Como protagonista da série 'The Nanny' se tornou líder da greve de atores em Hollywood
Conhecida na década de 1990 por seu papel como babá de uma família britânica de classe alta em Nova York, Fran Drescher fez discurso emocionado para explicar motivos da greve de atores.
Ela alcançou fama nos anos 90 como a babá Fran Fine, uma histriônica jovem judia do bairro do Queens, em Nova York, que se torna babá de uma família britânica de classe alta.
Mas hoje é a voz por trás da maior greve dos últimos 60 anos em Hollywood.
"Este é um momento histórico", disse Fran Drescher na quinta-feira (13/7) ao anunciar o início de uma paralisação do principal sindicato de atores dos Estados Unidos.
"Se não nos mantivermos firmes agora, todos teremos problemas. Todos correremos o risco de ser substituídos por máquinas e grandes empresas", acrescentou ela no discurso que viralizou.
Drescher, de 65 anos, tornou-se presidente do poderoso Screen Actors Guild em 2021, mais conhecido por sua sigla em inglês: SAG.
O sindicato, famoso por entregar o prestigioso SAG Awards, que premia todos os anos as melhores atuações no cinema e na TV nos Estados Unidos, tem cerca de 160 mil membros.
Na quinta-feira, o sindicato aprovou por maioria esmagadora (com mais de 97,9% dos votos a favor) aderir a uma greve que é realizada desde o início de maio por um sindicato menor: o dos roteiristas (o Writers Guild of America, que tem 11.500 membros).
Ambos os grupos se chocam com a poderosa Alliance of Film and Television Producers (AMPTP em inglês), e em particular com os novos "reis" de Hollywood: as empresas de streaming, como Netflix, Disney, Amazon Prime, Paramount e Warner Bros.
Em seu discurso na quinta-feira, Drescher chamou essas empresas de "nojentas" por se recusarem a compartilhar uma maior parte de seus lucros com quem cria o conteúdo que transmitem.
Ela criticou que essas empresas "agora alegam pobreza, que estão perdendo dinheiro a torto e a direito, enquanto dão a seus CEOs centenas de milhões de dólares".
"É nojento. Tenho vergonha delas", acrescentou.
A atriz garantiu que a luta que seu sindicato está travando é "histórica" porque o problema básico não afeta apenas Hollywood.
"O que está acontecendo aqui é importante porque o que está acontecendo conosco está acontecendo em todos os campos de trabalho, pois os empregadores fazem de Wall Street e da ganância sua prioridade e esquecem os contribuintes essenciais que dirigem a máquina".
Ao mesmo tempo, Drescher falou como as mudanças tecnológicas - o crescente mundo digital, o aparecimento do streaming e a utilização de inteligência artificial (IA) — exigem repensar a relação entre empregados e empregadores.
"Não dá para mudar o modelo de negócio tanto quanto ele mudou e não esperar que o contrato mude também", disse.
"Não vamos continuar fazendo mudanças incrementais em um contrato que não honra mais o que está acontecendo agora com esse modelo de negócios que nos foi imposto. O que estamos fazendo... movendo móveis no Titanic? É uma loucura."
Mas como Drescher se tornou uma poderosa líder sindical que paralisou Hollywood?
Ativismo político
Para quem não acompanhou a carreira de Drescher depois que "The Nanny" terminou em 1999 — ela fez outras comédias, mas nenhuma tão popular — vê-la neste novo papel como uma líder agressiva pode ser uma grande surpresa.
Mas a verdade é que essa atriz cômica foi politicamente ativa ao longo de sua carreira.
Em 2008, ela apoiou a então senadora Hilary Clinton para presidente e brevemente considerou concorrer para substituir Clinton como senadora por Nova York.
A atriz sempre apoiou abertamente as políticas de esquerda.
Em uma entrevista de 2017 para a revista Vulture, ela se descreveu como "anticapitalista", observando que não era "contra ganhar dinheiro", mas que deveria ser "calibrado dentro do espectro do que é valor real".
Seu ativismo político acabou levando-a a lançar uma campanha para liderar o SAG, em 2021.
Segundo o jornalista da BBC News Matt Murphy, a campanha, que a colocou contra o ator Matthew Modine, o outro candidato, foi "feroz".
"Ambos representavam diferentes facções do sindicato e a rixa se tornou tão amarga que Modine acusou Drescher de espalhar mentiras sobre ele", disse Murphy.
O site de notícias Deadline Hollywood citou Modine após a eleição, afirmando: 'Tenho vergonha de Fran Drescher, estou desapontado. Mas ela será julgada pelas pessoas do mundo após sua partida, ou pelo Deus que ela adora."
Apesar dessa rivalidade, Drescher conseguiu apaziguar as diferenças, anunciando antes de assumir o cargo que acabaria com o que chamou de "divisão disfuncional neste sindicato".
E ela parece ter alcançado seu objetivo: a facção que apoiou Modine em 2021 anunciou recentemente que apoia a reeleição de Drescher como chefe do SAG.
Poderia Drescher mais tarde entrar na política, como fez um de seus predecessores no cargo, Ronald Reagan?
A atenção que ela está atraindo agora levou a questionamentos sobre qual pode ser seu futuro na política.
Muitos lembram que na década de 1950, o líder desse sindicato era um ator ocidental pouco conhecido chamado Ronald Reagan, que se tornaria o 40º presidente dos Estados Unidos 30 anos depois.