Artistas lançam manifesto para proteger Veneza
Texto traz 10 mandamentos para salvar a cidade ameaçada pela crise climática; Mick Jagger e Wes Anderson estão entre os signatários
Um grupos de personalidades internacionais, como o músico Mick Jagger e os cineastas Francis Ford Coppola e Wes Anderson, enviou uma carta pública às principais autoridades da Itália com 10 "mandamentos" para proteger Veneza.
A mensagem é endereçada ao presidente da República, Sergio Mattarella, ao premiê Mario Draghi, ao ministro da Cultura, Dario Franceschini, ao governador do Vêneto, Luca Zaia, e ao prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro.
Além de Jagger, Coppola e Anderson, a lista de signatários inclui o cineasta James Ivory, a atriz Tilda Swinton, o artista Anish Kapoor, o diretor do Museu Guggenheim de Nova York, Richard Armstrong, e mecenas do mundo das artes. "É necessário um estatuto especial para Veneza, uma lei que proteja não apenas sua integridade física, mas também seu tecido urbano e sua identidade cultural", diz a carta.
A iniciativa da mensagem é da Fundação Venetian Heritage, que financia obras de restauração no centro histórico da cidade. "Pedimos que seja preservado não apenas o imenso patrimônio artístico, mas também a vida municipal que confere sua alma", acrescenta a carta. As personalidades apresentam uma lista de 10 "mandamentos" para garantir o futuro de Veneza, que está ameaçada pela crise climática e pelo turismo de massa, como a conclusão das obras do "polêmico Mose", sistema de barreiras para impedir o alagamento do centro histórico da cidade.
Construídas desde 2003 ao custo de 5,5 bilhões de euros, as comportas já funcionam em regime experimental desde o ano passado, mas o projeto só deve ser entregue totalmente em dezembro de 2021. Os artistas ainda cobram o fim do tráfego de grandes navios - como os de cruzeiro - pelo centro histórico de Veneza e a proteção do ecossistema da lagoa que abriga o coração da cidade.
Em relação ao turismo de massa, a carta pede a criação de um sistema de "reservas obrigatórias" para o acesso de grupos de visitantes e o combate aos aluguéis por temporada e à especulação imobiliária.
O decálogo ainda recomenda a "facilitação de aluguéis de pontos de negócios para residentes"; o "controle de licenças comerciais" para combater atividades abusivas; medidas para preservar o "decoro urbano" e evitar que Veneza se torne uma "Disneylândia"; uma "nova gestão do tráfego aquático"; e a criação de uma "sala de controle" para planejar eventos culturais.
Cruzeiros
No fim de março, o governo da Itália aprovou um decreto-lei que proíbe o tráfego de embarcações de 40 mil toneladas ou mais pelo centro histórico de Veneza.
Tradicionalmente, navios de cruzeiro atravessavam a Bacia de San Marco e o Canal de Giudecca para chegar a um terminal de passageiros ao lado da principal estação ferroviária da cidade - são famosas as fotos que mostram o contraste entre o gigantismo desses transatlânticos e a fragilidade das construções.
No entanto, o decreto do governo estabelece que, até a aprovação de uma solução definitiva, os grandes navios usem uma via marítima alternativa até o porto comercial de Marghera, na parte continental do município.
A própria Unesco chegou a ameaçar colocar Veneza em uma lista de "lugares em risco" caso transatlânticos continuem atravessando o coração da cidade.