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'Insatiable': críticas que acusam série da Netflix de gordofobia são justificáveis?

O trailer do novo programa do serviço de streaming foi condenado por mandar mensagem ruim sobre imagem corporal, mas o que dizem os críticos após assistir à temporada de estreia?

8 ago 2018 - 16h49
(atualizado em 10/8/2018 às 07h13)
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O trailer da nova série de comédia Insatiable, do Netflix, gerou uma grande reação negativa, com muitas críticas de que o programa envia uma mensagem ruim em relação à imagem corporal.

A premissa da série gira em torno da estudante Patty (Debby Ryan), que não é popular e está acima do peso. Ela busca se vingar dos colegas que a perseguiam e ridicularizavam na escola depois de voltar das férias mais magra.

Para alguns, o trailer, que estreia nesta sexta-feira, promove a gordofobia e reforça a noção de que mulheres precisam ser magras para ter sucesso na vida.

Mas, agora que os críticos tiveram a chance de assistir ao programa, essa reação se justitica?

'Reforça expectativas ridículas'

Arielle Bernstein, do jornal britânico The Guardian, diz que a série tem um ritmo acelerado e não se leva muito a sério.

"Mas seu pior aspecto, um que considero irremediável, é o fato de fingir que as mensagens que passa seriam para ajudar adolescentes a navegar um mundo cruel e a se sentirem melhores sobre si mesmos", escreveu Bernstein.

"Na verdade, Insatiable não está desfazendo as expectativas ridículas que recaem sobre as adolescentes; está meramente as reforçando."

Por sua vez, Lucy Dixon, do britânico The Independent, diz não ter visto nada de errado com a série.

"Você terá dificuldade de encontrar um personagem gordo em Hollywood que não seja um símbolo de virtude ou que esteja ali puramente por seu potencial para a comédia", escreve Dixon.

Depois de emagrecer, Patty quer se vingar dos colegas e se envolve com Brick
Depois de emagrecer, Patty quer se vingar dos colegas e se envolve com Brick
Foto: Netflix / BBC News Brasil

Ela também não achou controverso a atriz Debby Ryan usar uma roupa com enchimento na fase gorda de sua personagem.

"Seria melhor que Ryan ganhasse vários quilos e depois os perdesse, como fizeram [as atrizes] Charlize Theron ou Renee Zellwegger?", diz.

"Isso teria tornado a história mais palatável? Ou talvez seria preferível que uma atriz que já é gorda fosse escolhida para o papel e depois fizesse um regime épico?"

'Festival de gordofobia'

Carrie Wittmer, do site Business Insider, afirma que o programa "é tão enervante quanto seu trailer".

"A série pretende fazer uma crítica aos padrões de beleza por meio da sátira, mas se perde totalmente em meio ao seu conteúdo e personagens intencionalmente e incrivelmente ofensivos", escreve Wittmer.

"Insatiable usa clichês datados. Coloca seus personagens femininos uns contra os outros, faz piadas com estupro presumido e abuso sexual, e seu elenco está repleto de mulheres magras."

A editora-chefe do site BuzzFeed na Austrália, Jenna Guillaume, afirma que a série é um "festival de gordofobia" e que "odiou cada segundo".

Programa foi alvo de protestos e abaixo-assinado antes mesmo de sua estreia
Programa foi alvo de protestos e abaixo-assinado antes mesmo de sua estreia
Foto: Netflix / BBC News Brasil

Guillaume diz ter ficado "triste por estarmos em 2018 e pessoas gordas ainda serem tratadas como se fossem inferiores, algo monstruoso, como os vilões de suas próprias histórias".

Insatiable também é problemática por uma série de outras razões, argumenta Guillaume. "Para começar, a forma como Patty perde peso - ela recebe um soco no rosto e é obrigada a ficar com sua mandíbula fechada, o que a leva a fazer uma dieta líquida de três meses. Essa é realmente uma mensagem positiva que queremos passar para adolescentes em situação de vulnerabilidade", ironiza ela.

Se a intenção da série é descontruir o mito de que ser magro é o mesmo que ser feliz, afirma Guillaume, "uma forma muito mais subversiva e interessante de fazer isso seria contar a história de uma menina que - olhe só - permanece gorda e também é feliz".

'Mais estranho e pior do que parecia'

Caroline Framke, da revista americana Variety, diz que, após assistir aos 12 episódios da temporada de estreia, pode dizer que o programa é mais "estranho" do que parecia - e, de muitas formas, pior.

"Insatiable faz muitas piadas descoladas e espera que elas transformem o programa em uma sátira mordaz de como nossa sociedade ataca os mais vulneráveis - ou algo assim", escreve Framke.

"Mas, apesar de algumas tentativas tardias de colocar o barco no rumo certo, as tiradas da série ou seus personagens não são elaboradas o suficiente para transcender sua fundação construída sobre clichês."

Criadora do programa o defendeu e pediu que público "dê uma chance a ele"
Criadora do programa o defendeu e pediu que público "dê uma chance a ele"
Foto: Tina Rowden/Netflix / BBC News Brasil

Kevin Fallon, do site The Daily Beast, diz que Insatiable é "um duro exemplo de como as melhores intenções podem gerar os piores resultados".

"Insatiable é uma sátira deselegante imperdoável... Fracassa não só em mandar uma mensagem progressista sobre imagem corporal e peso, mas também com seus enredos sobre sexualidade, classes sociais, raça e aceitação de transgêneros."

Mas, apesar de tudo isso, a criadora e produtora-executiva da série, Lauren Gussis, defendeu a série. "Esse programa é um alerta sobre como pode ser danoso acreditar que o lado exterior é mais importante - julgar sem ir além disso. Por favor, deem uma chance a ele."

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