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Acho que Bolsonaro está me dispensando, diz Regina Duarte

Atriz foi surpreendida com renomeação de Dante Mantovani, seguidor de Olavo de Carvalho e guru do bolsonarismo, à presidência da Funarte

5 mai 2020 - 14h11
(atualizado às 19h35)
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Foto: Fátima Meira / Futura Press

A secretária especial de Cultura, Regina Duarte, foi surpreendida com a renomeação do maestro Dante Henrique Mantovani para a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte), exonerada por ela há dois meses, segundo apurou o Estado de S. Paulo. A volta de Mantovani ao cargo foi entendida internamente no governo como uma sinalização de que o prazo da atriz na pasta está prestes a vencer. Regina está em Brasília e há a expectativa que ela se encontrar com o presidente Jair Bolsonaro ainda nesta terça-feira, 5.

Mais tarde, Jair Bolsonaro tornou sem efeito o ato do chefe da Casa Civil, general Walter Braga Neto, que renomeou Mantovani. A decisão atendeu a pressões de dentro e de fora do Planalto. A primeira nomeação de Mantovani havia sido no dia 4 de novembro do ano passado. Seguidor do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, ele já disse em vídeo que o "rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo".

Em conversa com sua assessora de imprensa nesta manhã, Regina relatou a surpresa com a nova nomeação de Mantovani e disse achar que o presidente quer demiti-la. O áudio foi gravado pela revista eletrônica Crusoé. "Que loucura isso, que loucura. Eu acho que ele está me dispensando", diz trecho da conversa captada pela publicação.

Na secretaria de Cultura, o processo de "fritura" de Regina é tema recorrente entre os integrantes da pasta. A atriz de 72 anos tem ficado em sua residência em São Paulo durante a pandemia do coronavírus. Por integrar o grupo de risco, ele tem participado de reuniões por videoconferência. A ausência física, no entanto, intensificou os reveses que tem sofrido com o grupo ideológico do governo, avançando sobre as nomeações na Cultura.

Ao mesmo tempo, a secretária que aceitou o cargo no governo após ser cortejada pelo presidente e integrantes do governo acabou ficando isolada. Regina teve a escolha para o cargo defendida pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, como um nome para apaziguar os ânimos e recuperar a imagem do governo após a demissão em janeiro do ator Roberto Alvim, então secretário de Cultura que gravou um vídeo com referências ao nazismo.

Há alguns dias, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que "infelizmente a Regina está trabalhando pela internet" e que esperava que ela estivesse mais próxima. "Eu gosto de conversar pessoalmente com as pessoas. A gente espera que restabeleça a normalidade rapidamente no Brasil para poder funcionar."

Antes da volta de Mantovani ao cargo, Regina viu, no dia 23 de abril, a nomeação de Aquiles Brayner para o cargo de diretor do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas ser cancelada após blogueiros bolsonaristas o acusarem de ser "traidor" e "esquerdista infiltrado". Brayner tem doutorado em literatura e se graduou em psicologia e biblioteconomia. Antes, Brayner era nomeado no gabinete da Presidência e cuidava do acervo pessoal de Bolsonaro.

Cinco dias após Regina tomar posse na Secretária de Cultura em 4 de março , o Palácio do Planalto cancelou a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho da Secretaria de Diversidade Cultural. Filiado ao PSDB desde o final dos anos 80, Maria do Carmo também e tornou alvo de olavistas que espelharam na internet que ela era "petista".

Ao tomar posse no dia 4 de março, Regina disse ao presidente Jair Bolsonaro que não se esqueceria de que tinha recebido a promessa de "carta branca" no cargo. Em seguida, ao responder-lhe, Bolsonaro afirmou que exerceria o poder de veto, como já fez em todos os ministérios.

Os ataques à atriz se pontencializaram após ela conceder uma entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, e dizer que existe uma "facção" no governo que deseja retirá-la do cargo.

Estadão
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