Mensagem de George Orwell continua viva 50 anos depois de sua morte
Terça, 24 de junho de 2003, 10h03
Mais de meio século depois da morte de George Orwell (1903-1950), as palavras Big Brother lembram mais um programa de televisão do que o conceito de estado totalitário que ele descreveu em sua obra-prima "1984", mas a mensagem do escritor britânico continua sendo muito atual. Big Brother é hoje sinônimo de "reality shows" ou "lixo da televisão", programas intelectuamente pobres que mostram a convivência de um grupo de pessoas em um espaço fechado e sob a vigilância de câmeras 24 horas do dia. Entretanto, a despeito da apropriação que a televisão fez destas duas palavras, a obra de George Orwell, que - se estivesse vivo - completaria cem anos esta quarta-feira, mantém a precisão de suas advertências e ainda se mostra atual ao observarmos as medidas empregadas nesses tempos pelos governos para oficialmente lutar contra a insegurança: controle das conversas pelo telefone, filtro dos correios eletrônicos, etc. Segundo as organizações Anistia Internacional e Repórteres sem Fronteiras, esta última prática permite às autoridades estabelecer verdadeiros cadastros dos usuários, como ocorre nos Estados Unidos, ou pegar "ciberdissidentes", como na China ou no Vietnã. Ironicamente, A Revolução dos Bichos, sátira do totalitarismo escrita por Orwell em 1945, foi montada em um teatro de Pequim em novembro de 2002, quando o regime chinês instalava novos líderes. Neste romance, os animais tomam o poder em uma fazenda para se livrar da exploração humana, entretanto, os porcos acabam exercendo um poder ainda mais brutal do que o dos antigos opressores. Eric Arthur Blair, seu verdadeiro nome, nasceu no dia 25 de junho de 1903 em Motihari (Índia). Estudante em Eton, viveiro das classes dirigentes britânicas, não se adaptou ao meio e preferiu se alistar na polícia da Birmânia, atual Mianmar. De volta à Europa, publicou vários ensaios, principalmente sobre o desemprego. Adotou seu pseudônimo em 1933. O momento-chave na vida do escritor foi sua viagem a Barcelona para lutar contra o fascismo na guerra civil espanhola. Ali escreveu sua "Homenagem à Catalunha" (1938). Entretanto, na ocasião do 50º aniversário da morte de George Orwell e do centenário do nascimento, a imprensa inglesa fez revelações que mostram um aspecto muito diferente e surpreendente da personalidade do escritor. Segundo jornal The Guardian, George Orwell enviou, em 1949, ao governo britânico uma lista de 38 simpatizantes comunistas, conhecidos ou suspeitos, entre eles os atores atores Charles Chaplin e Michael Redgrave. O escritor enviou esta lista a uma amiga, funcionária do Foreign Office. O jornal afirma que Orwell - que classificava de "criptocomunistas" as pessoas que estavam na lista - tinha atuado assim por amor pela funcionária em questão. Além de 1984, traduzido para 62 idiomas, e de A Revolução dos Bichos, Orwell é autor de meia dúzia de romances e outros 700 ensaios e artigos.
AFP
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