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A prática medieval de confinar casais em crise em uma prisão da Transilvânia

Pode parecer um pesadelo, mas dados apontam que por 300 anos esse tipo de terapia de casal foi bastante eficaz na região, hoje parte da Romênia.

7 ago 2017 - 19h00
(atualizado em 8/8/2017 às 11h23)
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Pode parecer um pesadelo, mas dados apontam que esse tipo de terapia de casal foi bastante eficaz na Transilvânia, famosa região que hoje faz parte da Romênia.

A prisão tinha uma mesa, um baú e uma cama de solteiro
A prisão tinha uma mesa, um baú e uma cama de solteiro
Foto: Stephen McGrath/BBC / BBCBrasil.com

A pitoresca Biertan, um de seus sete vilarejos listados como Patrimônio Mundial da Unesco, parece congelada no tempo. O uso de carroças ainda é parte da rotina diária e os moradores se reúnem para trocar suas mercadorias em uma praça da cidade. No centro da localidade, uma igreja do século 15 cercada por um forte composto de torres se agiganta sobre a cidade a partir de sua posição no topo da colina.

Dentro do templo, em um de seus muros fortificados, está um pequeno prédio com uma sala um pouco maior que uma despensa. Por 300 anos, casais enfrentando problemas no casamento estiveram ali, presos por até seis semanas pelo bispo local na esperança de que eles resolveriam seus problemas e evitariam um divórcio.

"Graças a essa construção abençoada, nos 300 anos em que Biertan foi a sede da diocese só tivemos um divórcio", disse Ulf Ziegler, atual padre dali.

Dentro da igreja de Biertan está uma 'prisão matrimonial' de 300 anos de idade
Dentro da igreja de Biertan está uma 'prisão matrimonial' de 300 anos de idade
Foto: Stephen McGrath/BBC / BBCBrasil.com

Divórcio, só em último caso

Hoje, a pequena e escura prisão é um museu com manequins.

O quarto tem teto rebaixado e paredes espessas e é equipado com uma mesa com uma cadeira, um baú e uma cama tradicionalmente saxônica, que parece pequena o bastante para pertencer a uma criança.

Do travesseiro e cobertor únicos até a mesa, tudo tinha que ser dividido enquanto os casais tentavam salvar seus casamentos nesse espaço minúsculo.

O luteranismo, a religião dos saxões transilvânicos, governava a maioria dos aspectos da vida e, apesar de o divórcio ser permitido em algumas circunstâncias - como o adultério -, a preferência era que os casais tentassem salvar a relação.

Um casal interessado em se divorciar voluntariamente visitaria o bispo, que os enviaria à prisão matrimonial
Um casal interessado em se divorciar voluntariamente visitaria o bispo, que os enviaria à prisão matrimonial
Foto: Stephen McGrath/BBC / BBCBrasil.com

Então, um casal interessado em se divorciar voluntariamente visitaria o bispo, que os enviaria à prisão matrimonial para ver se as diferenças entre eles poderiam ser resolvidas antes da separação.

"A prisão era um instrumento para manter a sociedade sob a antiga ordem cristã", explica Zielger, segundo o qual a igreja também protegia mulheres e crianças dependentes da união familiar.

Se o divórcio realmente acontecesse, o marido deveria dividir seus bens com a ex-mulher, mas se ele se casasse e se divorciasse de novo, a segunda esposa não teria direito a nada.

Um lugar parado no tempo

No século 12, os colonos saxões - originalmente de áreas que hoje pertencem a França, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha - foram convidados pelo rei Géza 2º da Hungria para se estabelecer na Transilvânia e protegê-la dos invasores tártaros e otomanos, assim como desenvolver a área economicamente.

Os saxões da Transilvânia eram artesãos industriais, e Biertan se tornou uma cidade importante de mercadorias e um conector cultural com uma população de 5 mil habitantes em 1510.

Hoje, ao caminhar pelas ruas de Biertan enquanto o sol começa a desaparecer por trás das colinas, alguns locais bebem cerveja sentados ao ar livre e um fazendeiro carrega seu feno pelo vilarejo.

A imponente igreja, com suas nove torres fortificadas cercando-a, é iluminada por luzes fortes e seu propósito é evidente: era um ponto central para os primeiros colonos saxões - um local seguro e de adoração.

A vista a partir da fortificação de 11 metros de altura da igreja se estende por toda a vila e a parte rural em volta
A vista a partir da fortificação de 11 metros de altura da igreja se estende por toda a vila e a parte rural em volta
Foto: Stephen McGrath/BBC / BBCBrasil.com

A vista a partir da fortificação de 11 metros de altura da igreja se estende por toda a vila e a parte rural em volta. Muitos residentes atuais cuidam de suas terras usando técnicas antigas de cultivo e trocam suas mercadorias para sobreviver.

Pastores castigados pelo tempo podem ser vistos nas colinas verdes dos arredores cuidando de ovelhas - uma cena que provavelmente não mudou muito durante os últimos séculos.

A vida continua passando em um ritmo devagar e meditativo, porém atualmente há menos pressão econômica e religiosa para os casais continuarem juntos.

"A razão para continuar junto provavelmente não era amor. O motivo era para trabalhar e sobreviver", diz Ziegler. "Se um casal ficasse trancado por seis semanas, era muito difícil eles terem comida o suficiente para o próximo ano, então havia uma pressão para sair e continuar trabalhando juntos."

Mas o padre acredita que mesmo hoje o conceito de uma prisão matrimonial pode oferecer lições para qualquer casamento moderno. E não é o único: ele diz que recebeu pedidos de casais que queriam usar a prisão para recuperar seus casamentos em frangalhos.

"Nas famílias modernas, há cada vez menos tempo para cada um de nós, estamos mais egoístas que nossos antepassados", diz Ziegler.

"Sofremos de solidão, e é por isso que hoje precisamos conversar mais, para que possamos descobrir o que é importante para nós e o que nos conecta."

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