A sabedoria popular nos provérbios alemães
Uma pequena amostra de provérbios alemães, para você saber o que os pardais estão fazendo no telhado, como caçar ratos e o que a minhoca tem a ver com quem cedo madruga.
Vários provérbios que condensam a sabedoria popular existem em muitos idiomas de forma literal ou ligeiramente modificada. É o caso do pássaro na mão que vale mais do que dois voando, que tem logo duas versões em alemão: Der Spatz in der Hand ist besser als die Taube auf dem Dach (O pardal na mão é melhor do que a pomba no telhado) e Ein Sperling in der Hand ist besser als zehn auf dem Dache, em que, para aumentar a força de convicção, puseram logo dez aves no telhado.
Todo um zoológico, como nas velhas fábulas
Os pássaros e muitos animais são figuras sempre presentes nos provérbios, muitos deles baseados em observação da natureza ou em máximas dos camponeses (Bauernregeln). Assim, também por estes céus deu para perceber que Eine Schwalbe macht noch keinen Sommer (Uma andorinha só não faz verão).
Em matéria de previsão do tempo, as máximas camponesas são verdadeiras pérolas: Wenn der Hahn kräht auf dem Mist, ändert sich's Wetter oder 's bleibt wie 's ist. (Quando o galo canta sobre o esterco, o tempo muda ou fica como está) – uma precisão de fazer inveja à meteorologia moderna.
Quanto às pequenas pragas, os agricultores sabem muito bem como lidar com elas: Mit Speck fängt man Mäuse (Ratos se pegam com toucinho). Quem tiver outros inimigos, basta procurar a isca certa.
Para outros provérbios, não funciona a tradução literal, embora haja correspondente em português. Como neste aqui, com mais um pássaro: Der frühe Vogel fängt den Wurm (O pássaro madrugador pega a minhoca).
Qualquer semelhança com "Deus ajuda quem cedo madruga" é intencional. A mesma moral favorecendo quem trata logo dos seus deveres tem também este provérbio alemão: Morgenstund hat Gold im Mund (As horas da manhã têm ouro na boca).
De desgraças, duras verdades e ervas daninhas
Há outros cuja origem se perde no tempo e que acabaram reconhecidos em várias partes do mundo, como a constatação de que Ein Unglück kommt selten allein (Uma desgraça raramente vem sozinha), que encontramos em páginas brasileiras na internet como sendo provérbios do Rio de Janeiro (com problema, em vez de desgraça) e de Minas Gerais.
Que a mentira tem pernas curtas, os alemães sabem muito bem, mas você sabia que Die Wahrheit ist ein seltenes Kraut, noch seltener wer es gut verdaut ( A verdade é uma erva rara, mais raro ainda é quem a digere)?
Por falar em Kraut (erva), palavra presente no Sauerkraut e outros substantivos derivados: alguns provérbios têm o mesmo conteúdo em alemão e português, mas a comparação é completamente diferente. Como você traduziria Unkraut vergeht nicht ? Literalmente, erva ruim não morre. Que tal o nosso "Vaso ruim não quebra"?
A filosofia popular é inesgotável nessas verdades para uso prático. Se brasileiros e portugueses bem sabem que "Quando um não quer, dois não brigam", os alemães sabem como a história continua: Wenn Zwei sich streiten, freut sich der Dritte (Quando dois brigam, se alegra o terceiro), máxima, ao que tudo indica, proveniente do latim (Inter duos litigantes tertius gaudet), como muitas outras, e que não deixa de ser uma variação do "Ri melhor quem ri por último".
Pílulas para não padecer
E quem despreza a moral dos aforismos, sofre as consequências: Wer Wind sät, wird Sturm ernten (Quem semeia vento, colhe tempestade) e Was man nicht im Kopfe hat, muss man in den Beinen haben (O que não se tem na cabeça, tem de se ter nas pernas), ou "Quando a cabeça não ajuda, o corpo padece".
Os gananciosos que se cuidem: Kleinvieh macht auch Mist (Animal pequeno também produz esterco). E Wer den Pfennig nicht ehrt, ist des Talers nicht wert (quem não honra o centavo, não merece o dinheiro). Dois provérbios com uma moral muito clara: quem não dá valor ao que é pequeno, não merece a grandeza, Wer das kleine nicht erht, ist des Grossen nicht wert.
E como este artigo já está ficando longo, encerro com o belo In der Kürze liegt die Würze, que fica de lição de casa, charada e quebra-cabeça a estudantes de alemão e poetas, com a indicação de que nas coisas breves está o essencial, e também a graça.