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'É de longe o melhor filme de entretenimento do ano': o que diz crítica de cinema da BBC sobre 'Gladiador 2'

Paul Mescal é o 'centro hipnotizante' da tão esperada sequência de 'Gladiador', do diretor Ridley Scott, que combina drama e temas sociais com um espetáculo repleto de ação.

13 nov 2024 - 11h54
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Gladiador 2 estreia nos cinemas brasileiros em 14 de novembro
Gladiador 2 estreia nos cinemas brasileiros em 14 de novembro
Foto: Paramount Pictures / Divulgação / BBC News Brasil

Como não amar um filme que tem espadas, sandálias, tubarões no Coliseu Romano inundado, Denzel Washington com mantos esvoaçantes e Paul Mescal mordendo um babuíno?

Há muito mais do que isso na emocionante e divertida sequência de Gladiador, do diretor Ridley Scott, que ganhou o Oscar de melhor filme há quase um quarto de século.

Repleto de espetáculos e performances espetaculares, Gladiador 2 é, de longe, o melhor filme de entretenimento do ano.

Mescal, uma escolha contraintuitiva dados seus papéis sensíveis na série Normal People e no filme Aftersun, é o centro hipnotizante do longa, segurando as pontas com o mesmo poder e magnetismo que Russell Crowe exerceu na produção original.

A sequência tem um equilíbrio menos perfeito entre emoção e ação do que o primeiro filme, com decapitações e lutas de espadas quase sobrecarregando os personagens, mas chega perto o suficiente.

Essas comparações não são gratuitas, uma vez que Gladiador 2 está repleto de ecos da produção original, em que o gladiador Maximus (Russell Crowe) e o vil imperador Commodus (Joaquin Phoenix) lutaram até a morte no Coliseu.

Lucius, filho de Maximus com a irmã de Commodus, Lucilla (Connie Nielsen, que volta para o papel), era então um garoto que foi enviado para longe de Roma para sua própria segurança. Quinze anos depois, ele é interpretado por Mescal, mais musculoso do que o normal, mas felizmente não com as proporções de desenho animado de um personagem da Marvel.

Lucius se tornou adulto na Numídia, no norte da África, e logo entrou em guerra contra os invasores romanos. Scott está no comando total das cenas de ação, e deixa isso claro com uma extravagante batalha de abertura.

Os númidas catapultam bolas de fogo em direção aos navios romanos que se aproximam, e flechas romanas voam em direção às muralhas númidas. A esposa guerreira de Lucius é morta — e ele é capturado e enviado a Roma, jurando vingança contra o general do império, Acacius (Pedro Pascal).

A Roma para a qual ele retorna está mais vibrante e sinistra do que nunca. Agora há dois imperadores decadentes, gêmeos que governam juntos sem levar em conta a população, figuras assustadoras com maquiagem branca no rosto e delineador pesado nos olhos.

O ator Joseph Quinn está especialmente arrepiante, silenciosamente intenso e temível como Geta, o mais inteligente e, portanto, mais perigoso dos dois. Fred Hechinger é o descontrolado Caracalla, com seu olhar alucinado — uma espécie de Fredo, irmão de Michael Corleone, em O Poderoso Chefão, para Geta.

Denzel Washington interpreta o enigmático Macrinus, um homem de negócios rico e proprietário de gladiadores que compra Lucius. Com anéis de joias em todos os dedos e correntes de ouro em volta do pescoço, Washington encara o papel com absoluto entusiasmo e atuação exagerada enquanto Macrinus conspira pelo poder. Mas, em alguns momentos, ele retrai a atuação o suficiente para revelar a astúcia por trás daquela personalidade impetuosa.

Os fãs de Pascal podem ficar desapontados com seu papel relativamente menor e sua atuação discreta. Ele não causa muito impacto, embora se descubra que Acacius é casado com Lucilla e compartilha seu desejo de depor os imperadores desvairados e sedentos de sangue.

Nas cenas de muita ação na arena, Scott não mede esforços. Um romano entra montado em um rinoceronte. A edição é cinética quando tigres e babuínos são lançados contra Lucius e os outros gladiadores, que são chamados de bárbaros. Lucius é tão feroz que morde o braço peludo de um babuíno.

De perto, esses babuínos são visivelmente falsos, um ponto fraco dos efeitos especiais que, em geral, são harmoniosos. Alguns planos de fundo distantes também parecem ser imagens geradas por computador (CGI, na sigla em inglês), mas Scott encena a ação com volatilidade suficiente para superar essas pequenas falhas.

Enquanto Napoleão (2023) foi classificado como longo e lento, e Casa Gucci (2021) uma confusão caricata, Gladiador 2 tem o ritmo magistral dos melhores filmes de Scott, incluindo os clássicos Alien (1979) e Blade Runner, o Caçador de Androides (1982).

Paul Mescal é o 'centro hipnotizante' da tão esperada sequência de Gladiador
Paul Mescal é o 'centro hipnotizante' da tão esperada sequência de Gladiador
Foto: Paramount Pictures / Divugação / BBC News Brasil

Nos episódios de menor escala, Scott sabe quando dar a Mescal os closes que permitem a ele brilhar, exalando a determinação e a raiva de Lucius.

Isso é especialmente verdade em suas conversas provocadoras com Macrinus, que ainda não sabe que Lucius é o herdeiro do império, mas se pergunta por que esse gladiador consegue citar Virgílio. A atuação inteligente de Mescal eleva o nível do filme para além dos combates violentos.

E parte da violência é emocional. A maioria dos espectadores saberá, como revela o trailer do filme, que Lucius é filho de Maximus, portanto, estamos muito à frente da maioria dos personagens.

Mas um dos episódios mais revigorantes acontece quando Lucilla reconhece o gladiador como seu filho e o visita em sua cela, um encontro que desafia nossas expectativas.

À medida que o filme se encaminha para as batalhas finais, as doses de exageros e teatralidade aumentam. Há uma cena com Macrinus, o Senado Romano e uma cabeça decepada (sem spoilers; não é a cabeça de Washington) que é simplesmente boba.

Em alguns momentos, Washington e os imperadores gêmeos parecem estar em um pequeno festival de exageros — mas, em vez de prejudicar o resto do filme, esse estilo é mais um sinal de que Gladiador 2 foi concebido para ser um entretenimento divertido.

No entanto, sob a superfície que agrada ao público, a temática do filme sobre poder político, sobre quem o exerce e como, é forte e proposital, mesmo que Scott o tenha entremeado com cautela no espetáculo vibrante.

Questionado pelo jornal americano The New York Times se ele via uma conexão entre o seu Império Romano e o mundo político atual, Scott respondeu sem rodeios:

"Sim. Se não tomarmos cuidado, estamos ficando piores."

"Eu tento manter isso em primeiro plano" no filme, ele acrescentou, indicando algumas das perguntas de Lucius sobre os valores de Roma.

"É assim que Roma trata seus heróis?", Lucius grita da arena quando um deles é morto.

Essa temática social ficou evidente no primeiro Gladiador, em que o senador Gracchus (Derek Jacobi, que retorna brevemente na sequência) adverte contra subestimar a superficialidade da multidão, facilmente aplacada com pão e circo.

"Ele lhes trará a morte, e eles o amarão por isso", diz ele sobre Commodus, que não oferece mais do que a distração dos jogos.

Em Gladiador 2, Lucilla afirma: "O povo está cansado da loucura, da tirania".

Qual deles está certo é a questão em aberto da sequência, já que Lucius fala sobre o sonho de seu avô de uma República Romana, e pergunta aos cidadãos: "Ousamos reconstruir esse sonho juntos?"

Se tivermos sorte, Scott pode dar uma resposta. Ele disse à revista The Hollywood Reporter que tem uma ideia para Gladiador 3 inspirada em O Poderoso Chefão 2. Que os deuses romanos o escutem.

* Gladiador 2 estreia nos cinemas brasileiros em 14 de novembro.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.

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