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Iluminando a história negra e a resistência através da arte

4 out 2023 - 19h52
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Texto por Noushin Afzali 

Noushin Afzali é uma escritora e editora iraniana residente em Berlim. Sua pesquisa é focada em cultura e arte contemporânea, feminismo e estudos pós-coloniais. Ela é mestre (M.A.) em Estudos Culturais e Língua Inglesa.

Na pitoresca cidade de Saquarema, aninhada ao longo da vibrante costa brasileira, um pequeno estúdio ergue-se como um santuário de criatividade e narrativa. Em um dia ensolarado de maio, encontrei-me dentro de suas paredes adornadas com cortinas vermelhas e uma rede no meio balançando suavemente na brisa, desvendando a história de vida do artista afro-brasileiro, Mulambö. Nascido João da Motta em 1995, Mulambö é um nome a ser reconhecido na cena artística contemporânea brasileira. Com uma paleta poderosa dominada pelas cores vermelho, preto e branco, Mulambö mergulha no coração do patrimônio cultural do Brasil, usando o samba, o carnaval e o futebol para abordar questões urgentes de racismo, discriminação e resistência negra.

Foto: AUR

Desde pequeno, a fascinação de Mulambö por quadrinhos acendeu nele uma paixão pela ilustração. Hoje, em sua prática, materiais, objetos, símbolos e imagens ganham uma nova vida, transcendendo sua aparente banalidade. Ele explica:

"A sucata surgiu no meu trabalho como a única possibilidade que eu tinha no início da minha trajetória porque eu não tinha dinheiro para comprar materiais, telas, tintas e tudo mais". A engenhosidade o levou a pegar pedaços descartados de madeira e papelão encontrados nas ruas, usando tintas de materiais de construção em casa. Com o tempo, esses elementos tornaram-se uma escolha deliberada, uma maneira de incorporar o peso histórico e subjetivo que carregam em sua arte. 

Ao compartilhar sua arte no Instagram, ele rapidamente conquistou uma audiência crescente. Em novembro de 2018, sua primeira exposição marcou um ponto de virada, impulsionando-o para o centro das atenções da cena artística brasileira. Desde então, ele ascendeu à proeminência, exibindo em museus renomados no Brasil, como o MAR (Museu de Arte do Rio), MASP (Museu de Arte de São Paulo) e muitos outros.

Foto: AUR

Dentro do estúdio de Mulambö, as três cores dominantes de vermelho, preto e branco formam a base de sua expressão artística. Essas tonalidades evocam um senso de urgência, capturando a atenção e exigindo uma compreensão imediata. Através dessa escolha deliberada, Mulambö procura transmitir suas mensagens com clareza, garantindo que suas obras sejam acessíveis e compreensíveis à primeira vista.

Central para a prática artística de Mulambö estão os temas do samba, carnaval e futebol, que atuam como poderosos conduites para abordar as questões multifacetadas de racismo, discriminação e resistência negra. O samba, com seus ritmos contagiantes e energia vibrante, torna-se uma metáfora potente para a força e vitalidade da cultura afro-brasileira.

O Carnaval, uma celebração que temporariamente quebra normas sociais, revela os preconceitos enraizados que persistem na sociedade brasileira até os dias de hoje. E o futebol, a paixão duradoura da nação, torna-se um poderoso símbolo de unidade e um palco onde as lutas pela igualdade racial podem se desenrolar. "Eu uso esses temas para dar origem a outra narrativa, para que possamos assumir o protagonismo de nossas vidas novamente", afirma Mulambö.

Ao infundir objetos comuns com significado histórico, Mulambö entrelaça os fios do passado e do presente, borrando as fronteiras do tempo. Ele se inspira na casa de sua avó, reconhecendo que "não há museu no mundo como a casa da nossa avó". Essas relíquias carregam o peso de histórias, ressoando com as experiências daqueles que vieram antes de nós.

Além de suas buscas artísticas, Mulambö abriga um sonho sincero: estabelecer um centro cultural em Saquarema. Este centro proporcionaria às crianças a oportunidade de nutrir seus talentos criativos, garantindo a eles acesso a aulas de arte e promovendo o amor pela autoexpressão. É através dessa visão que Mulambö busca retribuir à sua cidade, oferecendo um espaço onde as futuras gerações possam prosperar e encontrar conforto no poder transformador da arte.

Para Mulambö, a decisão de se tornar um artista é um ato de resistência contra os sistemas opressores que persistem no Brasil. Ele afirma: "Minha decisão pessoal de me tornar um artista é, novamente, em si mesma, um ato de resistência, de lutar contra o sistema." Ao abraçar seu papel de contador de histórias, Mulambö honra aqueles que foram silenciados, amplificando suas vozes e dando-lhes uma plataforma para serem ouvidos.

A prática artística de Mulambö transcende as fronteiras da arte convencional. A cada pincelada, ele forja conexões entre passado e presente, convidando os espectadores a embarcar em uma jornada de autorreflexão e compreensão. Suas obras servem como um poderoso catalisador para a mudança, incentivando o diálogo, a empatia e a solidariedade.

AUR
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