último romance, O Livro das Ilusões e, quanto a seu próximo trabalho, Auster adiantou apenas seu título, Oracle Night, e o fato de que seu lançamento nos EUA está previsto para dezembro. "É difícil falar de um livro que ninguém pode ler por enquanto", disse, justificando seu silêncio sobre a obra.
Reuters
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