Editora italiana ganha fama após Louise Glück vencer Nobel
Livraria publicou coleção da poeta americana na Itália
A poeta americana Louise Glück, 77 anos, conquistou nesta quinta-feira (8) o Prêmio Nobel de Literatura em 2020 e surpreendentemente garantiu pelo menos "cinco minutos de fama" a uma pequena livraria e editora italiana.
Há 40 anos, na via Mezzocannone, 55, no coração universitário de Nápoles, funciona a Dante&Descartes, editora responsável por publicar na Itália a coleção de poesia "Averno"(2006), escrita por Glück.
"Ninguém nunca ligou aqui. Você nunca viu um jornalista. Hoje o telefone está tocando continuamente. Às 13h05, cinco minutos após o anúncio do Nobel, já havia uma multidão em frente à livraria", conta à ANSA o proprietário Raimondo Di Maio.
O italiano comemorou o prêmio entregue à poeta americana junto com Antonella Cristiani, que editou o livro com ele. "Nós descobrimos por meio de um amigo fraterno, José Vicente Quirante Rives, que o publicou na Espanha com a sua editora que, por coincidência, se chama Partenope", explicou.
Di Maio lembrou que "um dia, no ano passado", seu amigo ligou e insistiu: "É um livro necessário para Nápoles". Logo depois, ele leu em espanhol e inglês e começou a traduzir para italiano. Na sequência, enviou o texto completo para a autora, que "defendeu cada palavra e vírgula de seu poema".
Escrita em 2006, "Averno" é uma coleção magistral de poemas, na qual é possível ler uma interpretação visionária do mito da descida ao inferno de Perséfone, raptada por Hades, deus da morte.
"É um diálogo extraordinário com a morte, um exemplo altíssimo, que retoma o classicismo com uma sensibilidade contemporânea: ainda assim, Glück nunca havia estado no Lago d'Averno, porta de entrada para o submundo segundo a mitologia, que está perto de Nápoles", contou à ANSA.
Para Di Maio, "era um escândalo que seus versos não tivessem sido traduzidos para o italiano" e, por isso, tentou remediar isso. "E é claro que convidamos Louise Glück para vir visitar o Lago d'Averno".
A vitória da americana se tornou uma satisfação dupla. "Estamos felizes pela autora, porque é um prêmio de prestígio e merecido. E estamos felizes porque neste momento de palavras malditas, a palavra poética tem algum espaço", enfatizou o proprietário da editora.
Em meio à comemoração, a Dante&Descartes vendeu 80 exemplares de 'Averno' tanto na livraria napolitana quanto na filial, na Piazza del Gesú. "Parece-me um pequeno milagre napolitano. Nunca a poesia se vendeu tanto em nosso país. Eu imprimi mil exemplares, ainda tenho 600, mas as grandes cadeias, como Feltrinelli e Hoepli, já me pediram 5 mil".
Di Maio ainda afirmou que aproveitará "os cinco minutos de poder vinculados ao prêmio Nobel para beneficiar pequenas livrarias independentes".