Crítica - Os Cavaleiros do Zodíaco - Saint Seiya: O Começo
Porque será que é tão difícil assim acertar as adaptações de anime para as telonas
Crítica: Rafa Gomes
O Porto Alegre 24h conferiu mais está trágica adaptação de live- action.
Sabe quando a gente tem aquela mórbida curiosidade mesmo sabendo que você vai encontrar algo tenebroso. Um circo dos horrores que sempre nos atrai, gostemos ou não. E esse espírito está presente nesta adaptação desde que ele foi anunciado.
Diante da divulgação quase inexistente e da própria falta de confiança da Sony com o projeto, tudo levava a crer que a adaptação em live-action de um dos animes mais clássicos e icônicos seria um desastre fenomenal. Algo no nível de um Dragon Ball Revolution.
Eu sendo grande colecionador dos Mangás e tendo crescido assistindo na Manchette tais personagens não consigo entender por quê? é um filme bem ruim e uma adaptação pior ainda, uma catástrofe que todo mundo já imaginava, logo que lançado os primeiros trailers. O longa comete muitos deslizes e tem um roteiro fraquíssimo, fica muito claro desde o começo que os produtores odeiam Cavaleiros do Zodíaco, e nem se dignaram a assistir o anime.
Aos meus olhos CDZ, somente funcionaria de verdade se fosse feito como (Watchmen) de Zack Snyder. Pegar o anime e copiar tudo, desde sua trilha sonora a armaduras e principalmente personalidade dos seus protagonistas.
Tenha em mente que a única forma de assistir a Saint Seiya - O Começo é esquecendo que ele é uma adaptação de um anime. Se você tem qualquer apego a Cavaleiros do Zodíaco ou espera ver a história clássica sendo recontada, é melhor economizar o dinheiro do ingresso e rever o desenho. Ainda que ele faça algumas referências aqui e ali ao material original, o longa parece ter vergonha de sua origem e faz questão de se afastar dela sempre que possível.
Isso vai desde elementos visuais a questões conceituais que vão incomodar demais os fãs. A ideia de deixar de tratar o Cosmo como algo metafísico para uma energia física é ofensivo no nível midi-chlorians em Star Wars. É algo que ofende de mais todo o universo que está trabalhando, além de conduzir a história por um caminho lamentável.
A decisão do roteiro de focar a história apenas em Seiya (Mackenyu Arata) ao invés de trazer todo o grupo de protagonistas de uma só vez, a meu ver ignorar o fato de serem "OS CAVALEIROS DOS ZODIACO".
Dito isso a trama até tenta ser bem parecida com aquela que os fãs conhecem embora mais puxada para a animação em 3D do que para o anime, com Seiya viajando o mundo em busca da sua irmã desaparecida. É quando descobre a existência do Cosmo e seu destino como cavaleiro de Pégaso, o protetor de Saori (Madison Iseman), a reencarnação da deusa Athena, que entrega uma atuação fraca demais.
Todo esse desenvolvimento funciona bem não apenas por estar próximo do material que a gente já conhece, mas o roteiro trabalha pouco esses personagens, do temperamento e inseguranças do próprio Seiya, ao jeito da Saore você percebe que nem isso tiveram o mínimo cuido, criar algumas camadas para eles a ponto de as coisas ficarem melhores.
Minhas melhores partes acontecem quando o herói parte em seu treinamento. Toda sua interação com Marin (Caitlin Hutson) é muito boa e toca naquilo que Cavaleiros do Zodíaco têm de mais interessante. A explicação da Amazona de Prata sobre o Cosmo como essa energia quase metafísica existente em todo o universo é muito legal e é bem apresentada na tela, por mais que seja logo desconsiderada pelo próprio roteiro em seguida.
As cenas de ação, por incrível que pode parecer não são das piores, mesmo tendo notado um grande abuso na câmera lenta em algumas, são releváveis quando você entende que o truque serve tanto para dar peso aos golpes como para maquiar a falta de dinheiro.
Fica evidente que o filme foi feito com um orçamento mínimo, mas a direção e a equipe de coreografias tiram leite de pedra para fazer com que as lutas funcionem apesar da falta de recursos. Ainda que os efeitos meia-boca incomodem em alguns momentos e seja evidente, não dá para negar que há sequências bem legais e muito bem coreografadas.
A cena inicial, com Seiya lutando no octógono, é um bom exemplo de como a criatividade ainda é a melhor forma de criar bons momentos. Em compensação, há enquadramentos e movimentos de câmera muito bons que remetem diretamente à estética anime.
O grande problema é que, tirando esse núcleo focado em Seiya, todo o restante é terrivelmente ruim. De soluções equivocadas e que contradizem o que o próprio filme apresentou a atuações medonhas e um roteiro pobre, é fácil ver que o longa não sabe para onde quer ir e que acaba se destroçando aos poucos até seu fim.
Ele não falha apenas por ignorar o que é Cavaleiros do Zodíaco. Ele é ruim mesmo se fosse uma história original e não brincasse com a memória dos fãs. Ele é ruim por seus próprios fracassos e não por causa de uma suposta (e inexistente) expectativa.
Filme parece odiar Cavaleiros do Zodíaco e tenta, a todo custo, se distanciar do conceito e ideologia.
Toda a trama de Guraad (Famke Janssen) é algo que ofende o legado do anime e, dentro do próprio roteiro, não acrescenta nada. A ideia da organização do mal é algo tão ultrapassado que se torna maçante toda vez que é trabalhada na tela. É tão insuportável que não permite que nem mesmo a tentativa de criar uma tensão emocional entre ela, Saori e Alman Kido (Sean Bean) funcione.
Além de ser esse velho clichê do "precisamos capturá-los para extrair essa energia" que não serve para nada, esse argumento contradiz o que o próprio filme apresenta antes. Toda a explicação do Cosmo como essa energia mística que envolve o universo é jogada fora para dar lugar a uma baboseira de pseudociência que não leva a lugar nenhum.
A ideia de transformar Guraad em uma espécie de Lex Luthor até tem algum valor, contrapondo esse olhar mítico com uma perspectiva científica e pessimista para proteger a humanidade, só que o longa não sabe o que fazer com isso e essa história se perde no meio de clichês vazios.
Por isso mencionei a cima, Star Wars: A Ameaça Fantasma é inevitável. Da mesma forma que aconteceu com os midi-chlorians no filme de George Lucas, essa preocupação desnecessária em negar a transcendência do Cosmo serve somente para matar uma das melhores coisas do CDZ.
Todas as boas intenções do começo se perdem em uma trama sem sentido na segunda metade.
Até porque esse tempo que ele perde com essa bobagem poderia ser usado para desenvolver os personagens que aparecem nesse núcleo. Tanto Cassios (Nick Stahl) quanto Ikki (Diego Tinoco) tem a profundidade de um peso de papel, até porque sabemos que Ikki sem Shun, não tem como, por mais que as contrapartes do anime não sejam também um exemplo de escrita, o longa tinha dever de tentar desenvolver mais.
A coisa mais tenebrosa é que a dupla não tem porque existir. Não há nenhuma explicação do por que Ikki está ajudando Guraad, ou porque ele é a Fênix, faz com que a tentativa de virada de roteiro soe aleatória e boba. Ela existe porque alguém lembrou que era preciso referenciar o anime e só. Isso sem falar que o ator é ruim em um nível quase amador.
Bom pessoal eu como um grande fã do anime e colecionador dos Mangás, lhe digo se você nem sabe oque é CDZ, e quer ver um filme com baixo orçamento e efeitos visuais direto dos anos 80, pode ser que alguma coisa vocês gostem, paro por aqui, meu desabafo, quando tudo já deve estar bem claro.
Poucas vezes me deparei com tão poucos pontos positivos em um longa.
Deixo aqui uma dica sincera, mesmo curioso esse não vale nem de perto valor do ingresso.
Crítica: Rafa Gomes.