'Muito Pelo Contrário' ri das inseguranças dos casais após a pandemia de Covid-19
Emílio Orciollo Netto interpreta Rodrigo no monólogo escrito por Antonio Prata e em cartaz no Teatro Unimed, em São Paulo
Pouco mais de dois anos de pandemia depois – ainda contando – e a volta a um normal que não tem nada de novo, já nos afastamos o suficiente dos traumas emocionais que a Covid-19 nos gerou e podemos esboçar algum riso sobre nossas inseguranças. Ao menos é esse o convite da comédia Muito Pelo Contrário, de Antonio Prata, em cartaz no Teatro Unimed, em São Paulo.
O monólogo interpretado por Emílio Orciollo Netto conta a história de Rodrigo e Gabi, pais de primeira viagem que têm o bebê no mesmo período que a pandemia colocou todos para dentro de suas casas. Se a chegada de uma criança naturalmente já muda a dinâmica de um casal, a chegada de uma criança num contexto caótico de crise sanitária e sem qualquer chance de contato com o mundo externo potencializa o estrago.
"O que você vê ali são inquietações que muitas pessoas se identificam, porque estão aí. A gente fala de paternidade e maternidade real, é o dia a dia. Em função da pandemia, todas as emoções estão à flor da pele. (...) Na pandemia foi difícil para todo mundo, principalmente os primeiros meses, e o legal da peça é colocar aí para as pessoas questionarem e se divertirem ao mesmo tempo", avalia o ator, que é casado há 12 anos com a figurinista Mariana Barreto.
Provocar as pessoas a se questionarem não é mera sugestão do ator. Isso porque a peça traz à discussão o sentido de uma traição no contexto atual – de liberdades sexuais, da redescoberta da individualidade no pós-pandemia –; a necessidade de expor para o parceiro suas vontades, mesmo que elas impliquem em um relacionamento extraconjugal... E como, enfim, encaramos a possibilidade de que o parceiro também possa sentir desejo por outra pessoa.
Questões do mundo em desconstrução
Rodrigo, personagem interpretado por Emílio Orciollo Netto, até se orgulha de não ser apenas um "homem-cis-hetero-branco", mas também ser um bom marido e um bom pai, do tipo que lava a louça, recolhe a bagunça da criança, lava e passa as roupas da casa… Desejar outra mulher não seria um problema – muito pelo contrário.
Mas a crise de consciência do próprio personagem evidencia um dilema moral que a geração 35+ ainda não consegue resolver. Emílio diz se identificar com isso.
"Eu, particularmente, sou um machista em desconstrução. Sou da geração da culpa, do medo; dessa geração que é enraizada em todas essas questões. Estou nesse processo de desconstrução", revela o ator.
Pai do pequeno Lorenzo, de 5 anos de idade, Emílio Orciollo Netto reforça que Muito Pelo Contrário é a oportunidade que a arte tem de discutir questões do mundo em desconstrução que estamos vivendo. E, embora ainda se pegue enraizado a noções machistas apreendidas dessa sociedade patriarcal, o ator torce por um mundo mais livre, democrático e sem julgamentos para seu filho.
"Quero um mundo livre, quero que as pessoas sejam felizes, tenham a possibilidade de escolher o que elas querem fazer. É assim que cuido do meu filho e tento ter como conduta na minha vida. O espetáculo levanta essas questões", acrescenta.
Muito Pelo Contrário estreou no último dia 2 e segue em curta temporada até 9 de outubro no Teatro Unimed, em São Paulo. O espetáculo tem duração de 70 minutos. Às sextas e sábados, começa às 21h; aos domingos, às 18h. O preço dos ingressos varia de R$ 35 a R$ 90.
"Assistam à peça de coração aberto. Levanta muitas questões sobre relacionamento, paternidade e sexualidade, e levantar essas questões, conversar sobre isso, é sempre muito bom – independentemente do gênero e seja quem for, com quem for", reforça Emílio.