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Livraria considerada meca da geração beat completa 50 anos

Sábado, 21 de junho de 2003, 11h58

A maioria dos escritores da geração beat já desapareceu, mas a livraria de San Francisco onde se reuniam e seu dono não dão sinais de estarem abrandando suas posições, mesmo depois de 50 anos.

O poeta e editor de 84 anos Lawrence Ferlinghetti, dono da lendária City Lights Bookstore, continua a demonstrar o traço de inconformismo que o levou a ser preso em 1957, acusado de obscenidade por ter publicado o inovador poema Howl, de Allen Ginsberg.

Em entrevista à Reuters, Ferlinghetti, em lugar de falar da livraria que ajudou a fundar em junho de 1953, preferiu tratar de um tema que acha muito mais importante nos dias de hoje: o que ele vê como sendo a onda de repressão movida pelo governo norte-americano contra as liberdades civis.

"Nossa posição foi de dissidência desde o começo", disse ele, falando em seu escritório no andar de cima da livraria situada no bairro de North Beach, em San Francisco, onde a loja é há anos uma atração turística muito procurada.

Quando a City Lights foi aberta, num bairro que, na época, era de maioria italiana, tornou-se a primeira do país a vender apenas livros de capa mole (hoje também oferece volumes de capa dura).

Ela ganhou fama como lugar onde, até hoje, o leitor pode encontrar títulos de radicais de todo o espectro político, obras não disponíveis nas grandes livrarias comerciais.

Naquela época, a livraria era um reduto constante de escritores como Ginsberg e Jack Kerouac, que se reuniram em San Francisco nos anos 1950. Eles e seus companheiros ficaram conhecidos como a "geração beat" porque sua obra adotava a batida do jazz e da fala americana do dia-a-dia.

Enquanto percorriam os bares e cafés de North Beach, escrevendo sobre desilusão, rebelião e raiva da complacência da América do pós-guerra, os beatniks encontravam em Ferlinghetti um espírito irmão.

"Eles eram os hippies da Idade da Pedra", disse Ferlinghetti, autor de várias coletâneas de poemas e outras obras, incluindo o aclamado A Coney Island of the Mind.

OBSCENIDADE

Embora Ferlinghetti observe que a história da livraria ultrapassa a dos beats, foi esse grupo de escritores, ao lado da decisão da City Lights de publicar Howl, o principal responsável por sua fama.

Pouco depois do lançamento de Howl, em 1956, as autoridades federais acusaram Ferlinghetti de obscenidade, já que a coletânea de poemas era repleta de imagens sexuais. O escândalo levou a livraria a ser mundialmente conhecida.

Ferlinghetti acabou sendo absolvido, numa decisão judicial que abriu caminho para a publicação de outros livros proibidos, tais como O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence, e Trópico de Câncer, de Henry Miller.

A livraria foi alvo da polícia em duas outras ocasiões nos anos 1960, por vender material explícito. As acusações foram arquivadas e a fama da City Lights de centro de livre expressão cresceu ainda mais.

Apesar de tudo isso, porém, Ferlinghetti acha o clima político atual mais preocupante. Ele considera que os norte-americanos perderam mais liberdades civis com a aprovação da Lei USA Patriot, promulgada depois de 11 de setembro de 2001 para combater o terrorismo, do que com as caças às bruxas que marcaram o anticomunismo acirrado dos anos 1950.
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Reuters

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