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Caboclinhos viram patrimônio cultural imaterial do Brasil

24 nov 2016 - 17h04
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Os caboclinhos, expressão da cultura popular de tradição centenária sobretudo em Pernambuco, foram reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O registro foi aprovado hoje (24) pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do órgão, em reunião realizada em Brasília.

Cultura presente também no Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Alagoas e Minas Gerais, os caboclinhos são classificados pelos brincantes como uma homenagem aos primeiros habitantes do território que veio a se chamar Brasil. Os grupos - alguns com mais de 100 anos e ainda ativos - se apresentam nas ruas - principalmente no carnaval - vestidos com penas e pedrarias, em uma releitura carnavalesca dos trajes indígenas tradicionais, e dançam com agilidade os diferentes toques que representam temas de rituais da população indígena.

Caboclinho, um ritmo que reúne famílias
Caboclinho, um ritmo que reúne famílias
Foto: Arquivo PCR

"Tem o toque de guerra, que é a preparação para o combate; o de perré, para pedir a chuva; o de baião, que é mais festivo, usada para comemorar qualquer coisa que a tribo quisesse; e o toré, que tem um aspecto religioso", ensina o presidente do Clube Carnavalesco Tribo Indígena Tupã, do Recife, e secretário da Associação Carnavalesca dos Caboclinhos e Índios de Pernambuco (Accipe), Amauri Rodrigues de Amorim.

Como o próprio nome indica, a reverência ao caboclo (tanto o brasileiro filho de índio e branco como a entidade presente na umbanda, por exemplo) está presente na brincadeira, assim como o culto à Jurema, árvore nativa do Norte e do Nordeste do Brasil considerada sagrada e base de um chá usado em rituais. A brincadeira também tem referência na colonização do território brasileiro.

Uma data marcante para os caboclinhos, quando geralmente ocorrem encontros estaduais do folguedo, é 30 de março. Em 1645, foi neste dia que ocorreu uma grande assembleia de povos indígenas na aldeia de Itapecerica, em Pernambuco, quando escolheram seus próprios representantes divididos em conselhos de vereadores e três regedores de territórios.

A estimativa da associação de Pernambuco é que existam cerca de 70 grupos de caboclinhos  no estado - 30 apenas no Recife. "O meu é dos mais novos, tem 39 anos", brinca Amauri. Para fabricar as roupas e instrumentos, as agremiações recebem apoio financeiro do Poder Público - no caso do Grupo Tupã, da prefeitura - e complementam a renda com bingos e outras atividades para angariar recursos. "A gente espera que, além do reconhecimento da nossa cultura, o título traga mais oportunidade fora de Pernambuco, e que o valor pago pela prefeitura tenha uma aumento", diz.

O governo do estado fez o pedido de registro como patrimônio imaterial do Brasil em agosto de 2013, mesma ocasião em que foram solicitados os registros do maracatu nação, maracatu de baque solto e o cavalo narinho, expressões culturais transformadas em patrimônio nacional em dezembro de 2014.

O secretário de cultura de Pernambuco, Marcelino Granja, afirma que o apoio do Poder Público também é necessário para perpetuar a arte. "A gente precisa ajudar as sedes desses blocos, precisa se preocupar com a formação de novos mestres dessa arte. E determinadas políticas públicas precisam ser observadas, como a existência de concursos no carnaval do Recife. Por um lado é bom porque ajuda na profissionalização, na concorrência virtuosa, mas por outro lado incentiva a padronização". Ele cita também o ganho de autoestima e de visibilidade da cultura como benefícios do título.

Agência Brasil Agência Brasil
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