A influência de Picasso nos versos de Pablo Neruda
Ensaio analisa, ainda, a relação de outros poetas com o criador de 'Guernica'
EFE - Um ensaio analisa a influência do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) sobre o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) e sobre os espanhóis da Geração de 27, cujos versos reinterpretam Guernica e outras famosas pinturas e símbolos do artista, prestes a ser comemorado, em 2023, 50 anos após sua morte. Os Poetas de Picasso é um estudo de muitos anos da professora universitária de Teoria Literária e Literatura Comparada María Isabel López.
"A figura de Picasso foi essencial nas relações interartísticas no início do século 20?, explicou López, numa altura em que a vanguarda recuperava a ideia romântica de uma arte única com manifestações na música, na pintura ou literatura. A professora compara obras de arte e textos literários para dar sentido aos versos e conclui que "a obra pictórica cresce fora de seu campo".
Metade do ensaio é dedicada a Neruda, com quem Picasso teve uma longa relação e com quem também tinha uma afinidade ideológica comunista, como foi o caso do poeta espanhol Rafael Alberti.
Em As Uvas e o Vento, Neruda dedica dois longos poemas a Picasso, nos quais se aprofunda na figura do artista, recria sua estada em Vallauris (França) e reinterpreta a famosa Guernica ou a pomba da paz, dois símbolos ligados ao seu compromisso político.
A especialista diz que esses poemas são muito complexos de analisar e que isso só é possível se levarmos em conta as pinturas de Picasso e a relação entre imagem e palavra.
A segunda parte do livro é para os poetas de 1927, como Jorge Guillén, Vicente Aleixandre ou Alberti, especialmente os que assistiram ao funeral de seu amigo Picasso na França de sua residência italiana.
Alberti, como muitos outros autores, revê os símbolos do pintor - o galo, o touro, o cavalo ou a pomba - em um livro inteiro, Os 8 nomes de Picasso, que inclui a Balada de Les demoiselles d'Avignon, obra importante, segundo López, sobre a relação entre a poética e a obra de Picasso.
O espanhol Federico García Lorca refletiu sobre o cubismo como um novo olhar para a arte e elogiou Picasso; em seus poemas, sem se referir expressamente ao artista, ela adota as técnicas desse movimento pictórico, que se manifesta naquela "sobreposição de planos" que ocorre em seus versos menos ligados ao realismo, aponta a ensaísta.
A professora alude várias vezes a Guernica, a obra-prima de Picasso, que atrai muitos escritores porque combina "estética e compromisso político".