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Fogueiras de livros e lavagem cerebral: quem foi Goebbels, ministro de Hitler parafraseado por secretário de Bolsonaro

Ministro da Propaganda nazista se tornou um dos assuntos mais discutidos no Brasil após a repetição de falas pelo secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, que diz alega 'coincidência retórica'.

17 jan 2020 - 12h00
(atualizado às 12h03)
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Goebbels, à direita, é descrito por especialistas no nazismo como o responsável pelas estratégias de lavagem cerebral do regime alemão
Goebbels, à direita, é descrito por especialistas no nazismo como o responsável pelas estratégias de lavagem cerebral do regime alemão
Foto: Library of Congress / BBC News Brasil

Descrito por especialistas no nazismo como o responsável pelas estratégias de lavagem cerebral do regime alemão, entre os anos 1930 e 1940, o ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, tornou-se um dos temas mais discutidos pelos brasileiros após o secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, ter divulgado na noite de quinta-feira (16) um vídeo em que usou frases quase idênticas às de um dicurso do alemão.

"A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", disse Alvim.

Em 8 de maio de 1933, dois dias antes de promover uma grande queima de livros considerados impróprios pelo regime, Goebbels disse, segundo o biógrafo Peter Longerich:

"A arte alemã da próxima década será heróica, será de um romantismo ferrenho, será objetiva e sem sentimentalismos, será nacional com um grande pathos e será, ao mesmo tempo, igualmente obrigatória e vinculante, ou não será nada."

Frase de Alvim foi dita no vídeo de lançamento do Prêmio Nacional das Artes, divulgado pelos perfis oficiais da Secretaria Nacional de Cultura em redes sociais
Frase de Alvim foi dita no vídeo de lançamento do Prêmio Nacional das Artes, divulgado pelos perfis oficiais da Secretaria Nacional de Cultura em redes sociais
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

O alemão fez o comentário em pronunciamento a diretores de teatro. Já a frase de Alvim foi dita no vídeo de lançamento do Prêmio Nacional das Artes, divulgado pelos perfis oficiais da Secretaria Nacional de Cultura em redes sociais.

Quem foi, afinal, este homem a que Alvim parece ter feito referência em seu discurso?

Biografia

Paul Joseph Goebbels (1897-1945) foi um político nazista alemão e ministro da Propaganda do regime de Adolf Hitler, entre 1933 e 1945.

Goebbels foi o nazista responsável pelo ministério da Propaganda; Alvim diz que semelhança com discurso foi 'coincidência retórica'
Goebbels foi o nazista responsável pelo ministério da Propaganda; Alvim diz que semelhança com discurso foi 'coincidência retórica'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Goebbels filiou-se ao partido nazista em 1924 e, dois anos depois, foi promovido a líder distrital de Berlim. A partir daí, tornou-se mais próximo de Hitler, a quem era devoto.

Nos dias depois das vitórias eleitorais do partido em julho de 1932, Hitler informou Goebbels que ele pretendia colocá-lo como diretor do novo Ministério da Propaganda. Ele foi apontado em 1933.

O ministério tinha como objetivo fazer a população alemã obedecer os nazistas e adorar a Hitler. Para tanto, lançava mão de uma série de métodos diferentes.

"A educação nacional do povo alemão", escreveu Goebbels, segundo a Enciclopédia do Holocausto do Memorial do Holocausto dos EUA, "será colocada nas minhas mãos".

"Goebbels exerceu enorme influência", diz o texto. Cinema, rádio, teatro e a imprensa estavam sob sua tutela, e por ali ele transmitia a ideologia nazista enquanto censurava outras informações.

A pasta era dividida em sete departamentos: administração e jurídico; imprensa; rádio; filmes e censura; falas públicas, saúde, juventude e raça; arte, música e teatro; e combate à contra-propaganda.

"Aos 35 anos, Goebbels, o ministro mais jovem do novo gabinete, tornou-se indispensável ao regime de Adolf Hitler", diz o texto da enciclopédia.

Censura

Qualquer meio que transmitisse ideias antinazistas ou outros estilos de vida era censurado. O controle sobre jornais, rádio, cinema e teatro foi reforçado. Todos os jornais eram controlados pelo governo e só poderiam publicar textos favoráveis ao regime nazista.

'A arte alemã da próxima década será heróica (...) Ou não será nada', disse Goebbels; "A arte brasileira da próxima década será heróica (...) ou então não será nada", disse Alvim
'A arte alemã da próxima década será heróica (...) Ou não será nada', disse Goebbels; "A arte brasileira da próxima década será heróica (...) ou então não será nada", disse Alvim
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

Apenas livros que concordavam que os pontos de vista nazistas eram permitidos. Todos os outros livros foram banidos e muitos foram queimados publicamente a partir de maio de 1933.

Milhares de livros vistos como subversivos ou representativos de ideologias opostas ao nazismo foram lançados em grandes fogueiras. Isso incluía livros escritos por autores judeus, pacifistas, clássicos, liberais, anarquistas, socialistas ou comunistas.

O orador do evento foi Goebbels que, segundo seu biógrafo Longerich, declarou que "a era do pretenso intelectualismo judeu" havia acabado.

Na música clássica, obras de compositores judeus como Mendelssohn e Mahler foram banidos, e obras do compositor alemão Richard Wagner foram promovidas. Os nazistas eram grandes opositores do jazz, que eles referiam como "música de negros" e chamavam de "degenerada".

"Que músicos têm os ingleses que se comparam a Beethoven ou Richard Wagner, e que artistas podem apresentar os americanos que se comparam a Michelangelo ou Leonardo da Vinci? Eles falam de cultura humana. Nós a temos, e nos mantemos hoje como guardiões e protetores", afirmou Goebbels em um discurso em junho de 1943 na abertura de uma exibição de arte alemã.

O texto está disponível na página de Propaganda Nazista e do Leste Alemão da Calvin University, de Michigan, nos EUA.

Rádio

Goebbels e a filha Hilde durante uma festa para crianças na Alemanha nazista
Goebbels e a filha Hilde durante uma festa para crianças na Alemanha nazista
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Rádios eram vendidos por um valor barato para que a maior parte dos alemães pudesse tê-los.

Toda transmissão de rádio era controlada pelo ministério de Goebbels. Além disso, rádios com alto-falantes eram colocados pelos nazistas em lugares como cafés, fábricas, praças e esquinas de ruas para que todos pudessem ouvir a mensagem dos nazistas.

Grande parte das informações recebidas reforçava a mensagem da superioridade racial ariana, além de demonizar judeus e outros "inimigos" do regime.

Junto ao rádio, o uso de vídeos como recurso inovador para chamar a atenção das pessoas para a divulgação de conceitos nazistas foi uma das marcas da gestão de Goebbels à frente do ministério da Propaganda de Hitler.

Fotos de Hitler estavam por todas as partes, e ele era retratado como o salvador da Alemanha. Slogans simples foram usados para introduzir a ideologia nazista ao povo alemão: "Acabe com o comunismo", "Livre a Alemanha dos judeus", entre outros.

O símbolo da suástica aparecia em todos os uniformes do governo e prédios públicos. Além disso, o povo alemão tinha que se cumprimentar dizendo "Heil Hitler" com a famigerada saudação do braço levantado.

Demonstrações públicas em apoio ao nazismo envolviam música, discursos e demonstrações da força alemã. Todos os anos, uma grande demonstração acontecia em Nuremberg.

'Semblante cavalheiro'

Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, em 2016, a secretária pessoal de Goebbels, Brunhilde Pomsel, admitiu que entre suas tarefas estava "adulterar estatísticas reduzindo números oficiais de soldados mortos, bem como aumentar os índices de estupros de mulheres alemãs pelo Exército Vermelho".

Ao jornal, Pomsel descreveu o ministro nazista como "baixo, mas bem tratado", com um "semblante cavalheiro", sempre "com um bronzeado leve" e usando "os melhores ternos". Goebbels mancava por uma má-formação em um dos pés e por isso não foi lutou em guerras.

"Ele tinha mãos bem cuidadas, provavelmente fazia manicure todos os dias", disse a secretária.

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