Harry Potter, 20 anos: como livro de iniciante rejeitado por editoras se transformou no maior fenômeno mundial da literatura infantojuvenil
Série tramada por britânica J.K. Rowling em uma viagem de trem conquistou o mundo; confira oito razões que marcam seu legado formidável.
Dá para acreditar que já se passaram 20 anos do lançamento de Harry Potter e a Pedra Filosofal? Foi quando chegou às lojas o primeiro livro de Joanne Rowling, como era conhecida até então, que inventara a história do menino mago de óculos durante uma viagem de trem entre Londres e Manchester.
Ela terminou o manuscrito em 1995, boa parte dele escrito em cafés em Edimburgo, na Escócia, enquanto sua filha, ainda bebê, do primeiro casamento, dormia num carrinho.
Depois de muitas rejeições, o manuscrito foi finalmente aceito pela editora Bloomsbury. A primeira impressão de capa dura, lançada em 26 de junho de 1997, tinha apenas 500 cópias.
Então, algo mágico aconteceu. O primeiro livro - e os outros seis da série - venderam ao todo mais de 450 milhões de cópias ao redor do mundo.
Abaixo mostramos como o fenômeno Harry Potter jogou um feitiço na cena cultural das últimas duas décadas.
Ele fez crianças (e adultos) lerem
J.K. Rowling transformou o consumo de livros, especialmente para crianças, em algo próximo a um vício.
Quer uma prova? O lançamento no Reino Unido de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, em 1999, foi marcado para 15h45 para evitar que crianças e adolescentes na Inglaterra e no País de Gales faltassem a escola para ter uma cópia.
Os livros posteriores fizeram um megassucesso, e continuaram sendo devorados por crianças. A essa altura, já não era problema algum um adulto ser visto lendo livros da série - e vários deles foram lançados com capas mais compatíveis com o público mais maduro.
O lançamento dos livros ganhou manchetes: quando o quarto livro, Harry Potter e o Cálice de Fogo, saiu, em 2000, livrarias do mundo inteiro combinaram para coordenar o primeiro lançamento global, à meia-noite.
Quando Rowling recebeu um diploma honorário da Universidade de St. Andrews naquele ano, a instituição escocesa comentou que ela tinha provado que livros para crianças "ainda conseguem capturar e encantar uma imensa audiência, independentemente das atrações concorrentes da televisão, Nintendo, Gameboy e Pokémon".
Levou pessoas a escrever
Os livros do Harry Potter abriram caminho para toda uma gama de novas séries de ficção fantástica para jovens adultos.
Muitas delas foram chamadas de "o próximo Harry Potter", como Artemis Fowl, As Crônicas de Spiderwick e Desventuras em Série.
Será que teríamos Crepúsculo e Jogos Vorazes se Potter não tivesse dado o primeiro passo?
E não podemos esquecer do fenômeno da fanfiction - a ficção de fãs. A internet tem dezenas de milhares de histórias não oficiais sobre a vida em Hogwarts, os Dursleys e o que os gêmeos Weasley fazem em festas.
Deixou-nos a todo vapor com trens
Para uma geração de crianças que cresceu com Thomas e Seus Amigos e O Expresso Polar, houve de repente um novo e brilhante trem a vapor. Sim, o Expresso Hogwarts.
Nenhuma viagem para a estação de King's Cross em Londres é completa sem uma selfie na "Plataforma Nove e Três Quartos".
Introduziu novas palavras ao dicionário
Normalmente, um palavra nova em inglês tem que estar sendo usada há pelo menos dez anos para que sua inclusão seja considerada no Dicionário Inglês de Oxford, mas a palavra "muggle" criada por J.K. Rowling em Pedra Filosofal para se referir a pessoas "comuns" sem poderes mágicos, foi uma exceção.
O termo foi acrescentado ao dicionário em 2002, e refere-se a "uma pessoa sem habilidades, ou que é considerada inferior de alguma forma".
Mas suspeitamos que o "bufador de chifre enrugado" - criatura mágica indescritível do universo Potter oriunda da Suécia - pode demorar mais para chegar ao léxico.
Inventou um esporte
Nos livros, quidditch ou quadribol é um esporte mágico jogado com vassouras voadoras, e envolve "balaços", "goles" e um "pomo de ouro" - uma pequena bola com asas.
No mundo "real", quadribol é um esporte sem mágica, jogado com cabos de vassoura, e envolve balaços, goles e pomo de ouro - nesse caso, uma pessoa de camiseta amarela e uma cauda presa a seus shorts.
Surgiu nos Estados Unidos, por volta de 2005, e se tornou um esporte global com federação internacional. A Copa Mundial de Quadribol é realizada anualmente, e a Austrália levou o último campeonato.
Teve uma das maiores franquias de cinema
Até pouco tempo, os oito filmes de Harry Potter formavam a franquia de filmes de maior bilheteria da história, tendo acumulado US$ 7,7 bilhões (R$ 25 bilhões) no mundo.
O primeiro filme, Harry Potter e a Pedra Filosofal, foi lançado em novembro de 2001.
Além de quebrar recordes de bilheteria mais rápido do que uma viagem no "nôitibus andante", ele introduziu os jovens Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint ao mundo.
O filme final, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (2011), teve a maior arrecadação de todos os filmes da Potter, com US$ 1,34 bilhão (R$ 4,47 bilhões). É também a oitava maior bilheteria de todos os tempos.
A franquia - agora conhecida como "O Mundo Mágico de J.K. Rowling", continuou com o filme derivado da saga de Potter, Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016).
E há muito mais por vir. Rowling disse ter planejado os scripts para um total de cinco filmes da série.
Jogou seu feitiço também no teatro
A peça Harry Potter e a Criança Amaldiçoada foi lançada em Londres em 2016, sob o mesmo frenesi que envolveu o lançamento dos livros e filmes.
Vários do 1,5 mil fãs na noite de estreia, muitos vestidos de bruxas e feiticeiras, se encantaram com as várias revelações da trama e ilusões no palco.
A peça de dois atos começa com Harry, Ron e Hermione, todos na casa dos 30 e poucos anos, vendo seus próprios filhos indo para a escola de Hogwarts.
Os críticos amaram. Um escreveu: "O teatro britânico não conheceu nada igual nas últimas décadas e eu não vi nada comparável em todos os meus dias de crítica".
A peça ganhou um recorde de nove prêmios do prestigiado Olivier Awards - o Oscar do teatro londrino. A Criança Amaldiçoada vai estrear na Broadway, em New York, em 2018, e J.K. Rowling disse que gostaria de vê-la ao redor do mundo.
Ajudou a moldar a 'geração do milênio'
Milhões de pessoas chegaram à fase adulta sem nunca ter conhecido um mundo sem Harry Potter.
Muitos que cresceram com os livros agora podem ter doses regulares de J.K. Rowling pelas mídias sociais - ela tem um exército de quase 11 milhões de seguidores.
Quando Donald Trump foi comparado a Lord Voldemort ano passado, Rowling tuitou: "Que horrível. Voldemort não é tão ruim assim".
Em resposta, vários leitores ameaçaram queimar seus livros por conta de sua reação à Trump.
"A Pedra Filosofal foi o primeiro livro que eu li na vida", escreveu uma jovem leitora. "Eu estou chateada que tenha sido desta forma. Você me envergonhou, me enojou e eu jamais lerei o seu trabalho novamente", completou.
Rowling respondeu: "Acho que é verdade o que dizem: você pode fazer uma menina ler sobre a ascensão e a queda de um autocrata, mas você não consegue fazê-la pensar".
Vinte anos depois do primeiro livro, parece que ninguém vai dizer "Avada Kedavra" (o feitiço que causa a morte instantânea) a Harry Potter tão cedo.