Balé da Suécia volta ao Brasil com obra de Édouard Lock
Cullberg Ballet apresenta em São Paulo e no Rio de Janeiro sua dança movida a jazz e inspirada nos filmes noir da década de 1950
Às vésperas de completar 50 anos, o Cullberg Ballet retorna ao País para mostrar seu frescor em coreografia assinada pelo coreógrafo Édouard Lock. A companhia sueca se apresenta no dia 7 de maio, em São Paulo, e no dia 9, no Rio, dentro da programação do Festival O Boticário na Dança.
Quem teve a oportunidade de ver o Cullberg em 1989 e 2001, pode se preparar para um reencontro surpreendente. Neste ano, seu elenco exibe uma obra criada exclusivamente por Édouard Lock, fundador da renomada companhia canadense La La La Human Steps. “11th Floor” invade o ambiente sonoro do jazz e se apropria da estética noir de filmes da década de 1950.
O diretor artístico Gabriel Smeets fala em entrevista exclusiva ao Terra sobre esta nova era. Sete anos atrás, o Cullberg foi transformado em uma companhia de dança contemporânea por meio de uma designação do Ministério da Cultura da Suécia. Ele explica que, desde a gestão de Anna Grip, sua antecessora, os diretores artísticos não são coreógrafos. “É a primeira vez na nossa história que temos atuado como curadores, convidando criadores de todas as partes do mundo”.
Smeets informa que os coreógrafos convidados precisam ser capazes de transmitir sua técnica ao elenco, ter uma visão clara e atual do mundo em que vivemos e como a dança se localiza nesse mundo. “Também precisa ser hábil em dialogar dança com outras formas de arte, explorando artisticamente características do corpo, espaço e tempo”, complementa.
No crivo sueco passaram Jefta van Dinther, Benoît Lachambre, Trajal Harrell, Eszter Salamon e, claro, Édouard Lock, que se dedicou a extrair separadamente dos bailarinos material para desenvolver coreografias únicas, ligadas à personalidade de cada um. “Desde o primeiro dia, Lock pediu que gestos e frases fossem filmados em um iPad. Depois os intérpretes trabalharam individualmente sua cenas”, revela Smeets.
Então, o coreógrafo começou a mexer na aceleração, da velocidade e do ritmo. “Nossos técnicos perderam a paciência. Lock é muito meticuloso”, desabafa o diretor explicando por que o canadense se tornou o iluminador do espetáculo. “Terminamos com 725 pontos de luz”, contabiliza.
O diretor artístico também conta que quando a trilha de Gavin Byars chegou aos ouvidos de Lock, o coreógrafo propôs ao elenco incorporar a estética noir de filmes antigos de uma maneira bem peculiar. “Ele disse aos bailarinos para se imaginarem correndo pelas ruas de uma grande cidade com uma câmera na mão”. O resultado desejado para os palcos era uma sequência semelhante de imagens fragmentadas.
Cullbergbaletten e sua história
Criada em 1967, com o apoio da organização cultural Riksteatern, Cullberg Ballet – ou Cullbergbaletten em sueco – recebeu o nome de sua fundadora, a bailarina e coreógrafa Birgit Cullberg e é atualmente a companhia sueca de repertório contemporâneo que mais realiza apresentações no seu país e no exterior.
Smeets destaca a era de ouro liderada por Birgit e seu pioneirismo criando danças para a televisão. Outro ponto alto foram as novas versões para clássicos feitas por Mats Ek, que rendeu anos de turnês pelo mundo. Também destaca a importância de seus antecessores Johan Inger e Anna Grip que incentivaram criações para pequenos espaços e site specifics, inserindo o Cullberg no contemporâneo.
Seus 16 bailarinos têm uma rotina diária de treinos de condicionamento, aulas de técnicas clássica e contemporânea e ensaios. Recebem o apoio de uma equipe técnica e administrativa de 14 técnicos. E têm Norsborg como endereço, que fica nos arredores da capital, Estocolmo.