Alvim: "A origem é espúria, mas assino embaixo das ideias"
Roberto Alvim disse ter 'convencido' o presidente Jair Bolsonaro de que a citação a Joseph Goebbels foi uma 'coincidência retórica'
O agora ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, afirmou ao Estado na manhã desta sexta-feira, 17, ter "convencido" o presidente Jair Bolsonaro de que a citação de uma frase similar a do propagandista do nazismo, Joseph Goebbels, em um discurso nas redes sociais, foi uma "coincidência retórica". Apesar de reconhecer a associação e afirmar repudiar o regime de Adolf Hitler, disse concordar com o conteúdo da frase. Mais tarde, nesta manhã, Alvim não aguentou às pressões e foi demitido por Bolsonaro.
"A origem é espúria, mas as ideias contidas na frase são absolutamente perfeitas e eu assino embaixo", disse o secretário. Segundo Alvim, na conversa com Bolsonaro, o presidente havia lehe garantido que ele não seria demitido.
Em vídeo de anúncio do Prêmio Nacional das Artes, Alvim citou textualmente trechos de um discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels.
"A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", disse Alvim no vídeo.
"A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada", disse Goebbels em pronunciamento para diretores de teatro, de acordo com o livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich.
Assista abaixo:
O texto lido por Alvim em tom solene e pausado é bem mais longo, com outros trechos claramente inspirados pela ideia copiada de Goebbels. Em sua longa fala, o secretário diz que a cultura sob Bolsonaro terá inspiração nacional, religiosa.
"Trata-se de um marco histórico nas artes brasileiras", diz ele sobre o prêmio. "2020 será o ano de uma virada histórica. 2020 será o ano do renascimento da arte e da cultura do Brasil", encerra.
A frase causou polêmica entre artistas e até mesmo entre apoiadores do governo de Bolsonaro, que cobraram a demissão do secretário. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também foi às redes sociais dizer que era preciso afastar Alvim "urgentemente" do cargo.