De Godot a Nelson Rodrigues: Como o Teatro Oficina chega a 2025 mais vivo do que nunca
Em entrevista à CARAS Brasil, Marcelo Drummond fala sobre movimento do Teatro Oficina e adianta sobre o novo projeto de Nelson Rodrigues em 2025
Evoé, Zé! Esta foi uma das frases que mais ecoou no universo teatral em 2024. Com fotos, vídeos ou frases, artistas e espectadores deste universo usaram Zé Celso Martinez Correa (1937-2023) dentro e fora do Teatro Oficina, seu templo de arte, como uma referência ou mais que isso: um símbolo de luta, até para enfrentar questões como o decisivo espaço do Parque do Rio Bixiga - no terreno ao lado do teatro - que neste ano caminhou para ter seu desfecho.
No ano após a morte de seu fundador, o Teatro Oficina seguiu mostrando-se um local de efervescência política, artística e cultural ao dar sequências em projetos já idealizados por Zé, emplacar novas obras, acelerar talentos e, principalmente, espalhar-se pelo país enquanto arte. Em entrevista à CARAS Brasil,Marcelo Drummond (61), viúvo de Zé Celso, fala sobre o local, que encerra o ano de 2024 com uma esgotada temporada de Esperando Godot, última peça dirigida pelo marido, e chega 2025 com um novo projeto de Nelson Rodrigues.
"A gente está mais do que se reinventando. A gente continua caminhando. Nunca paramos de fazer. O teatro não parou em nenhum momento. Toda vez que acontecia uma coisa dessa o Zé falava: tem que fazer teatro", responde Marcelo Drummond ao ser questionado sobre "como está o Teatro Oficina um ano e meio após a morte de Zé Celso".
O ator e diretor carioca ressalta que de lá para cá vários atores e artistas em geral do espaço, como Marília Piraju e Camila Motta (50), começaram a dirigir projetos que já estavam surgindo com um mesmo jeito de trabalhar. "Não vou dizer um método, porque é um termo muito duro, mas tem uma maneira que a gente tem de produzir que a gente descobriu junto ao longo dos anos 90, anos 2000, foram muitos espetáculos", explica.
'TEATRO OFICINA NÃO É UM MUSEU'
Para Marcelo Drummond, uma das coisas mais incríveis que Zé Celso conseguia era deixar as peças "muito vivas". "E eram mesmo. As coisas iam acontecendo. Era jogando pra valer, não era fingido, era o aqui agora!", analisa o ator, que ficou casado oficialmente com o fundador do Teatro Oficina por um mês após 37 anos de união.
"Entre entendimentos e desentendimentos, aprendemos muito juntos, sempre em prol de uma coisa. O Oficina sempre nos ligava o tempo inteiro e o Oficina continua me ligando a outras pessoas que já eram ligadas: pessoas mais maduras e também novas pessoas que estão chegando e estão se formando como ator. Então as coisas continuam numa boa", reflete.
Em movimento com a arte herdada e construída ao lado de seu mestre, Marcelo Drummond reforça que o Teatro Oficina "não é um museu". "É um teatro, ele está vivo, teatro é vivo sempre! A gente continua vivo, tudo muito vivo! Tem memória,claro, a memória da direção, as coisas que ficaram. A memória do que ele [Zé Celso] pedia, queria. Não é exatamente a reflexão, mas nosso estado, o estar nosso", avalia o ator ao usar Esperando Godot como um exemplo prático disso.
Para ilustrar o cenário, Drummond também relembra uma frase da bailarina francesa Renée Gumiel (1913-2006), com quem trabalhou no Brasil na fase final de sua vida. "Ela falava que a memória gruda na pele. Memória gruda no corpo. A gente tem memória no corpo", afirma.
O QUE VEM POR AÍ...
Questionado sobre uma nova temporada de Esperando Godot em 2025, Marcelo Drummond afirma que possivelmente o Teatro Oficina deve fazer novas apresentações e viajar com o espetáculo pelo país. No entanto, o foco da companhia para o primeiro semestre será uma nova produção que era vontade de Zé Celso: uma nova montagem de Senhora dos Afogados de Nelson Rodrigues (1912-1980).
"Ele queria fazer o filme, mas vamos ensaiar em janeiro pra estrear em abril nos palcos do Sesc Pompeia como fizemos com várias produções, em que começa lá e depois vem para o Oficina", conta. Com elenco do Teatro Oficina, Senhora dos Afogados trará de volta Nelson Rodrigues ao Teatro Oficina após 25 anos.
Em 1999, Zé Celso dirigiu uma montagem de Boca de Ouro, com Marcelo Drummond, Jacqueline Dalabona (55), Camila Mota e Reynaldo Gianechinni (52) no elenco. "O Zé gostava, mas achava o Nelson Rodrigues perfeito demais. Ele mandava eu rir onde o Nelson Rodrigues ri. Algumas pessoas da crítica acharam que o Zé estava sem inspiração, mas a gente adorava fazer. Porque ele tocou nos atores assim, com uma interpretação mais aberta", conclui o ator Marcelo Drummond.
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