A melhor música de metal feita por artistas negros, segundo a Rolling Stone EUA
Canção escolhida pela publicação americana tem forte carga política em sua letra e riff inspirado por Led Zeppelin e Mahavishnu Orchestra
Negros são minoria no heavy metal. É indiscutível. O estilo musical fortemente desenvolvido nos Estados Unidos e Reino Unido representa um lado do rock e absorve influências do blues, dois gêneros concebidos por afroamericanos, mas por alguma razão adquiriu raízes majoritariamente — ainda que não exclusivamente — brancas.
Naturalmente, a lista publicada em 2023 pela Rolling Stone EUA com as 100 melhores músicas de heavy metal na opinião de sua equipe é dominada por artistas brancos. Todavia, há um grupo formado por negros muito bem posicionado no ranking.
Trata-se do Living Colour, que teve seu grande hit "Cult of Personality" abordado na 12ª posição. A faixa que abre o álbum Vivid (1988) encontra-se acima de clássicos como "Stargazer" (Rainbow), "Immigrant Song" (Led Zeppelin), "Peace Sells" (Megadeth) e "Caught in a Mosh" (Anthrax).
Um texto assinado pelo jornalista J.D. Considine define "Cult of Personality" da seguinte forma:
"É difícil falar sobre Living Colour sem abordar política, em parte por causa do que significava ser um homem negro tocando heavy metal nos Estados Unidos sob governo de Ronald Reagan, mas também porque 'Cult of Personality', como Greg Tate apontou, 'conseguiu a façanha de colocar uma amostra de [um discurso de] Malcolm X na rádio'. [Winston Churchill e J.F.K. também.] Ainda assim, apesar da letra que junta Mussolini com Kennedy e Stalin com Gandhi, o conteúdo mais impactante veio da guitarra de Vernon Reid, graças a um riff que ele descreveu como tendo 'uma vibe Led Zeppelin, mas também uma coisa Mahavishnu Orchestra acontecendo'."
Living Colour e "Cult of Personality"
Com criação assinada pelos quatro integrantes originais do Living Colour — Corey Glover (voz), Vernon Reid (guitarra), Muzz Skillings (baixo) e Will Calhoun (bateria) —, "Cult of Personality" tem título extraído de um discurso contrário a Josef Stalin, "Sobre o culto à personalidade e suas consequências". Surgiu em meio a ensaios da banda, a partir de uma melodia cantarolada por Glover, e logo ganhou corpo com um trecho de letra oferecido por Reid.
Em entrevista de 2018, o guitarrista explicou que a letra visa refletir sobre como a dualidade de "pessoa boa e pessoa má" deve ser superada. Ele explica:
"O que o bom e o mau têm em comum? Existe algo que une Gandhi e Mussolini? Por que eles são quem são? E parte disso é carisma."
O álbum que a traz, Vivid, chegou ao sexto lugar da parada americana e conquistou disco de platina dupla por lá. Já o single da canção atingiu a 13ª posição no mesmo país, posição mais alta no ranking nacional.
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