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Michael Clark desconstrói e encanta em festival de dança

Público ficou instigado pelas provocações e sensações perturbadoras do espetáculo do artista mais punk da dança

10 mai 2015 - 11h42
(atualizado em 11/5/2015 às 14h11)
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“Adorei. O conceito do espetáculo me fez pensar nas infinitas possibilidades que podemos explorar em cena”, avalia o ator Leonardo Miggiorin. Além de despertar admiração, a apresentação deste sábado (9) do Festival O Boticário na Dança, em São Paulo, foi pontuada por momentos de desconforto, porque provocação é o mínimo que se espera da Michael Clark Company. E foram justamente os aspectos conceituais que se sobressaíram na obra “animal / vegetable / mineral".

Inicialmente, o público ficou por cerca de 15 minutos ouvindo músicas e olhando para as cortinas fechadas. Foi inevitável que um burburinho se iniciasse e que as pessoas procurassem alguma explicação escrita no programa impresso.

O primeiro ato foi executado pelo elenco de cinco intérpretes e por uma rápida passagem de Clark pelo palco. Bailarinos e bailarinas usavam vestidos pretos acima do joelho. Os conceitos de masculino e feminino foram caindo por terra, já que Clark flerta muito com o movimento “queer”, que defende a liberdade de gêneros.

Foto: Gabriela Portilho / Cross Content

No segundo ato, a música suave deu lugar a um rock. Os bailarinos voltaram ao palco usando uma segunda pele que, na frente, tinha uma gola branca, parte do abdômen cor de pele e pernas azuis. Atrás, a segunda pele era toda preta. Neste momento, o figurino geométrico e a coreografia cartesiana ganhavam novas tonalidades pela iluminação. “Estou na expectativa para o que vem a seguir”, disse o jornalista Rodrigo Bocardi, da Rede Globo, no segundo intervalo.

Questionamentos no palco

Na volta para o terceiro ato – e o mais inusitado de todos –, os bailarinos vestiam uma segunda pele em tom cenoura e, depois, uma com listras brancas e pretas. Em dado momento, Clark e um assistente iluminaram os rostos da plateia com um espelho, impedindo que por instantes se visse a coreografia no palco. A música foi ficando perturbadora até que o fundo do palco começou a exibir uma sequência de dizeres aleatórios: o que? quem? por que eu? Uma chuva de pontos de interrogação foi então projetada.

O geometrismo foi quebrado pela performance exibida no telão de integrantes do grupo musical Relaxed Muscles, que foi promovendo uma mistura entre o real e o virtual. A performance deles foi elogiada pelo público. O filme exibido tem direção de Clark e do iluminador Charles Atlas.

Ou seja, em “animal / vegetable / mineral” Clark propõe um retorno ao básico a partir de um espetáculo nada clichê e desconstruindo a narrativa teatral clássica: não há começo, meio e fim. Os bailarinos são exímios executores de uma movimentação limpa, abstrata e que explora muito bem propriedades como velocidade, articulação, peso e tempo. O destaque fica para a bailarina de cabelos raspados Julie Cunningham, cuja atuação lhe rendeu o prêmio da Dance Critics Association.

A noite de sábado serviu para adiantar o que poderá ser visto no domingo no encerramento das apresentações do Festival OBND, quando a Michael Clark Company apresentará com “come, been and gone”. Clark e seu grupo podem fazer cair novamente uma chuva de questionamentos.

O espetáculo, com plateia ao ar livre, será no Parque Ibirapuera, a partir das 18h. A brasileira Raça Cia. de Dança vai dividir o palco nesta mesma noite, com “Tango Sob Dois Olhares”. A entrada é gratuita.

No Rio de Janeiro, às 19h30, a apresentação final no Theatro Municipal será do Balé da Cidade de São Paulo, com as peças “Cantata” e “Cacti”, com ingressos ainda à venda.

Detalhes da programação e ingressos em boticario.com.br/danca.

Fonte: Cross Content
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