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Carmen Miranda completaria 100 anos nesta segunda

8 fev 2009 - 11h20
(atualizado em 2/5/2009 às 13h51)
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Talentosa, extrovertida, vibrante e generosa. Esses e outros tantos atributos fizeram de Carmen Miranda uma paixão nacional. A cantora começou a conquistar a fama em 1930 com a música

Carmen Miranda e o traje que a transformou em um ícone de moda
Carmen Miranda e o traje que a transformou em um ícone de moda
Foto: Getty Images
Eu fiz tudo pra você gostar de mim

, mais conhecida como

Taí

, de Joubert de Carvalho. A canção fez tanto sucesso que Carmen conquistou um feito sem precedentes: a marchinha sobreviveu à Quarta-Feira de Cinzas daquele ano e chegou ao ano de 1931 como o hit dos bailes carnavalescos. E essa era apenas uma palhinha do que estava por vir. "Se Carmen estivesse viva, ela seria talvez a Madonna, em matéria de poder, só que muito melhor como cantora", afirma Ruy Castro, autor do livro

Carmen - uma biografia

. "Não vejo ninguém por aqui hoje, nem em parte alguma, que chegue aos seus pés."



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Carmen Miranda



Apesar de ter nascido em Portugal, no dia 9 de fevereiro de 1909, em Várzea da Ovelha, Carmem Miranda se transformou rapidamente em uma legítima brasileira. Com apenas dez meses e oito dias de vida, ela, a irmã mais velha, Olinda, e a mãe, Maria Emilia, atravessaram o Atlântico a bordo de um navio para encontrar o pai, José Maria, que havia se estabelecido no Rio de Janeiro e trabalhava como barbeiro.



A família Miranda veio ao Brasil em busca de melhores condições de vida. Segunda filha de uma prole de cinco, Carmen foi influenciada desde muito cedo pela irmã mais velha. Olinda era uma moça que não perdia um bom baile de Carnaval por nada, tinha gosto apurado para se vestir impecavelmente e encantava a todos com seu ar de mulher eletrizante. Uma desilusão amorosa, porém, tirou o brilho de Olinda. Ela estava noiva de um rapaz, Feliciano, quando descobriu que o moço tinha engravidado outra mulher. Olinda desfez o noivado e em pouco tempo ficou doente. Acabou morrendo por conta de uma tuberculose. "Parece cruel dizer isto, mas se Olinda não tivesse morrido, será que teríamos Carmen?", questiona Ruy Castro. "Olinda é que parecia que seria a Carmen Miranda", especula o autor.



Ao contrário da irmã, Carmen não se deixava abalar pelas infidelidades do primeiro namorado, Mario Cunha, que tinha 24 anos e era oito anos mais velho do que ela quando começaram a relação. Ela não resistiu ao charme daquele remador de 1,81m de altura, bonito e bronzeado, que adorava exibi-la para a sociedade carioca nos passeios pela Cinelândia e por outros points da década de 1920. Foi com ele que, aos 16 anos, a artista deixou de ser virgem. Sobre o caso, Carmen declarou posteriormente que sentira "uma dorzinha de dente; culpa, nenhuma". Seja para apimentar a relação ou para dar broncas no namorado infiel, a cantora costumava enviar fotos com dedicatórias ousadas para Mario Cunha. "Eu te quero muito, meu Maridinho. Não quero que meu amorzinho pense que essa piquinininha deseja outra pessoa na vida. Eu só quero a ti, meu idolatrado maridinho. Meu minino, fostes tu o primeiro que me ensinastes a gozar a vida", escreveu ela em uma das fotos.



Mas as irmãs tinham uma coisa em comum: ambas eram criativas e conseguiam fazer com que qualquer pedaço de pano se transformasse em uma peça da última moda. Essa característica acabou ajudando Carmen a encontrar seu primeiro emprego; ela trabalhava em um ateliê de chapéus. A engenhosidade em criar trajes exóticos também colaborou para que ela criasse as famosas sandálias com salto plataforma que passariam a ser uma marca registrada; tais sandálias também funcionavam como disfarce para a altura da cantora, que media apenas 1,52m.



Já os balagandãs (figas e amuletos de metais nobres e outros objetos que representavam pedidos e promessas feitas aos santos) surgiriam mais tarde para incrementar o figurino do filme

Banana da Terra

, de Wallace Downey, em 1938. Carmen começou a usar o traje típico das baianas após receber uma aula sobre as vestimentas da Bahia do jovem compositor Dorival Caymmi, autor da música

O que é que a baiana tem

, que era interpretada por ela.



Na década de 1930, Carmen era a cantora mais aclamada pelo povo, mas foi no Cassino da Urca que ela conseguiu ainda mais fama e se tornou uma das mulheres mais influentes do País. E foi no Urca que o empresário americano Lee Shubert a descobriu e decidiu levá-la para os Estados Unidos, onde estrearia na Broadway, em Nova York, com o espetáculo

Streets of Paris

, em 1939, cuja canção principal era

South American Way

.



De imediato, Carmen conquistou a simpatia dos americanos. Por conta do sucesso, a cantora passou a ser bastante requisitada e começou a fazer vários shows em um só dia. Em pouco tempo, Carmen acumulou uma fortura, foi convidada para fazer cinema, comprou casa em Beverly Hills e trocou o frio de Nova York pelo calor da Califórnia. O problema é que o excesso de trabalho não trouxe apenas benefícios. Logo após desembarcar nos Estados Unidos, Carmen passou a tomar remédios para conseguir se manter acordada, e outros comprimidos para dormir.



Com tão pouco tempo livre, Carmen acabou conhecendo seu marido enquanto trabalhava. David Alfred Sebastian era assistente do produtor do longa-metragem

Copacabana

. Os dois se casaram no dia 17 de março de 1947. Após um ano e meio de casamento, a cantora parecia realizar seu maior sonho: tornar-se mãe. Mas por conta da saúde frágil, ela perdeu o bebê no começo da gestação e jamais voltou a engravidar.



O matrimônio não foi uma experiência boa para Carmem. Sebastian não trabalhava, gastava o dinheiro da mulher como bem entendia e ainda destratava familiares e amigos que freqüentavam sua casa em Hollywood.



Para agüentar tanto trabalho, Carmen continuava a tomar generosas doses de remédios. "Ninguém sabia na época os efeitos desastrosos que isso provocava no organismo. Nem os médicos", diz Ruy Castro. Bombardeada pela medicação, longe do Brasil e presa a um casamento falido, Carmen começou a ver sua estrela se apagar. Aos 46 anos, saiu de cena vítima de um infarto fulminante no dia 5 de agosto de 1955.



Confira os melhores trechos da entrevista com Ruy Castro:



Terra - Após O Anjo Pornográfico, sobre a vida de Nelson Rodrigues, e Estrela Solitária, a respeito de Garrincha, você contou a história de Carmen Miranda. Por que a escolheu para ser a personagem da sua terceira biografia?
Ruy Castro -

Porque quando o nome "Carmen Miranda" me piscou na cabeça, em fins de 2000, vi logo todas as possibilidades narrativas em torno dela. Além disso, eu tinha uma longa convivência com Carmen, por meio de seus discos e filmes, e do amor que meus pais tinham por ela desde os anos 1930.



Terra - Carmen teria inventado que começou a cantar escondida do pai, mas tanto ele quanto a mãe da cantora sempre deram total apoio à carreira da filha. Por que ela teria feito isso?
Ruy Castro -

Para se valorizar. Os artistas vivem dizendo bobagens sobre si. Como ela poderia ter aquele fabuloso sucesso no Brasil sem que sua família soubesse? O que me espanta é ver como os repórteres compraram aquela versão absurda.



Terra - Como uma mulher tão independente como ela se curvava às traições do primeiro amor, o remador Mario Cunha?
Ruy Castro -

Acho que as relações entre homem e mulher naquele tempo, mesmo entre uma mulher poderosa e um homem nem tanto, obrigavam as pessoas a agirem desta forma. Mas assim que amadureceu, Carmen chutou Mario e ele é que passou a andar com um cartão de visitas dizendo "Mario Cunha, ex-pequeno de Carmen Miranda".



Terra - Ao pisar em solo americano, Carmen foi imediatamente reconhecida como uma comediante. Ela jamais conseguiu se livrar desse estigma assim como o de que falava inglês errado. Isso limitou sua carreira internacional?
Ruy Castro -

Não. Acho que ela viu que precisava fazer algumas adaptações. Todos os astros de Hollywood faziam concessões. John Wayne nunca se queixou por não poder interpretar

Hamlet

ou

King Lear

- estava satisfeito em ser um cáuboi, desde que o maior deles.



Terra - Carmen sempre foi uma "mulher-família". Ela se sentia frustrada por não ser mãe?
Ruy Castro -

Nesse ponto, Carmem se sentiu frustrada sim. Ela não se contentava em ser Carmen Miranda - queria também ser mãe, vê se pode.



Terra - Além de seus balagandãs, o que de tão especial Carmen tinha?
Ruy Castro -

A energia, a alegria, a vibração, a criatividade. Precisamos deixar um pouco de lado os balangandãs e nos concentrar no seu fabuloso talento como cantora brasileira.



Fonte: Redação Terra
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