O "Festival O Boticário na Dança" (OBND) divulgou recentemente a programação da sua terceira edição, que será realizada de 6 a 10 de maio, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O Terra preparou uma retrospectiva especial com informações das companhias que já passaram por este evento, um dos mais importantes de dança do Brasil.
Os critérios de seleção dos espetáculos sempre tiveram como objetivo final montar um panorama da produção de dança no País e no exterior, trazendo ao público o que tem de mais atual e relevante. Em 2013, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba sediaram o evento. Já em 2014, além destas cidades, Recife foi adicionada ao roteiro.
Os teatros foram palco das mais diversificadas cenas: banda de rock tocando ao vivo, nevasca, remontagem de “A Sagração da Primavera” e até a lenda viva da dança contemporânea, a canadense Louise Lecavalier veio se apresentar aqui.
Em 2013, a Hofesh Shechter Company foi introduzida na América Latina pelo Festival O Boticário na Dança. A peça apresentada foi Political Mother, ou, em uma livre tradução, Mãe Política. A companhia baseada em Londres tem como diretor e coreógrafo Hofesh Shechter, bailarino egresso da Batsheva Dance Company, comandada por Ohad Naharin, em Tel Aviv. No palco, dez bailarinos executaram uma enérgica movimentação ao som de rock, tocado ao vivo por uma banda, cujos integrantes foram acomodados em uma espécie de prateleira gigante que fazia parte do cenário.
Foto: Luciana Tancredo / Divulgação
Também inédita na América Latina, a companhia eslovena Maribor Ballet, corpo residente do Teatro Nacional Esloveno Maribor, fez uma memorável apresentação da sua versão para Romeu e Julieta, um clássico de Shakespeare. Com trilha sonora da banda inglesa Radiohead, o espetáculo foi intitulado Radio & Juliet e, em vez de apenas um Romeu, contou com vários. No palco, Julieta aparece em performance de uma única bailarina. Na primeira edição do OBND, o espetáculo foi apresentado ao ar livre para o público do Parque Ibirapuera.
Foto: Divulgação
Peeping Tom é uma companhia de dança no mínimo cinematográfica. Seu espetáculo 32 rue Vandenbranden impressionou o público pela qualidade técnica, cenário impecável e recursos cênicos que fizeram o bailarino levitar e até surgir uma nevasca no palco. A companhia foi fundada em 2000 por Gabriela Carrizo e Franck Chartier e tem sede em Bruxelas.
Foto: Divulgação
Bruno Beltrão conquistou fama e reconhecimento internacional levando a dança de rua para os palcos, tanto que sua companhia foi batizada como Grupo de Rua. Em 2013, apresentou H3, que mostra uma série de coreografias de solos, duos e trios em um fluxo contínuo, misturando de maneira muito própria a dança contemporânea e o hip hop.
Foto: Divulgação
Mimulus Cia. de Dança é uma companhia de dança de Belo Horizonte que tem direção artística de Jomar Mesquita. Com coreografias que valorizam a dança a dois, o espetáculo Entre, exibido na primeira edição do OBND, expressa as possibilidades de encontro e os motivos que encantam.
Foto: Divulgação
A Quasar Cia. de Dança, de Goiás, apresentou o trabalho interativo No Singular. Seu coreógrafo residente e fundador é Henrique Rodovalho que fez um convite para o espetáculo no YouTube com o passo a passo da coreografia que os interessados deveriam treinar. Por onde passa, No Singular cria uma divertida aproximação com o público. No Rio, em 2013, a adesão foi tão grande que o gigantesco palco do Theatro Municipal ficou pequeno diante da quantidade de bailarinos instantâneos.
Foto: Divulgação
Folding, uma das coreografias criadas pelo chinês Shen Wei, foi alvo de muita polêmica, em 2008, por causa da acusação de plágio às esculturas do artista italiano Enzo Carnebianca. A trilha sonora é composta por música tibetana e as personagens, seres de cabeça alongada, parecem flutuar sobre o palco.
Foto: Shu Lai / Divulgação
Shen Wei ficou muito conhecido por ter criado coreografias para a abertura das Olimpíadas de Pequim. Sua companhia, a Shen Wei Dance Arts, apresentou na primeira edição do festival uma remontagem de A Sagração da Primavera, comemorando o centenário da obra que estreou em 1913 em Paris.
Foto: Divulgação
Akram Khan Company trouxe o surpreendente iTMOi (In The Mind of Igor), que foi uma ideia do próprio Akram Khan para explorar os supostos pensamentos que teriam circulado pela mente do russo Igor Stravinsky durante a composição do clássico A Sagração da Primavera, em que Igor passa pelo ritual do sacrifício. É também uma abordagem sobre o árduo trabalho de criação, que é rotina de diretores e coreógrafos. A companhia abriu a programação do festival em 2014.
Foto: Midori de Lucca / Divulgação
Vinda de Israel, a Batsheva Ensemble mostrou uma sequência de coreografias curtas. A Batsheva Ensemble é a companhia junior da Batsheva. Ambas são dirigidas por Ohad Naharin. O mix de cenas de espetáculos, Decadance, foi criado em 2000 para celebrar os 10 primeiros anos de Naharin à frente do Batsheva. A apresentação foi realizada no teatro, para a plateia interna, e também para os frequentadores do Parque Ibirapuera.
Foto: Gadi Dagon / Divulgação
Apontada como o ápice da programação, Louise Lecavalier apresentou no ano passado o intenso solo So Blue. Depois de duas décadas na companhia canadense La La La Human Steps, Louise fundou a sua própria companhia em 2006, a Fou Glorieux. Seu solo contou com a participação especial de Fréderic Tavernini.
Foto: Divulgação
A China atrai a atenção do mundo inteiro por diversos motivos. Certamente, o TAO Dance Theater é umas das companhias mais surpreendentes da terra da Grande Muralha. Com uma identidade muito própria, os bailarinos foram trabalhados com uma técnica muito singular, que exige o máximo da precisão. Com figurinos e maquiagem iguais, os bailarinos apresentaram coreografias lentas e muito silenciosas nos dois trabalhos exibidos em 2014, intitulados 4 e 5.
Foto: Divulgação
A Sagração da Primavera, na versão da coreógrafa portuguesa Olga Roriz, foi o trabalho exibido pelo Balé do Teatro Guaíra. Corpo de baile do tradicional Teatro Guaíra, em Curitiba, o Balé mostrou uma releitura mais ousada, sensual e visceral do clássico de Stravinsky. Criada em 1969, a companhia conta com mais de 130 coreografias em seu repertório.
Foto: Luciana Tancredo / Divulgação
A paulista Cisne Negro Cia. de Dança apresentou Sra. Margareth, uma adaptação de Barak Marshall para a companhia. Nela, 12 bailarinos contam a história de funcionários presos em um porão da casa de uma patroa abusiva. A narrativa se constrói usando elementos da dança-teatro, com trilha sonora que usa rock, música clássica e cigana. A Cisne Negro integrou a programação de 2014 do OBND.
Foto: Luciana Tancredo / Divulgação
Na programação paulista de OBND em 2014, a Focus Cia. de Dança apresentou o espetáculo Ímpar, em que sete bailarinos dançam nove cenas embaralhadas fazendo com que o público só tenha uma total compreensão ao final. A concepção do espetáculo faz uma associação com o quebra-cabeças e com o jogo da memória.
Foto: Cíntia Pimentel / Divulgação
Já na programação carioca, a Focus Cia. de Dança apresentou o seu recordista de público As canções que você dançou pra mim, que tem como trilha o repertório musical de Roberto Carlos. O espetáculo chega a dançar trechos de 72 canções do rei Roberto, com hits que marcaram as décadas de 1960 a 1990. A Focus tem sede no Rio e foi fundada por Alex Neoral.
Foto: Rebeca Figueiredo / Divulgação
Pó de Nuvem foi apresentada pelo grupo mineiro Primeiro Ato com montagem da brasileira Denise Namura e do alemão Michael Bugdahn, ambos coreógrafos radicados na França. O trabalho faz um passeio pelo imaginário artístico de João Guimarães Rosa e pela musicalidade de Milton Nascimento. Pó de Nuvem foi uma das atrações da segunda edição do OBND.
Foto: Rebeca Figueiredo / Divulgação
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Sheyla Costa, uma das curadoras do festival, diz que é um processo muito difícil a escolha dos espetáculos porque tem muita coisa boa no Brasil e no mundo. Ela confessa que é impossível eleger destaques na programação. “O verdadeiro destaque fica para o programa "O Boticário na Dança", que é maravilhoso”, afirma.
Escolha do repertório
Sheyla acredita que as duas edições anteriores da mostra trouxeram muitas surpresas. “Tivemos as melhores respostas do público. As inscrições para os workshops acabavam em 24 horas. Isto é outro ponto importante, o intercâmbio de técnicas e estilos”, avalia.
A árdua tarefa de selecionar espetáculos, Sheyla divide com Dieter Jaenicke. “As apostas que nós fazemos são cheias de expectativas. Por exemplo, já conhecíamos o trabalho da Louise Lecavalier, mas não imaginávamos o quão emocionante seria. Vi muita gente chorando na plateia”, testemunha a curadora.
Jaenicke concorda plenamente com Sheyla. E explica a importância de Louise. “Da edição de 2014, a experiência mais marcante foi o solo ‘So Blue’, de Louise. Ela mudou o mundo da dança de tal maneira que ninguém havia feito depois de Mary Wigman ou Isadora Duncan”, afirma. Segundo ele, a dançarina tem influenciado gerações de bailarinos desde que deu seu primeiro passo no palco.
Sheyla, que no ano passado acompanhou as programações no Rio e no Recife, recorda-se de outro momento singular na capital pernambucana. “Foi impressionante a receptividade para o trabalho da TAO Dance Theater”, registra ela, justificando que a movimentação precisa dos bailarinos chamou atenção do público. Para ela, outro momento alto foi a apresentação do Balé do Teatro Guaíra no Rio, que mostrou sua versão do clássico “A Sagração da Primavera”.
Em 2013, Sheyla lembra que a vinda da Shen Wei Dance Arts também estava rodeada de muita expectativa. “Ele trouxe dois trabalhos completamente diferentes entre si. Suas montagens impressionaram também pela precisão”. Jaenicke lembra que na primeira edição do festival a britânica Hofesh Shechter Company foi a maior surpresa para o público e para a crítica. A companhia nunca havia se apresentado no Brasil até aquela ocasião.
Jaenicke adverte que, para este ano, as atenções devem estar voltadas para Akram Khan que vem acompanhado de Israel Galván, em uma coreografia que faz dialogar a dança clássica indiana kathak e o flamenco espanhol.